Arquivo pessoal/Reprodução

Um projeto de lei nomeado “Eduardo Brazilino Queiroz” foi protocolado e apresentado na Câmara Municipal de Sumaré, no interior de São Paulo, na última sexta-feira (7/3), em memória ao adolescente de 13 anos que faleceu por febre maculosa em decorrência de um erro médico no ano passado. A lei busca capacitar profissionais e conscientizar a população sobre a doença — que é muito confundida com a dengue.

A iniciativa surgiu após Ianca Brazilino Queiroz, mãe da vítima, perder o filho mais velho, de 13 anos, no dia 15 de maio de 2024. Na ocasião, Eduardo teria sido diagnosticado com dengue — mesmo sem nunca ter sido testado para o vírus.

Após coleta de exame, o menino testou positivo para maculosa no dia 28/5, dias após a morte. Desde então, Ianca busca justiça e meios de homenagear o garoto que lutou durante sete dias contra a doença.

A lei

O projeto de lei consiste em aprimorar o atendimento, diagnóstico e tratamento da febre maculosa, visando garantir a precisão, eficácia e agilidade no manejo da doença. Segundo Ianca, a norma deve evitar que mais pessoas morram pela bactéria e Eduardo vire exemplo.

“Eu preciso honrar a memória do meu filho, eu acredito que o Eduardo morreu para salvar vidas”, explica a mãe.

Com a aprovação, os profissionais de saúde deverão seguir procedimentos definidos para o diagnóstico da enfermidade. Desde a triagem, enfermeiros deverão questionar os pacientes e/ou responsáveis sobre a exposição a áreas de proliferação da bactéria e contato com carrapatos.

Além disso, exames laboratoriais específicos devem ser solicitados, como hemograma completo, sorologia para Rickettsia spp, testes de função hepática e exames de imagem, para avaliação de complicações.

O projeto de lei aguarda tramitações de comissões da Câmara Municipal para votação e aprovação. O projeto é ideia de um amigo da família, vereador Professor Edinho, eleito em Sumaré.

Além disso, exames laboratoriais específicos devem ser solicitados, como hemograma completo, sorologia para Rickettsia spp, testes de função hepática e exames de imagem, para avaliação de complicações.

O projeto de lei aguarda tramitações de comissões da Câmara Municipal para votação e aprovação. O projeto é ideia de um amigo da família, vereador Professor Edinho, eleito em Sumaré.

Durante o atendimento com o doutor Adriano J. de Azevedo, a mãe informou o médico sobre os sintomas do filho e acrescentou que ele era asmático, além de ter talassemia (anemia crônica). Adriano perguntou se o jovem havia sido vacinado para dengue, e ele informou que não.

O médico indicou a possibilidade de dengue ou virose e solicitou um exame de sangue para avaliação. A mãe afirma que o profissional da saúde não examinou batimentos nem respiração.

Mais tarde, com o resultado em mãos, Eduardo retornou ao hospital e foi atendido pelo doutor Éder Renan. Ao ouvir novas reclamações de febre, calafrios e dor de cabeça, Éder reforçou a possibilidade de dengue, sem solicitar teste.

O garoto foi medicado e recebeu orientações de hidratação e repouso — comuns no tratamento para a dengue.

Negligência médica

No dia 11 de maio, Eduardo voltou ao PA com os mesmos sintomas, mas começou a apresentar manchas vermelhas pelo corpo. Dessa vez, ele foi atendido pelo médico Marcelo de Carvalho que, sem teste, afirmou o diagnóstico de dengue.

Sem entender as razões do diagnóstico sem comprovação, Ianca questionou Marcelo: “Doutor, o que acha de eu pagar um teste de dengue particular? Para confirmar se é dengue”. Negando qualquer dúvida, o médico descartou a necessidade do teste.

Marcelo receitou a mesma medicação para o garoto e reforçou as recomendações para dengue. Ele também pediu uma nova coleta de sangue para avaliação das plaquetas.

Família do menino desconfia de maculosa

Com novo hemograma, Eduardo voltou ao PA Nova Veneza com as mesmas queixas, além de diarreia e perda de apetite. Nesse momento o garoto pesava 47kg — dez quilos abaixo do normal.

Durante o atendimento com o doutor José Alberto, a mãe da vítima contou ao médico que, em casa, notou uma picada na coxa direita de Eduardo. Ao contar para a família, o cunhado da mulher suspeitou sobre a possibilidade de febre maculosa — doença infecciosa transmitida através da picada de um carrapato.

Ianca perguntou ao médico sobre a possibilidade de maculosa e informou ainda que o garoto gostava de pescar e frequentava ambientes de mato — meios de proliferação do vetor da doença. José Alberto perguntou ao menino se havia identificado algum carrapato, mas Eduardo negou.

Com isso, o médico reafirmou o diagnóstico de dengue. “Não, mãe. É dengue mesmo, se um carrapato tivesse picado, ele teria visto”, argumentou. O adolescente foi encaminhado para a medicação e, sem alta, deveria voltar ao consultório para reavaliação.

Antes do retorno, o médico foi embora. Por falta de doutor, Eduardo foi liberado por um enfermeiro.

Fase final da doença

No dia 13 de maio, cinco dias após os primeiros sintomas, o garoto amanheceu bem e parecia se recuperar. Contudo, à noite, Ianca notou que a criança não estava urinando e apresentava inchaço nos pés.

Cansado de hospitais, Eduardo se recusou a ir ao médico e passou a beber água para conseguir ir ao banheiro. Ainda segundo a mãe, nesse dia, o menino estava muito agitado e não conseguia dormir ou usar roupas.

Ele chegou a cochilar, mas acordou com coceira no corpo durante a madrugada do dia seguinte. Os pais pesquisaram sobre o sintoma e descobriram que é comum na fase de recuperação da dengue. A mãe fez compressas com água fria pelo corpo da criança, o que permitiu o garoto voltar a dormir.

Por volta das 7h da manhã, o pai de Eduardo notou que ele estava sangrando pela boca e convulsionando. Além disso, as pernas do jovem não dobravam — sintoma comum na febre maculosa.

Os pais correram ao pronto atendimento e foram recebidos pelo mesmo enfermeiro que liberou Eduardo dias atrás. O jovem apresentava glicemia zero, falta de ar e não falava, sendo internado em emergência pelos médicos.

O hospital não possuía estrutura para a internação e ele precisou ser transferido para a UPA Macarenko. Um teste rápido de dengue foi feito, mas os médicos não divulgaram o resultado aos pais.

Últimas horas

O jovem precisou ser entubado para conseguir manter a máscara de oxigênio e foi transferido novamente ao Hospital Estadual de Sumaré (HES). Por volta das 13h, Eduardo chegou ao HES, onde os médicos comunicaram que o “quadro era muito grave”.

O adolescente estava com hemorragias na barriga, pressão alterada e inchaços por todo o corpo. A mãe começou a perceber manchas roxas pelo corpo do garoto e questionou a doutora responsável, que afirmou “as manchas são da dengue, mãe”.

Na madrugada do dia 15 de maio de 2024, Eduardo parou. Às 5h30 da manhã, o menino faleceu por choque misto por dengue, conforme registrado em certidão de óbito. Antes do corpo do jovem sair para sepultamento, foi colhido um novo teste para dengue.

Erro médico e indignação

No dia seguinte, Ianca recebeu uma ligação da Vigilância Sanitária, que comunicou à mulher que Eduardo testou negativo para dengue. Sem chão, a mãe exigiu reuniões com a doutora Melina Chaves, responsável pela assinatura do certificado de óbito.

“Enterrei meu filho como dengue, acreditei no que todos falaram para mim. Dia 16 recebi uma ligação da Vigilância Sanitária, que me falou que Eduardo nunca teve dengue. O teste deu negativo e a médica atestou o óbito por dengue sem a certeza do diagnóstico”, lamentou.

Durante as conversas, Melina afirmou que não havia sido informada sobre o resultado negativo para dengue. A médica chegou a passar por inquérito policial e afirmou que o garoto chegou ao hospital já com o diagnóstico de dengue.

Eduardo deixou uma irmã mais nova, de 5 anos, que ainda não entende a morte do irmão. A mãe “Como eu explico para a irmã dele, que ele não está mais aqui? Ele era tudo para ela. Ele era nossa alegria aqui dentro de casa, é muito difícil”.

Denúncias e luto

Em junho do ano passado, Ianca reuniu todos os prontuários médicos e protocolou uma denúncia ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) e Câmara Municipal. A prefeitura decidiu abrir uma sindicância no dia 21 de junho de 2024, com prazo de 90 dias, mas até hoje não foi finalizada.

Segundo a prefeitura, o processo não foi finalizado devido a trocas na bancada política. Desde então, a mãe tem reuniões com secretários para cobrar o resultado da sindicância, que deve ser reiniciada neste mês de março.

Ianca também recorreu ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) e todos os médicos precisaram prestar depoimento na delegacia em inquérito policial. A intenção da mãe é denunciar os médicos e a promotoria aguarda resultado das sindicâncias.

“Eu não estou pedindo dinheiro, eu só quero justiça. Não é justo pela falha de humanos meu filho pagar com a vida. Meu filho não vai fazer uma faculdade, ele tinha sonhos”, suplica a mãe.

O que é a febre maculosa

A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por uma bactéria transmitida através da picada de uma das espécies de carrapato (carrapato-estrela). A bactéria não é transmitida diretamente de pessoa para pessoa pelo contato e seus sintomas podem ser facilmente confundidos com outras doenças que causam febre alta, como a dengue.

Conforme o Ministério da Saúde (MS), os principais sintomas da doença são:

  • Febre;
  • Dor de cabeça intensa;
  • Náuseas e vômitos;
  • Diarreia e dor abdominal;
  • Dor muscular constante;
  • Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
  • Gangrena nos dedos e orelhas;
  • Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões, causando parada respiratória.

Com informações de Metrópoles.

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