
Muita gente acredita, quase como uma certeza, que a estrela solitária posicionada no ponto mais ao norte da Bandeira Nacional simboliza o Distrito Federal. A associação parece lógica: afinal, Brasília é a capital do país e não é um estado. No entanto, essa interpretação é incorreta.
A origem do equívoco está na popular expressão de que “as 27 estrelas representam os 26 estados e o Distrito Federal”. Isso leva muitos a pensar, de forma quase automática, que a estrela isolada no topo da bandeira se refere à capital. Mas a verdade é outra — e envolve história, astronomia e um pouco de geografia.
Nos últimos dias, essa dúvida voltou a ganhar força nas redes sociais, reacendendo discussões sobre o real significado das estrelas da bandeira. Para esclarecer a confusão, especialistas foram ouvidos pelo g1, e revelam um cenário bem mais interessante e simbólico.

O estado do Pará é representado pela estrela cravejada acima da faixa de Ordem e Progresso na bandeira — Foto: Veronica Medeiros/g1 Arte
O céu que deu origem à bandeira
A atual bandeira do Brasil foi criada em 19 de novembro de 1889, apenas quatro dias após a Proclamação da República. Naquela manhã, às 8h30, o céu do Rio de Janeiro — então capital do país — serviu de inspiração para o posicionamento das estrelas no novo símbolo nacional.
Segundo o professor Jaime de Almeida, historiador da Universidade de Brasília (UnB), as estrelas representam nove constelações visíveis naquele horário e local. A intenção era retratar o céu como se fosse visto de fora da esfera celeste, como nos globos usados por astrônomos — um detalhe que ajuda a explicar por que as constelações aparecem invertidas em relação à visão da Terra.
O Pará no topo da bandeira
A estrela solitária no topo da bandeira não representa o Distrito Federal, mas sim o estado do Pará. E o motivo é geográfico: em 1889, o Pará era o maior território brasileiro acima da linha do Equador. Por isso, ele foi simbolicamente colocado acima da faixa branca com o lema “Ordem e Progresso”.
Na época, estados como Amapá e Roraima ainda não existiam — faziam parte do próprio território paraense. Somente mais tarde, com a reorganização territorial, surgiriam como unidades federativas independentes.
E onde está o Distrito Federal?
Embora não esteja no topo, o Distrito Federal tem, sim, seu lugar na bandeira. Ele é representado pela estrela Sigma do Octante, localizada na parte inferior do círculo azul. Essa estrela tem um brilho discreto, mas um simbolismo poderoso: é a mais próxima do polo sul celeste, ponto em torno do qual todas as estrelas do hemisfério sul parecem girar.
Essa posição reforça a ideia de centralidade do Distrito Federal — como se todos os estados orbitassem em torno da capital da República.
Da Monarquia à República: evolução da bandeira
A bandeira brasileira já passou por mudanças desde sua criação. Em 1889, o país contava com apenas 21 unidades federativas. À medida que o território foi se transformando, novos estados e o próprio Distrito Federal foram sendo criados, exigindo atualizações no número de estrelas.
A última modificação aconteceu em 1992, quando o número total chegou a 27 — cada uma representando uma unidade da federação. Segundo o professor Jaime de Almeida, o design manteve elementos históricos das bandeiras anteriores, como as cores verde e amarela e a presença de estrelas, mas abandonou os símbolos da monarquia, como a coroa imperial.
Estrelas que contam a história do Brasil
As estrelas da bandeira nacional são mais que decoração — são parte da identidade histórica do país. Elas formam nove constelações reais, visíveis do céu do Rio de Janeiro no momento em que a República nasceu. São elas:
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Cruzeiro do Sul
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Escorpião
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Cão Maior
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Cão Menor
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Triângulo Austral
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Virgem
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Carina
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Hidra Fêmea
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Octante
Apesar de críticas de alguns astrônomos quanto à precisão do posicionamento, o Brasil é um dos poucos países do mundo cuja bandeira representa, com data e hora definidas, um campo celeste real — algo raro e simbólico entre as nações.
Um símbolo vivo da República
A bandeira brasileira, com seu céu estrelado e lema positivista, é muito mais do que um emblema nacional: é um retrato simbólico do país no exato instante de sua transformação política. Entender os significados por trás de cada estrela é compreender também parte da nossa história, geografia e identidade.
Com informações de G1










