Mais de cinco meses após deixar a presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) continua exercendo forte influência nos bastidores políticos de Brasília. Alternando gestos de aproximação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o parlamentar voltou ao centro das articulações na última semana, mediando um acordo que destravou o funcionamento da Casa.

A crise teve início quando a oposição paralisou as atividades por dois dias em protesto contra decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Antes de se reunir com o atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), líderes oposicionistas buscaram Lira, que atuou para encerrar o impasse. No encontro, o deputado pediu que o bloqueio fosse encerrado e, em troca, se comprometeu a apoiar pautas defendidas pelos bolsonaristas, como o fim do foro privilegiado e a discussão sobre anistia aos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.

Lira também incluiu no pacote a chamada “PEC da Blindagem”, que prevê aval do Legislativo para abertura de investigações contra parlamentares e restringe prisões a casos de flagrante ou crimes inafiançáveis. A proposta, que encontrou resistência durante sua gestão como presidente da Câmara, agora ganha fôlego com o clima de embate entre oposição e STF e pode entrar na pauta da reunião de líderes desta semana.

Apesar de atender a demandas da oposição, a mediação também favoreceu o governo Lula, que agora tem a Câmara liberada para votar projetos prioritários, como a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil. O texto, relatado pelo próprio Lira, é considerado prioridade máxima pelo Palácio do Planalto e precisa ser aprovado até setembro para vigorar em 2026.

A movimentação política coincidiu com a indicação, por Lula, da procuradora de Justiça de Alagoas Maria Marluce Caldas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). A escolha reforça acordos no estado e envolve o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (JHC), sobrinho da indicada e aliado de Lira, que se comprometeu a não disputar as eleições de 2026, fortalecendo os planos do deputado para concorrer ao Senado.

O protagonismo de Lira no acordo com a oposição gerou comentários sobre possível enfraquecimento de Hugo Motta, que não participou diretamente das negociações. O atual presidente da Câmara, no entanto, minimizou a situação, afirmando que “momentos de tensão exigem união para construir consensos”.

Enquanto isso, o corregedor da Câmara, Daniel Coronel (PSD-BA), deve apresentar até quarta-feira (13) os pareceres sobre processos disciplinares contra 14 parlamentares que participaram da obstrução dos trabalhos. Caso aprovadas, as penalidades podem suspender mandatos por até seis meses.

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