“Temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia ou enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num [regime] semiaberto”, disse Eduardo.
Nesse cenário, segundo Eduardo, Bolsonaro não teria mais “amparo dos EUA”, conseguido a “duras penas”, “bem como estaria igualmente condenado no final de agosto”, em referência ao julgamento da trama golpista, marcado para o início de setembro.
Na época das mensagens, Trump chamou a ação penal de “caça às bruxas” e “uma desgraça internacional”, em publicação nas redes sociais, e ainda não tinha anunciado o tarifaço nem a sanção da Lei Magnitsky contra Moraes.
As declarações do deputado federal podem destravar as negociações dessa mesma “anistia light”, desta vez encabeçadas pelo centrão, que se mostra simpático à atenuação de penas para condenados pelos ataques na Praça dos Três Poderes, mas não à inclusão de Bolsonaro no pacote de medidas.
A avaliação de alguns líderes é que a movimentação deverá pressionar o PL a escolher entre “abandonar” a anistia pró-Bolsonaro ou se manter alinhado com Eduardo e perder controle da pauta.
“Os áudios colocaram o partido em uma posição muito ruim publicamente. Ficou explícito que o Bolsonaro não está interessado em anistiar as pessoas que foram presas sem se livrar junto”, disse à reportagem um líder partidário.
Nesse caso, passou a ser vista uma brecha para que outro partido possa aproveitar e propor um texto mais consensual e tirar a anistia da alçada do PL. Outro cacique partidário, em um raro aceno ao Supremo, citou a declaração do presidente da Corte, Roberto Barroso, na qual o magistrado diz: “Anistia antes do julgamento é uma impossibilidade”.
PL: conversas de Eduardo atrapalham
Integrantes do PL também sentiram a mudança de ares. Um dos interlocutores de maior trânsito da legenda disse à reportagem que as declarações de Eduardo, tornadas públicas pela PF, atrapalham a tramitação da anistia como um todo e minam os esforços da sigla.
Publicamente, o PL não abrirá mão de defender uma anistia “ampla e irrestrita” que beneficie Bolsonaro. O mote ficou mais forte depois da prisão domiciliar imposta ao ex-presidente e da pressão pelo “pacote da paz” feita pela oposição durante a ocupação dos plenários da Câmara e do Senado.
Eduardo Bolsonaro também tem pressionado publicamente pela anistia pró-Bolsonaro como a única saída às sanções de Trump e ataca aliados que tangenciam o tema ao tentar negociar com os Estados Unidos.
Internamente, porém, integrantes da cúpula do partido admitem que a inclusão de Bolsonaro no rol de beneficiados será voto vencido caso o projeto seja levado ao colégio de líderes ou até mesmo ao plenário da Câmara.