Uma iniciativa da Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (EST/UEA), que reutiliza de forma legal equipamentos eletrônicos apreendidos, receberá uma homenagem da Receita Federal, vinculada ao Ministério da Fazenda, no mês de maio, na cidade de Varginha (MG).

O reconhecimento nacional ocorre após a aprovação de dois projetos da EST/UEA no edital do programa ‘Além do Horizonte’, promovido em todo o país pela Receita Federal, que busca soluções sustentáveis para o reuso do equipamento chamado de TV Box, mais conhecido como TV Pirata ou ‘gatonet’.

Esse tipo de equipamento não pode voltar ao mercado por promover a pirataria de canais pagos, filmes e outros conteúdos restritos. Depois da apreensão pelos agentes, a Receita doa esses equipamentos para a EST/UEA, que são descaracterizados e reconfigurados para que a versão original não possa ser acessada.

Após a aprovação no edital da Receita, as pesquisas com a TV Box viraram um Programa de Extensão da EST/UEA, que seguirá até 2026, e que tem duas linhas de atuação. A primeira é transformar a TV Box em computadores educacionais de baixo custo para dez comunidades indígenas da etnia Baniwa no rio Içana, afluente do rio Negro na região de São Gabriel da Cachoeira (distante 852 quilômetros de Manaus).

O diretor da unidade, Prof. Dr. Jucimar Maia Júnior, destaca que a iniciativa é uma forma da academia colaborar para a democratização da tecnologia.

“Esse programa é uma forma da EST contribuir para o desenvolvimento de tecnologias sociais que geram impacto positivo em muitas comunidades isoladas do Amazonas. É a inovação usada para gerar conhecimento. Esse é o DNA da EST e da UEA. Com isso, estamos cumprindo uma das missões da nossa universidade que é promover o desenvolvimento do Amazonas por meio da educação, da ciência e tecnologia”, ressalta o diretor.

Para o reitor da UEA, Prof. Dr. André Zogahib, a iniciativa amplia o impacto social da universidade. “É com grande satisfação que recebemos esse reconhecimento da Receita Federal. A Escola Superior de Tecnologia tem desempenhado um papel fundamental na busca por soluções criativas e eficientes para desafios contemporâneos, e a reutilização de equipamentos eletrônicos apreendidos é um exemplo claro disso. Esse é o papel da UEA: transformar ciência e tecnologia em benefícios reais para a população do Amazonas”, diz o reitor.

Indígenas

O coordenador da parte do projeto que envolve os indígenas, Prof. MSc. Fábio Bassini, explica que a ação também tem um caráter social e de inclusão, já que o próximo passo após a descaracterização da TV Box é enviar, futuramente, os computadores para as aldeias.

“A ideia de usar a TV Box para a educação surgiu a partir do contato que nós tivemos em uma disciplina de Engenharia da Computação com lideranças indígenas. Então, pensamos na possibilidade de utilizá-la como uma CPU e, assim, poder organizar o material produzido pelos Baniwa. Montamos uma pasta de acervo para escolas de pelo menos dez comunidades indígenas. A direção da EST e a Reitoria da UEA são nossos parceiros e dão todo o suporte de interação entre a universidade e a Receita Federal”, afirma.

A iniciativa prevê, também, a tradução dos conteúdos dos computadores para a língua Baniwa. O aluno indígena Abílio Júlio Brazão estuda Medicina na UEA, em Manaus, mas participa do projeto e afirma que essa é uma forma de colaborar com a manutenção da cultura do seu povo.

“É um projeto que, possivelmente, vai ser de utilidade muito grande para a gente, para as nossas escolas indígenas. Minha função é traduzir de forma adequada, o material pedagógico do português para Baniwa, para que, dessa forma, os alunos indígenas possam ter fácil acesso na língua deles. A importância é registrar os nossos saberes Baniwa e dar importância à nossa cultura para que as crianças possam ver como são valorizados nossos conhecimentos”, enfatiza.

Auxílio à navegação

Além dos computadores de baixo custo, o programa da EST/UEA estuda a elaboração de sistemas coletores de dados atmosféricos e de navegação, com o objetivo de contribuir para a comunicação nas comunidades do interior do Amazonas.

Segundo o coordenador do Programa de Extensão de Descaracterização da TV Box, Prof. Dr. Edgard Luciano, a meta é desenvolver uma solução inovadora de monitoramento para os rios amazônicos, utilizando tecnologias de comunicação de redes sem fio.

“A ideia, basicamente, é ter, da parte de comunicação nos rios, a segurança de saber onde as embarcações estão por meio de trocas de dados. Se alguma embarcação está com algum problema, ela tem como pedir socorro, porque nos barcos você não consegue instalar antenas, por exemplo, como Starlink, já que estão sempre em movimento e não há como posicionar a antena para o satélite. E com esse equipamento de baixo custo, você consegue capturar os dados e transmiti-los pelos rios”, explica.

Formação

Egresso da UEA formado em Engenharia da Computação, Danilo Frazão atua no desenvolvimento desse sistema de comunicação sem fio após a descaracterização da TV Box. O engenheiro destaca que a EST/UEA foi fundamental para a sua formação profissional.

“Mudou a minha trajetória. A EST/UEA é uma instituição diferenciada porque os alunos não são abandonados após a formação. Geralmente, somos convidados para orientar os alunos dos projetos. É ajudando que a gente aprende. A UEA me moldou como profissional da área de tecnologia”, enfatizou.

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