
O município de Nova Olinda do Norte se prepara para viver, nos dias 1º e 2 de agosto, mais uma edição do seu tradicional Festival Folclórico, que tem no Boi de Chão seu principal símbolo cultural. Muito mais que uma disputa entre os bois Corre Campo e Diamante Negro, o evento tornou-se um movimento de valorização da identidade local e de resistência cultural.
Após um processo de ressignificação iniciado em 2023, o festival deixou de seguir o modelo de grandes arenas, como o de Parintins, para investir em uma estética e narrativa próprias, centradas na história, nas tradições e nos valores do povo novolindense. A iniciativa, apoiada pela Prefeitura Municipal, associações folclóricas e lideranças comunitárias, consolidou o Boi de Chão como uma expressão genuína da cidade.
As raízes do Boi de Chão estão na simplicidade: surgiram nas quadras das escolas e nas ruas, com crianças e professores criando bois a partir de pano, madeira e barro. O espetáculo sempre foi do povo — no chão, sem palco elevado, com brilho vindo da paixão e do improviso. Agora, esse sentimento ganha visibilidade e estrutura, com o apoio da gestão da prefeita professora Araci e do vice-prefeito Dr. Cristian Martins, que mantêm o compromisso com a cultura local.
Um festival com linguagem própria
Entre as mudanças que marcam essa nova fase, está a substituição de itens tradicionais por figuras mais conectadas à realidade amazônica. A Cabocla Ribeirinha ocupa o lugar da antiga Sinhazinha da Fazenda, representando a menina do interior ligada ao rio e à floresta. O Versador substitui o Amo do Boi, assumindo o papel de contador de histórias, com rimas, desafios e improviso que exaltam o boi e emocionam o público.
Na musicalidade, o ritmo predominante é a Ritmada, uma batida marcante, dançante e profundamente amazônica. As tribos são lideradas pelo Xamã, figura espiritual que conduz os rituais e simboliza a conexão entre tradição e sagrado. Os Povos Originários — como os Mura, Munduruku e Maraguá — são retratados com fidelidade, fruto de pesquisa e respeito à ancestralidade indígena do território.
Outro destaque é o surgimento da Etnia Coreografada, item que substitui os antigos grupos de apoio e que tem incentivado a juventude a se engajar no festival. Jovens e adolescentes de escolas públicas agora protagonizam as apresentações, marcando uma reapropriação da festa pelo povo da cidade.
Boi com alma da terra
Diferente de outros festivais que importavam artistas de fora, o novo modelo do Boi de Chão já apresenta resultados concretos: a maioria dos itens individuais são representados por artistas locais, e os grupos cênicos são compostos por moradores do município. A festa passou a refletir a alma de Nova Olinda do Norte — uma expressão viva de sua gente, suas histórias e seus valores.
Embora os módulos alegóricos estejam presentes, eles não têm pontuação direta, sendo usados como apoio visual para os itens de Ritual e Lenda Amazônica. O foco está no corpo, na voz e na interpretação — no chão, onde o boi nasceu.
Uma festa que é pertencimento
Mais do que um espetáculo, o Festival do Boi de Chão é hoje um movimento de pertencimento. A cada edição, o evento mobiliza escolas, famílias, artistas, professores e coletivos que se reconhecem na festa e constroem, juntos, um novo tempo para a cultura popular novolindense.
Como disse o Adenilson Lima Reis:
“O Nordeste tem o Bumba Meu Boi, Parintins tem o Boi-Bumbá, e Nova Olinda do Norte tem o Boi de Chão!”









