A esteatose hepática é popularmente conhecida como gordura no fígado - Foto:Mohammed Haneefa Nizamudeen/Getty Images

O fígado, a maior glândula do corpo humano e essencial para a desintoxicação, enfrenta uma nova e crescente ameaça: a Doença Hepática Esteatótica Associada à Disfunção Metabólica (MASLD), popularmente conhecida como gordura no fígado. Anteriormente considerada um “mal menor”, a MASLD superou o álcool e as hepatites virais como a principal causa de danos hepáticos graves e complicações, incluindo o câncer de fígado.

A MASLD é caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura no órgão, que, ao ultrapassar 5% de seu volume, podem inflamar e prejudicar seu funcionamento. A doença está intrinsecamente ligada ao sobrepeso e à obesidade, à resistência à insulina, ao diabetes tipo 2, ao colesterol alto, a uma dieta rica em açúcar e gordura, ao sedentarismo e ao estresse — fatores que também foram identificados como contribuintes para a resistência à insulina e o diabetes tipo 2. O excesso de gordura abdominal, a inflamação e o sono irregular também são gatilhos importantes.

Risco Crescente e Progressão Silenciosa

Atualmente, a MASLD afeta cerca de 30% da população mundial e, segundo projeções médicas, pode se tornar a principal causa de transplante de fígado até 2030. Cerca de 20% dos pacientes com MASLD desenvolvem inflamações crônicas que levam à fibrose, cirrose, câncer e, em estágios avançados, falência hepática.

O hepatologista Jean Tafarel, do Hospital Universitário Cajuru, destaca que, ao contrário do que se pensava, o câncer de fígado hoje está cada vez mais associado à MASLD devido às crescentes taxas de obesidade. “O grande problema da MASLD é que ela evolui de forma silenciosa. O fígado sofre em silêncio e, muitas vezes, o diagnóstico só acontece quando já há inflamação ou fibrose”, alerta Tafarel.

Além das complicações hepáticas, indivíduos com MASLD enfrentam um risco duas vezes maior de desenvolver doenças cardiovasculares, como infartos, insuficiência cardíaca e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
Por Que a MASLD É a Nova Prioridade?

A ascensão da MASLD como principal preocupação reflete o sucesso no controle de outras doenças hepáticas. A vacinação e novos tratamentos reduziram significativamente a incidência e a mortalidade das hepatites virais, enquanto a queda no consumo abusivo de álcool (com internações atribuíveis ao álcool reduzidas pela metade entre 2010 e 2023, segundo o CISA) diminuiu os casos de doenças hepáticas alcoólicas.

Com esses avanços, a gordura no fígado, antes subestimada, revelou seu potencial devastador. “Durante muito tempo se acreditou que a esteatose não traria consequências sérias, mas hoje sabemos que pode evoluir para cirrose e até para câncer de fígado. O cuidado preventivo é essencial”, conclui o hepatologista.
Prevenção e Tratamento

O tratamento e a prevenção da MASLD focam no controle das causas metabólicas. Manter um estilo de vida saudável, com controle de peso, alimentação equilibrada (evitando alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar e gordura), prática regular de atividade física, gerenciamento do estresse e boa higiene do sono são medidas cruciais. É fundamental controlar a pressão arterial, o açúcar no sangue e o colesterol para evitar a progressão da doença e proteger o fígado.

Com informações de Metrópoles

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