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Durante a gravidez e nas primeiras semanas após o parto, é comum que mulheres experimentem pensamentos indesejados, frequentemente assustadores, sobre danos ou perigos ao bebê. Conhecidos como “pensamentos intrusivos”, essas ideias surgem de forma abrupta, angustiante e são contrárias aos valores e desejos da mãe, causando intenso desconforto. Um artigo publicado na revista Science Advances ressalta a importância de reconhecê-los como uma ferramenta para entender e prevenir transtornos de ansiedade e depressão no período perinatal.

O ginecologista e obstetra Rômulo Negrini, coordenador materno-infantil do Einstein Hospital Israelita, explica que esses pensamentos, como “e se o bebê cair?” ou “e se eu o sufocar sem querer?”, são caracterizados por seu aparecimento “do nada” e por não refletirem uma intenção real, mas sim medo e hipervigilância. Eles se diferenciam da preocupação normal da maternidade e, quando persistentes, geram evitamentos ou impedem o cuidado com o bebê, configuram um sinal de alerta.

Prevalência e Causas

Estudos indicam que entre 70% e 100% das mães relatam ter essas intrusões mentais. Metade delas, pelo menos uma vez, tem ideias de dano intencional. No entanto, muitas mães evitam compartilhar esses pensamentos por medo de julgamento. Por isso, é fundamental que profissionais de saúde abordem o tema de forma aberta e normalizadora, garantindo que a mãe compreenda que ter pensamentos intrusivos não a torna perigosa.

A pesquisa aponta que esses pensamentos são resultado da combinação de vulnerabilidades individuais e fatores ambientais. As intensas mudanças hormonais (estrogênio, progesterona, cortisol), a privação de sono no puerpério, o isolamento social, o medo de não conseguir lidar com as novas responsabilidades e a falta de apoio pós-parto são elementos que favorecem o surgimento das intrusões.

Sinais de Alerta, Tratamento e Prevenção

É crucial buscar avaliação imediata se houver impulsos repetitivos, ideias de agir, evitação do bebê ou ansiedade tão intensa que comprometa o cuidado. Nesses casos, a recomendação é procurar atendimento de saúde mental, acionando emergência se houver risco.

O tratamento varia conforme a gravidade. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes, muitas vezes adaptada ao contexto perinatal. Casos mais graves podem requerer medicamentos antidepressivos compatíveis com a amamentação, sempre sob acompanhamento psiquiátrico. Além disso, é essencial garantir suporte emocional, reduzir o estresse e melhorar o sono da mãe.

Para a prevenção, as consultas de pré-natal devem incluir triagem para ansiedade e histórico de transtornos prévios, além de envolver o parceiro ou familiares no planejamento do suporte pós-parto. Negrini conclui: “Cuidar da saúde mental da mãe é cuidar da saúde do bebê e de toda a família”.

Com informações de Metrópoles

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