Vista de um drone sobre uma favela em uma montanha no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, Brasil • REUTERS/Pilar Olivares

As periferias brasileiras estão na linha de frente da crise climática, mas continuam fora do circuito do financiamento. É o que revela o relatório “Diretrizes para a Filantropia Climática”, lançado pela Iniciativa PIPA.

Segundo o levantamento, 82,3% das organizações periféricas realizam ações ligadas à agenda climática, mas apenas 15,9% conseguem acessar recursos específicos de clima.

Ou seja, o estudo mostra que as periferias e favelas brasileiras já estão atuando no enfrentamento da crise climática, com ações concretas como hortas comunitárias, reflorestamento e redes de apoio durante enchentes. Apesar disso, essas comunidades, que estão na linha de frente dos impactos e das soluções, ainda recebem pouco ou nenhum apoio financeiro — seja de governos, empresas ou fundos internacionais.

A pesquisa ouviu 113 organizações de base de todas as regiões e biomas do país, com um recorte qualitativo mais detalhado em 20 coletivos do Recife (PE), onde foram mapeadas práticas locais de adaptação e tecnologias sociais voltadas à justiça climática.

Desigualdade racial e territorial

O relatório evidencia o que a PIPA define como racismo ambiental: a concentração dos efeitos da crise climática sobre corpos e comunidades historicamente marginalizados.

Segundo os dados, 85,8% dos moradores das periferias são pessoas negras, 54% são mulheres e 67,3% são jovens — os mesmos grupos que lideram e sustentam ações de enfrentamento nos territórios.

Mesmo assim, 52% das organizações atuam de forma informal, sem CNPJ, o que as impede de concorrer em editais e acessar os principais fundos de doação.

O estudo destaca que essa informalidade não é falta de ação, mas consequência de barreiras burocráticas e exclusão histórica das estruturas institucionais de financiamento.

O levantamento mostra que as organizações de base já realizam uma ampla gama de ações de adaptação e mitigação climática, mesmo com recursos limitados.
Entre as principais práticas estão:

  • Mapeamento participativo de áreas de risco e sensores comunitários para alertas de inundação;

  • Bioconstruções e moradias adaptadas ao calor, com uso de telhados verdes e materiais ecológicos;

  • Hortas urbanas e sistemas agroecológicos para combater a insegurança alimentar;

  • Reflorestamento, proteção de nascentes e denúncias ambientais;

  • Redes solidárias de doações e abrigos comunitários.

Três diretrizes para um financiamento mais justo

O documento propõe três caminhos principais para redesenhar o financiamento climático no Brasil, tornando-o mais acessível e efetivo para as comunidades que vivem os impactos da crise no dia a dia:

  1. Geopriorização dos recursos, para que o dinheiro chegue primeiro aos territórios mais vulneráveis;

  2. Criação de um mecanismo público de monitoramento das doações climáticas, com transparência e rastreabilidade;

  3. Protocolos ágeis de repasse emergencial, permitindo respostas rápidas a enchentes, ondas de calor e outros eventos extremos.

Participação na COP30

Durante a COP30, em Castanhal, região metropolitana de Belém, a Iniciativa PIPA e o Coletivo MIRÍ — formado por jovens da zona rural do município — vão apresentar oficialmente, na próxima quarta-feira (12), os resultados do relatório “Diretrizes para a Filantropia Climática”.

Além da apresentação, as duas organizações participarão de mesas e articulações com lideranças nacionais e internacionais ao longo do evento.

O Coletivo MIRÍ atua com arte, cultura, tecnologia e educação ambiental, desenvolvendo ações de coleta seletiva, combate ao desmatamento e mobilização comunitária em Castanhal e territórios vizinhos.

Com informações de CNN Brasil.

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