A entrada do prédio da Previ-Rio (Crédito: Fabio Motta / Prefeitura do Rio)

A discussão sobre a troca no comando da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, aguarda decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e é tratada, no Palácio do Planalto, como um ponto crítico. Interlocutores de Lula enxergam no tema um enorme potencial para trazer à tona um passado de denúncias de corrupção envolvendo a gestão de fundos de pensão geridos por petistas. Em um momento em que o presidente luta para melhorar sua popularidade e a avaliação de seu governo, tudo o que ele não precisa é ressuscitar suspeitas de fraudes que chegaram a ser investigadas pelos Ministério Público e que levaram petistas à prisão.

Um exemplo traumático para o PT foi a Operação Greenfield, deflagrada pela Polícia Federal em 5 de setembro de 2016, que chegou a denunciar, em 2019, 26 investigados por suspeita de rombo na previdência complementar dos fundos da Caixa Econômica Federal (Funcef), da Petrobras (Petros) e dos Correios (Postalis).

Foi nesse contexto que Lula não gostou nada de saber que João Luiz Fukunaga, presidente da Previ, teria feito uma viagem ao Japão junto com Tiago Cedraz, filho do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz. nessa jornada, Tiago teria participado de agendas profissionais do dirigente do fundo. Após ser avisado por petistas sobre a viagem, Lula considerou que a proximidade entre eles poderia prejudicar a credibilidade que se exige para um gestor de um fundo tão importante.

Mas quem é Tiago Cedraz? Filiado ao Solidariedade, ele ajudou o deputado Paulinho da Força (SD-SP) a fundar o partido, chegando a atuar como secretário-geral da sigla. Em 2015, Tiago foi alvo de uma busca e apreensão da Polícia Federal, após ter sido citado na delação premiada do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, como suspeito de ter sido beneficiário de recursos em troca de informações privilegiadas do TCU.

Fukunaga é filiado ao PT e já presidiu o Sindicato dos Bancários de São Paulo. Mesmo no partido, há pessoas que não defendem sua permanência, embora acreditem que não haja problemas com sua gestão. “Até porque não se toma decisão sozinho em um fundo desses. Ele é só mais um voto”, disse um petista ao PlatôBR. No governo e o no PT,  a atitude de Fukunaga tem potencial para ser um desastre para a imagem do presidente, pois qualquer suspeita em relação ao fundo remeteria a investigações passadas.

Somado ao desagrado de Lula com o comportamento de Fukunaga, outro ponto tem ajudado a aumentar a tensão na gestão do fundo: há duas semanas, o TCU (Tribunal de Contas da União) decidiu abrir, em caráter de urgência, uma auditoria para apurar supostos prejuízos na Previ. A investigação foi solicitada pelo ministro Walton Alencar Rodrigues e determinada pelo presidente da Corte, ministro Vital do Rêgo. Rodrigues justificou o pedido num suposto “prejuízo de cerca de 14 bilhões de reais” no Plano 1, o maior da entidade, com um patrimônio de cerca de R$ 240 bilhões e 106 mil associados admitidos até 1997, 97% aposentados ou pensionistas.

Segundo dados divulgados pela própria Previ, a entidade registrou em 2024 um déficit de R$ 17,6 bilhões, o que consumiu o superávit de R$ 14,5 bilhões do ano anterior e gerou um saldo acumulado deficitário em R$ 3,1 bilhões. O desempenho ruim, segundo a Previ, se deu em função da volatilidade do mercado de ações que afetou as participações que a Previ tinha na carteira. No ano passado, o Ibovespa (índice da bolsa de valores no Brasil) teve um desempenho negativo de mais de 10%. Somente as ações da Vale, empresa que representa cerca de 15% dos investimentos da entidade em renda variável, caíram 23% ao longo de 2024 diante das incertezas sobre o crescimento do setor imobiliário chinês e da queda do preço do minério de ferro.

Como a Previ não precisou vender suas ações para pagar suas obrigações com os aposentados, o prejuízo não foi realizado e ainda pode se reverter em 2025, se o mercado de ações ajudar. Por isso, até mesmo os petistas que não apoiam a permanência de Fukunaga negam qualquer rombo a ser investigado. “O que houve foi uma variação comum da flutuação de ações”. Segundo um interlocutor oficial, em 2021 aconteceu a mesma coisa e a Previ continua honrando seus compromissos de pagamento de benefícios sem ter que se desfazer de ativos nem realizar prejuízo. Por isso, para envolvidos nas conversas internas no governo, causou estranheza as acusações feitas à gestão atual. Esse observador destaca que a Previ, assim como a Vale, sempre movimenta grandes interesses políticos, dentro e fora do governo, e que debates conduzidos dessa forma devem ser analisado com muita cautela.

A reportagem do PlatôBR procurou a diretoria da Previ por meio da assessoria de imprensa, mas não obteve resposta até a publicação. O espaço continua aberto para manifestações do fundo e do presidente.

Com informações de PlatôBR

Artigo anteriorCasa Branca minimiza vazamento de conteúdo confidencial: “Nada sério”
Próximo artigoDeputada Mayra Dias solicita adoção de medidas preventivas para garantir repasses à Rede Acolher no Amazonas