Joilson Souza

Joilson Souza

Assim como a floresta amazônica obedece a ritos de germinação, esplendor e decomposição, a política regional manifesta ciclos análogos. As figuras do passado Gilberto Mestrinho, Amazonino Mendes, Fábio Lucena assemelham-se a árvores monumentais, cujas raízes nutriram o solo institucional. Mestrinho, o boto navegador, como a chuva forte de verão, irrigou o imaginário popular com ações e gestos espetaculares, criando fertilidade para mitos políticos. Amazonino, com sua personagem ” Abelhinha” compara-se a um solo em transformação,fez polinização, converteu essa energia em estruturas: rompeu o igapó do centralismo e estendeu veios de estradas e energia para o interior Canoas motorizadar as populares rabetas, o terçado foi substituído pela roçadeira, o machado pelo motoserra.

Lucena, por sua vez, foi a samaúma centenária, tronco sólido de conhecimento, cujos discursos elevavam-se como copas, fundindo técnica e poesia para proteger o dossel, nutrindo assim seu solo, as tribunas da democracia.

O presente, contudo, revela uma paisagem distinta. Onde antes havia raízes profundas, observa-se vegetação rasteira, capim em pleno verão amazônico,seco, gestões pragmáticas que calculam sombras, mas não semeiam árvores. O governador atual assemelha-se ao formigueiro laborioso, tenta ser organizado, meticuloso na defesa do território, mas incapaz de transcender a lógica do chão.esta aí por uma falha populista.

O prefeito de Manaus age como a flor-de-carnaúba: espetáculo efêmero de cores vibrantes, adaptada às estações do marketing, o atleta, porém de raiz curta e ciclo breve. Ambos cumprem funções ecológicas, mas não alteram o ecossistema.

A extinção da eloquência política é sintomática. Se Lucena personificava o rio de discurso caudaloso, navegável, irrigando pensamentos complexos, hoje predominam igarapés fragmentados, cheio de lixos, igual esses da capital: águas rasas de slogans digitais, que saciam sede imediata, mas não alimentam aquíferos. O silêncio que paira onde antes havia oratória não é ausência; é o ruído de folhas secas sendo revolvidas por ventos superficiais.

Ciclos políticos, como os da floresta, não se repetem decompõem-se e recombinam-se. O “Terceiro Ciclo” de Amazonino foi a última grande estação de frutos. O populismo de Mestrinho, decompondo-se, nutriu o pragmatismo atual. A oratória de Lucena, ao extinguir-se, liberou carbono para novas formas de comunicação, mais rápidas e menos nutritivas.

A lição reside na observação do solo: sistemas que privilegiam folhagem sobre raízes produzem paisagens verdes, mas estéreis. A política contemporânea, eficaz em sobreviver, falha em plantar sementes. Quando a última samaúma cair e cairá, restará perguntar se as novas sementes saberão, um dia, crescer tanto em altura quanto em profundidade.

Não julgo ninguém, faço uma analogia da política atual.

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