
A Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio de sua Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), reclassificou dois herbicidas de uso comum no Brasil – atrazina e alachlor – como “provavelmente cancerígenos para humanos” (Grupo 2A). A conclusão, publicada em 21 de novembro na revista The Lancet Oncology, baseia-se em dados epidemiológicos, estudos em animais e mecanismos biológicos que indicam relação com o desenvolvimento de tumores.
A atrazina, um dos herbicidas mais utilizados na agricultura brasileira, foi submetida a uma reavaliação completa. Os pesquisadores encontraram evidências ligando sua exposição a um subtipo de linfoma não Hodgkin, especialmente em casos com alterações genéticas específicas. Em testes com animais, o composto provocou um aumento consistente na formação de tumores, além de estresse oxidativo, inflamação, alterações hormonais e impacto no sistema imunológico – mecanismos associados a agentes cancerígenos.
O alachlor, também amplamente empregado no país, mostrou associação com câncer de laringe em estudos com aplicadores de pesticidas. Modelos animais apresentaram resultados semelhantes, reforçando seu potencial tumorigênico. Assim como a atrazina, o alachlor interfere em processos celulares essenciais, como proliferação e morte celular, contribuindo para o risco identificado.
Outro composto avaliado, o fungicida vinclozolin, foi classificado como “possivelmente cancerígeno” (Grupo 2B), devido a evidências mais limitadas em humanos.
Implicações para o Brasil e o Debate sobre Agrotóxicos
A nova classificação reacende o debate sobre o uso intensivo de agrotóxicos no Brasil, especialmente considerando que atrazina e alachlor já são proibidos na União Europeia. Pesquisadores e entidades de saúde defendem a necessidade de o país revisar limites de exposição, rotulagem, proteção de trabalhadores rurais e monitoramento da contaminação da água e dos alimentos.
A presença desses produtos no solo e nos rios, somada ao grande volume de aplicação, amplifica a preocupação com os impactos ambientais e os efeitos de longo prazo na saúde da população. O estudo da OMS enfatiza que políticas públicas mais rigorosas podem ser decisivas para reduzir danos e orientar a adoção de alternativas menos tóxicas na agricultura. A organização ressalta que, embora a classificação não determine o nível de risco individual, ela oferece uma base científica robusta para decisões regulatórias e medidas de proteção à saúde pública.
Com informações de Metrópoles










