Foto: Rede Amazônica

A Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas no Amazonas (ABRACRIM-AM) divulgou uma nota de repúdio na última quinta-feira (6) contra o que classificou como afrontas ao livre exercício da advocacia durante a Operação Roque, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em Manaus. A ação resultou na prisão de quatro advogados acusados de integrar o núcleo jurídico do Comando Vermelho (CV) no estado.

De acordo com a nota, a PF teria violado domicílios e escritórios de advogados sem a presença da Comissão de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), exigência garantida pelo Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/94). “Essa irregularidade afronta diretamente a inviolabilidade do local de trabalho do advogado e compromete a legalidade das diligências”, afirmou a entidade.

A ABRACRIM também criticou a divulgação de imagens, nomes e dados pessoais dos profissionais, o que, segundo a entidade, gerou “indevida criminalização da advocacia” e tentou “manchar a reputação de toda a classe”. A associação defendeu que as prerrogativas da advocacia não são privilégios, mas instrumentos de proteção do cidadão e do Estado Democrático de Direito.

“A ABRACRIM reafirma que não compactua com condutas ilícitas, mas repudia veementemente qualquer abuso de autoridade ou ato que viole prerrogativas da advocacia”, destacou a nota, acrescentando que a entidade tomará medidas institucionais cabíveis para apurar responsabilidades.

Operação Roque e o envolvimento com o Comando Vermelho

A Operação Roque é um desdobramento da Operação Xeque-Mate, deflagrada em outubro, que investigou a cúpula do Comando Vermelho e o esquema de lavagem de dinheiro da facção no Amazonas.

Segundo a PF, os advogados presos — Alisom Joffer Tavares Canto de Amorim, Gerdeson Zueriel de Oliveira Menezes, Janai de Souza Almeida e Ramyde Washington Abel Caldeira Doce Cardozo — teriam utilizado suas prerrogativas profissionais para repassar ordens, bilhetes e dinheiro entre líderes presos e traficantes em liberdade.

As investigações apontam que o grupo auxiliava na logística do transporte de drogas oriundas da Colômbia, na lavagem de dinheiro e na comunicação entre os chefes do CV no Amazonas e outros estados. A polícia identificou ainda que os advogados atuavam como intermediários em represálias, negociações e movimentações financeiras da facção.

O superintendente da PF no Amazonas, delegado João Paulo Garrido, explicou que as investigações revelaram um elo direto entre o núcleo jurídico e o comando da facção.

“Os criminosos se articulavam por meio de troca de mensagens e visitas a presídios para impactar decisões estratégicas e promover repasses financeiros”, afirmou Garrido.

A PF cumpriu quatro mandados de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão em endereços residenciais e profissionais na capital amazonense.

O principal alvo das operações, Alan Sérgio Martins Batista, o “Alan do Índio”, apontado como chefe do Comando Vermelho no Amazonas, permanece foragido. Segundo a PF, ele estaria usando identidades falsas e teria passado por cirurgias plásticas para dificultar o reconhecimento.

A OAB-AM foi acionada para acompanhar a operação e informou que vai se pronunciar oficialmente após a conclusão das diligências. A entidade ressaltou que eventuais violações às prerrogativas serão apuradas e encaminhadas à Justiça.

Confira a Nota

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