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A nova Diretriz Brasileira para o Tratamento Farmacológico da Obesidade, apresentada pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), passa a priorizar o uso racional de medicamentos para perda de peso, como o Wegovy, Mounjaro e Saxenda, mesmo em pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) abaixo de 30, desde que tenham critérios avaliados clinicamente.

O documento, apresentado durante a abertura do Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica (CBOSM) 2025, reconhece a obesidade como uma doença crônica que requer cuidado contínuo. Além disso, ao contrário das abordagens anteriores, que focavam no IMC como indicativo da necessida

“Não é uma receita de bolo, mas um guia clínico construído com base em evidências e voltado à realidade brasileira. Ela respeita a individualidade do paciente e valoriza a decisão compartilhada”, afirma Fernando Gerchman, endocrinologista e membro do Departamento Científico da Abeso.

O documento conta com 35 recomendações baseadas em evidências científicas disponíveis e em consenso com 15 sociedades médicas.

O que muda com a nova diretriz?

A nova diretriz brasileira estabelece novos critérios para o diagnóstico de obesidade, recomendando o tratamento de pacientes com complicações relacionadas à obesidade mesmo com IMC abaixo de 30, considerando medidas como a circunferência da cintura e relação cintura/altura.

O documento recomenda, ainda, que o tratamento com medicamentos deve ser associado, desde o início, às mudanças no estilo de vida. Além disso, prioriza o uso de medicamentos com alta ou moderada eficácia para a perda de peso. É o caso da liraglutida (Saxenda), da semaglutida (Ozempic e Wegovy) e da tirzepatida (Mounjaro).

A nova diretriz recomenda o uso desses medicamentos mesmo que seja off-label, como o Ozempic e o Mounjaro, que são aprovados para o tratamento de diabetes tipo 2, mas já mostraram segurança e eficácia para a perda de peso em ensaios clínicos.

“Esses fármacos demonstraram benefícios significativos em grandes ensaios clínicos. A semaglutida, por exemplo, reduziu em 20% os eventos cardiovasculares em pacientes com obesidade e histórico de doença cardíaca. Já a tirzepatida mostrou, em estudo com pessoas com pré-diabetes, uma redução de 99% na incidência de diabetes tipo 2”, afirmou o diretor da Abeso, Alexandre Hohl, durante a apresentação.

Outro ponto recomendado pela nova diretriz é que as decisões sobre o tratamento devem ser feitas levando em conta padrões de comportamento, alimentos e as preferências dos pacientes, dando atenção a fatores genéticos, psicológicos, sociais e ambientais, além de outras características individuais.

“Identificamos que, ao classificar pacientes com base em comportamentos alimentares, conseguimos oferecer um tratamento mais direcionado e eficaz”, explica Gerchman.

Essa abordagem permite que os médicos selecionem os medicamentos de acordo com o perfil de cada pessoa, resultando em maior adesão. “O acolhimento e a escuta são fundamentais para o sucesso terapêutico. Precisamos ser parceiros dos nossos pacientes. Isso inclui ouvir as preferências, respeitar os objetivos e aplicar o tratamento mais eficaz possível dentro da realidade de cada um”, pontuou João Eduardo Salles, membro do Departamento Científico da Abeso, na apresentação.

A diretriz também contraindica fórmulas magistrais com substâncias não validadas ou potencialmente perigosas, como diuréticos e hormônios, e alerta que o tratamento da obesidade deve ser contínuo. “O que os estudos mostram é que, quando o medicamento é interrompido, o peso volta. A diretriz reconhece isso e recomenda a manutenção terapêutica com reavaliação constante”, explica o Marcio Mancini.

Outros destaques da nova diretriz

Entre outros pontos importantes da nova diretriz estão:

  • Metas realistas para perda de peso, considerando a redução do peso corporal de, pelo menos, 10% como alvo clínico relevante, com foco na melhora de comorbidades e qualidade de vida;
  • Pacientes idosos, pessoas com obesidade sarcopênica (relacionada à perda de massa muscular), apneia do sono, osteoartrose e doença hepática associada à obesidade agora têm recomendações específicas;
  • Atenção diferenciada para pacientes com câncer relacionado à obesidade e indivíduos com insuficiência cardíaca.

A apresentação da diretriz ocorreu em uma sessão especial do CBOSM 2025, e a publicação deve acontecer ainda no primeiro semestre deste ano.

Com informações de CNN Brasil.

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