
Uma denúncia feita por um ourives levou a Polícia Federal (PF) do Amazonas a deflagrar uma operação na última quarta-feira (19/3) contra um esquema criminoso de comercialização ilegal de ouro extraído de garimpos. Segundo as investigações, agentes da segurança pública estariam envolvidos na prática criminosa, facilitando o transporte e a revenda do metal precioso. As informações são do Metrópoles.
As diligências ocorreram em Manaus e contaram com a participação de 17 agentes da PF, que cumpriram dois mandados de busca e apreensão. A operação teve como foco uma organização criminosa que, de acordo com a PF, atuava em diferentes municípios, incluindo Boa Vista (RR), Humaitá (AM), Japurá (AM) e São Gabriel da Cachoeira (AM).
A apuração teve início em 2021, quando Fabrício dos Santos Gonçalves, ourives com 15 anos de experiência no setor de joias, procurou a Polícia Federal para relatar que vinha sendo abordado com frequência por policiais civis interessados em fracionar ouro oriundo de apreensões ilegais. O objetivo era facilitar a revenda do metal.
Conforme relatado por Fabrício, os policiais passaram a exigir valores mensais em troca do ouro fornecido, chegando a cobrar R$ 30 mil por mês. “Fabrício esclareceu que passou a sofrer cobrança e pressão psicológica por parte dos investigados, pois não conseguiu repassar os valores advindos da comercialização ilegal do ouro”, diz trecho da decisão da Justiça Federal que autorizou as ações.
As investigações revelaram que o ouro era retirado de apreensões realizadas por policiais civis e militares no interior do Amazonas e em Roraima. Em seguida, o metal era fracionado e transportado até São Paulo, onde era repassado a empresas para revenda. O deslocamento da carga ilegal era feito por via terrestre, fluvial e aérea, com apoio logístico de agentes da segurança pública, segundo a PF.
Análises financeiras e trocas de mensagens entre os envolvidos mostraram movimentações suspeitas. Entre março e outubro de 2021, aproximadamente R$ 1 milhão circulou entre Fabrício e integrantes do esquema. As transações eram registradas em agendas, fotos de anotações e áudios enviados por aplicativos de mensagem. Um dos policiais chegou a demonstrar preocupação com a contabilidade da quadrilha, temendo perder a confiança de outros membros.
A PF ainda apontou que o volume financeiro movimentado era incompatível com os rendimentos dos servidores investigados. Um deles teria movimentado mais de R$ 3 milhões em um único ano. Os valores eram repassados por meio de transferências eletrônicas e depósitos fracionados, tanto por Fabrício quanto por uma empresa ligada a ele.
Em março de 2024, o ourives retornou à PF para relatar que os policiais delatados continuavam a exigir pagamentos relacionados ao comércio de ouro ilegal.
Os investigados poderão responder por crimes como usurpação de bens da União, peculato, formação de milícia e organização criminosa, entre outras infrações.