Foto de Márcio Amaral

Um conjunto de achados arqueológicos localizados no município de Fonte Boa, interior do Amazonas, revela os padrões de ocupação humana milenar na região do Médio Solimões.

De acordo com reportagem de autoria da jornalista Anne Silva, publicada na Revita Forum nesta quarta-feira, 22, os achados foram feitos em um sítio arqueológico batizado de Lago do Cochila, um complexo de ilhas artificiais que foram construídas pelos habitantes ancestrais da região, povos indígenas adaptando-se às inundações frequentes do território.

Entre os itens descobertos pelo trabalho de pesquisa conduzidos pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em conjunto com comunidades locais, foram classificados urnas funerárias com fragmentos de ossos humanos, além de ossos de animais aquáticos, como peixes e quelônios, que podiam se relacionar tanto a tradições ritualísticas quanto à alimentação dos locais.

As ilhas artificiais amazônicas são aterros construídos em áreas alagáveis, de várzea, edificadas pelas comunidades indígenas durante milênios para servir como assentamentos e locais de plantio. As construções encontradas estão dispersas entre as regiões do Alto e do Médio Solimões.

No Lago do Cochila, foram encontradas sete urnas cerâmicas enterradas a uma profundidade de 40 centímetros, sob os locais onde provavelmente havia casas ou plataformas importantes para as populações.

Segundo os relatos do Instituto, as urnas eram grandes e não estavam tampadas, o que sugere que eram seladas com materiais orgânicos já degradados ao longo do tempo.

Já as ilhas eram construídas a partir de fragmentos cerâmicos e outros detritos, o que lança luz sobre as técnicas de engenharia dos povos originários, que envolviam uma logística específica, como a instalação de plataformas de madeira elevadas por cipós para fugir das inundações, que ocorriam durante seis meses por ano.

Foto: Geórgea Holanda

“Essas ilhas artificiais são estruturas arqueológicas levantadas em áreas de várzea mais altas, com material removido de outras partes e misturado com fragmentos cerâmicos, intencionalmente posicionados para dar sustentação”, diz Márcio Amaral, arqueólogo que liderou as expedições, ao Instituto. “É uma técnica de engenharia indígena muito sofisticada, que mostra um manejo de território e uma densidade populacional expressiva no passado.” 

A existência das ilhas parece sugerir que a ocupação era permanente, com grau de organização social elevado.

As treze ilhas já descobertas podem se unir a outras ainda não identificadas, de acordo com os arqueólogos do instituto. “Esse número, que pode ser ainda maior, configura um padrão de ocupação em uma área mais ampla do que as ilhas encontradas no Marajó.”

Relatos de moradores da região afirmam que as ilhas artificiais ainda eram ocupadas entre o final do século 19 e o início do 20, por um grupo indígena “que teria sido dizimado pela varíola”, afirma o Instituto.

A idade dos fragmentos mais antigos encontrados nas ocupações é de cerca de mil anos — a cerâmica do estilo Hachurada Zonada.

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