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O presidente russo, Vladimir Putin, está disposto, “se necessário”, a negociar com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, sobre o fim do conflito iniciado há quase três anos, de acordo com declaração do Kremlin, nesta terça-feira (18/2).
A Rússia reconheceu o direto soberano da Ucrânia de ingressar na União Europeia (UE), mas rejeita a entrada do país na Otan, a aliança militar ocidental. Representantes da diplomacia americana e russa estão reunidos em Riad, na Arábia Saudita, com o objetivo de restabelecer o contato entre Washington e Moscou, congelado desde a invasão da Ucrânia.
A presidência russa considera impossível solucionar a guerra que iniciou sem discutir questões de segurança na Europa de uma forma mais abrangente. “Um acordo de longo prazo, um acordo viável, é impossível sem uma revisão abrangente das questões de segurança no continente”, disse o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, a jornalistas.
“Quanto à adesão da Ucrânia à UE, este é um direito soberano de qualquer país”, afirmou Peskov. “Ninguém tem o direito de ditar a outro país como se comportar”, acrescentou. Porém, Peskov destacou que “é completamente diferente quando se trata de questões de segurança e alianças militares. Nossa abordagem aqui é diferente e bem conhecida”, conclui o porta-voz russo.
Fim do “gelo diplomático”
Essas declarações ocorrem no contexto de uma reunião entre o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o chanceler russo, Serguei Lavrov, em Riad, na Arábia Saudita, após três anos de gelo diplomático entre Washington e Moscou.
E também de uma reunião ocorrida nesta segunda-feira (17/2), em Paris, sobre as garantias de segurança exigidas pelos aliados de Kiev, excluídos das negociações anunciadas por Donald Trump e Vladimir Putin.
Segundo a Casa Branca, o encontro de Rubio e Lavrov no Palácio Diriyah, na capital saudita, busca restabelecer as relações entre Washington e Moscou, que espera progresso econômico dentro de no máximo três meses, após retomada de conversas com os americanos.
Essas são as primeiras discussões nesse nível e nesse formato desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. Porém, os Estados Unidos não veem a reunião como o início de uma “negociação” sobre a Ucrânia, mas sim como uma continuação da conversa telefônica entre Donald Trump e Vladimir Putin, que devem se encontrar em breve na Arábia Saudita, após excluírem Kiev e os europeus das negociações.
Marco Rubio está acompanhado do conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, e do enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff. Do lado russo, um conselheiro de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov, participa do encontro ao lado de Serguei Lavrov.
Progressos na economia
Alvo de pesadas sanções ocidentais por seu ataque à Ucrânia, a Rússia afirmou nesta terça-feira que espera um rápido “progresso” na parte econômica das negociações com os Estados Unidos. “Temos uma série de propostas que nossos colegas estão considerando. Acho que será possível alcançar progresso não em um futuro distante, mas nos próximos dois ou três meses”, disse Kirill Dmitriev, chefe do Fundo Russo de Investimento Direto e um dos representantes russos nas negociações russo-americanas.
“Não podemos revelar os detalhes”, ele acrescentou, antes de esclarecer: “Tudo o que posso dizer é que [os americanos] são muito bons em solucionar problemas. E acho que o presidente [Donald] Trump é um solucionador eficaz de problemas,” observou Dmitriev, que estudou nos Estados Unidos e trabalhou no banco Goldman Sachs e na agência de investimentos McKinsey.
“É muito importante construir pontes” entre os dois países, continuou Dmitriev, considerando que “as relações entre os Estados Unidos e a Rússia são muito importantes para a paz”.
Este ano, pelo menos 40% do orçamento federal russo deve ser gasto em defesa e segurança. O mercado de trabalho está bloqueado desde 2022 por centenas de milhares de homens que foram para o front ou se exilaram no exterior, e a inflação continua alta (quase 10%), apesar dos esforços do Banco Central (BCR) para contê-la.
Na contramão das expectativas russas, em entrevista à emissora Franceinfo esta manhã, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, disse que é preciso “aumentar o custo da guerra para Vladimir Putin”. Ele anunciou “uma nova rodada de sanções”, a 16ª, a partir de segunda-feira (24/2) “para forçar o presidente russo a sentar-se à mesa de negociações”.
Barrot explicou que as novas sanções terão como alvo principal “os recursos energéticos e, particularmente, os meios que a Rússia encontrou para contornar as sanções adotadas nos últimos anos”, citando navios que permitem a Moscou continuar vendendo petróleo sem se expor às sanções da União Europeia.
Papel da Árabia Saudita
O presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, viaja à Arábia Saudita nesta quarta-feira (19), país que fala com todas as partes em conflito. A visita de Zelensky foi planejada há muito tempo. O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, forneceu milhões de dólares em ajuda humanitária à Ucrânia desde o início da guerra e a diplomacia saudita desempenhou um papel importante nas trocas de prisioneiros com a Rússia.
O monarca também enviou sinais para agradar a Donald Trump, ao anunciar, em janeiro, um mega investimento de U$ 600 bilhões em empresas de tecnologia americanas nos próximos quatro anos.
No mundo árabe, a Arábia Saudita está envolvida na defesa dos palestinos. Até agora, foi o Catar, seu grande rival, que conduziu as negociações que levaram ao acordo de trégua entre Israel e o Hamas. Mas no momento de propor uma alternativa ao plano de Trump para a Faixa de Gaza, mais uma vez, a posição do reino saudita será determinante.
Com informações de Metrópoles.