
Ela é mais do que uma estrada. É um fio de esperança que tece a ligação entre o isolamento e o mundo, entre o potencial e o progresso. A BR-319 não é um projeto, é uma promessa de vida para quem habita a vastidão amazonense. É o asfalto que significa acesso a saúde, educação, mercados e dignidade. É o elo terrestre que garante soberania e integra o país em sua própria carne verde.
Mas essa estrada, vital e sonhada, tornou-se refém de um ritual político tão previsível quanto vazio. A cada eleição, surgem os espectros do oportunismo, aqueles que descobrem, como por milagre, a importância dessa obra. Políticos de todos os quadrantes, que em outros momentos trataram o tema com negligência, vestem-se agora com a capa de paladinos do desenvolvimento. Sobem em palanques, fazem caravanas, erguem a bandeira da estrada e prometem, com voes inflamadas, a redenção sobre o asfalto.
É uma dança de fantasmas. Eles falam em progresso, mas sua única obra é a retórica. Prometem asfalto, dignidade, mas entregam apenas discursos. Exploram o anseio legítimo de um povo por integração, transformando uma necessidade urgente em moeda de troca eleitoreira. A estrada avança não no mundo real, mas nos bordões de campanha, esburacada de boas intenções que se desmancham no primeiro temporal da política real.
A crítica não é ao asfalto. Jamais. A crítica é à politicagem que rodeia este projeto essencial. É à hipocrisia de quem se apresenta como empreiteiro do futuro, mas não consegue nem aprovar o orçamento para a presente fiscalização. É o cinismo de quem usa a esperança de milhões como slogan barato, para depois abandonar a obra à própria sorte e ao assédio da ilegalidade que a incerteza atrai.
O povo do Amazonas não precisa de heróis de quatro anos. Precisa de gestores sérios. Precisa de um pacto de Estado que transcenda partidos e personagens. Precisa que a BR-319 seja construída com planejamento, com responsabilidade ambiental e com a seriedade de quem entende que não se trata de uma faixa de terra, mas da artéria principal de um pedaço do Brasil que deseja crescer sem perder sua essência.
Que próximo cenário eleitoral a pergunta não seja se um candidato é a favor da estrada. A pergunta real é: qual o seu plano para terminá-la? Como vai garantir os recursos, a fiscalização e a governança? Como vai fazer, de fato, para que o asfalto chegue ao seu destino final?
O futuro da Amazônia exige mais do que discursos. Exige ação. E a BR-319 é o teste definitivo para saber quem trabalha pelo progresso real e quem apenas comercia com ilusões.
Meus versos de repúdio aos falsos profetas.







