
Os combustíveis fósseis drenaram parte do capital político da presidência brasileira nos últimos meses, mas o esforço diplomático esbarrou na dura realidade econômica.
Em Belém, o recado foi claro: o mundo ainda não está pronto para desligar as máquinas que nos trouxeram até aqui. E, assim, a COP30 explicitou que a transição energética continua refém do dinheiro do petróleo.
Para compreender esse impasse global, não é necessário olhar para longe. Basta examinar o quintal – ou melhor, o mar – do anfitrião. O Brasil de 2025 encarna, com precisão cirúrgica, as contradições do planeta Terra.
Nas últimas duas semanas, diplomatas brasileiros agiram como nunca para costurar um compromisso de redução da dependência fóssil.
O argumento era claro: essa é a energia que mais polui, e uma transição desordenada será infinitamente mais cara e instável do que um declínio planejado. A ministra Marina Silva liderou o discurso, tentando vender a ideia de que a “ordem” no abandono do petróleo é tão vital quanto o abandono em si.
No entanto, a proposta naufragou nas salas de reunião bem refrigeradas de Belém. E a ironia é que os argumentos usados pelas potências globais para derrubar o plano são os mesmos ouvidos nos corredores de Brasília para defender a exploração da Margem Equatorial.
O governo Lula vive esse dualismo, essa incongruência: advoga pela descarbonização no palco, mas, na prática, segue com o petróleo como uma prioridade nos bastidores e principalmente nas contas.
A exploração de novas fronteiras de óleo e gás não é apresentada como um projeto de futuro, mas como uma necessidade fiscal — uma “vaca leiteira” indispensável para financiar a própria revolução verde.
A lógica do “mal necessário” prevaleceu. Sem os royalties do petróleo, argumentam os pragmáticos de Brasília, não há capacidade econômica para subsidiar eólicas, solares ou hidrogênio.
Ao final, a COP30 expôs a realpolitik climática.
O Brasil defendeu a necessidade urgente de um antídoto para a febre do planeta. É um remédio amargo e caríssimo. E o mundo respondeu a esse plano: a única forma para pagar a conta é continuar vendendo o veneno.
Com informações de CNN Brasil.







