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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou ontem a nova política industrial do país com promessa de financiamentos e subsídios de R$ 300 bilhões até 2026. Segundo o BNDES, deste total, R$ 250 bilhões serão mobilizados pelo banco. O programa também prevê uma política de obras e compras públicas, com incentivo ao conteúdo local (exigência para compra de fornecedores brasileiros).
Em entrevista ao GLOBO, o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, lembra que quase o mesmo valor que está sendo anunciado em investimentos na nova política industrial é o que o país precisa, até 2026, para chegar ao superávit primário. Para ele, o equilíbrio fiscal também é importante para o crescimento da economia.
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O economista observa ainda que não foram trazidas medidas novas no texto e não há métricas para saber se as metas serão cumpridas e vão funcionar.
O que achou das medidas da nova politica industrial para o país?
Tirando coisas pontuais relacionadas a prazo de patentes, a política de investimento em educação, de qualificação, que é sempre necessário, o texto do governo para a nova política industrial “é mais do mesmo”.
Trata-se de um conjunto enorme de programas, com prazos muito curtos para entregar resultados, sem nenhuma métrica de como avaliar de fato se esses programas vão ser bem encaminhados ou não.
E em relação ao total de recursos?
É uma quantidade muito grande de recursos que está sendo colocada para ser gastos nesse período, num momento em que o governo, para chegar na superávit primário em 2026, precisa de R$ 350 bilhões. Está se falando em gastos públicos que serão feitos ao longo dos próximo anos para estimular a indústria, diretos ou de financiamento, da ordem de R$ 300 bilhões.
Mas há alguma novidade?
É um cenário de volta ao passado. É a mesma ideia do PT de fazer esse investimento para a economia crescer. Na visão deles, isso geraria retorno em termos de arrecadação e se resolve o problema fiscal lá na frente. Mas é preciso lembrar que a política industrial que foi feita com intensidade lá atrás não funcionou. Vimos resultados muito precários e negativos que aconteceram ao longo do tempo na indústria.
O que o governo poderia ter feito?
Ao invés de fazer essa quantidade enorme de proposições, a primeira coisa que o governo deveria ter feito com intensidade, no ano passado, era avaliar as políticas industriais dos últimos 15 anos no país e destacar o que efetivamente funcinou ou não. E não teve nada disso. A política industrial do país precisaria de uma nova roupagem e novos caminhos para que os investimentos funcionem.
Entre economistas, e o próprio governo citou a China e os Estados Unidos, há o discurso de que outros países estão estimulando suas indústrias depois da quebra da cadeia de insumos na pandemia. O que você acha?
O discurso do governo de que a China e os Estados Unidos fizeram planos para estimular suas indústrias é equivocado. A China cresceu muito porque houve uma migração absurda de sua população da zona rural para a urbana e ela conseguiu aproveitar isso, diz Vale, lembfrando que o Brasil, também teve esse movimento nos anos 50 e 70, e aproveitou em termos de crescimento. Crescer dessa forma é fácil.
A China está tendo dificuldades de crescer por falta de produtividade e certamente não vai poder continua com estímulo à sua politica industrial com a mesma intensidade do passado. E os Estados Unidos fez política industrial e está pagando um preço de uma situação fiscal totalmente desequiilbrada neste momento. E vai ter que repensar o modelo e fazer um ajuste enorme lá na frente.
O problema de polítcas desse tipo é a situação fiscal negativa que sempre surge e é ignorada. A China vai precisar crescer cada vez mais por produtividade e ter espaço para o setor privado e não público na economia. E, no caso americano, houve muita repercussão fiscal negativa, com um preço que é a taxa de juros elevada. Os americanos têm um cenário muito desafiador de como resolver essa questão.
Com informações de O Globo