Ricardo Stoppe Junior se apresentou na Polícia Federal de Araçatuba (SP)

O empresário Ricardo Stoppe Júnior, co-proprietário do grupo Ituxi, entregou-se à Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (7). Júnior era considerado foragido e é suspeito de envolvimento em um esquema criminoso de grilagem de terras, legalização de madeira e geração de créditos de carbono em áreas pertencentes à União.

A PF iniciou a Operação Greenwashing na quarta-feira (5), cumprindo quatro dos cinco mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça Federal no Amazonas. A investigação é conduzida pela PF em Rondônia. Além de Stoppe Júnior, foram presos Elcio Aparecido Moço, José Luiz Capelasso, Ricardo Villares Stoppe e Poliana Capelasso. No total, a polícia executou buscas em 22 empresas, com base em 76 mandados de busca e apreensão.

Durante a operação, documentos foram recolhidos em quatro cartórios de registro de imóveis no sul do Amazonas, na superintendência do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e na Secretaria de Terras do Estado do Amazonas (Sect/AM).

O grupo Ituxi, que atua na região de Lábrea, sul do Amazonas, é o principal alvo da investigação. Esta região é uma das mais desmatadas e degradadas da Amazônia ocidental. De acordo com a investigação, o esquema de créditos de carbono, vendidos a grandes empresas, inclusive multinacionais, movimentou R$ 180 milhões. A grilagem de terras, legalização de madeira e os créditos de carbono envolvem um montante de R$ 1,6 bilhão.

Avião foi apreendido durante Operação Greenwashing em Birigui (SP) — Foto: Polícia Federal/Divulgação

Em nota divulgada na quarta-feira, o grupo Ituxi afirmou que ainda não teve acesso aos autos da investigação. “Assim que a Justiça autorizar a liberação do conteúdo das denúncias, a empresa irá se manifestar publicamente”, declarou o grupo.

Stoppe Júnior se entregou à PF em Araçatuba (SP). Outros suspeitos estão presos em diferentes localidades: dois em Manaus e um em Porto Velho.

A investigação da PF também mira três projetos de geração e venda de créditos de carbono, desenvolvidos em parceria com a Carbonext. Esta empresa se apresenta como a maior geradora de créditos de carbono no país a partir da proteção da Amazônia. A Carbonext, no entanto, não foi alvo de mandados de busca ou prisão e afirmou, em nota, que é apenas prestadora de serviços e não faz regularização fundiária. “A Carbonext não é alvo da operação Greenwashing. Se as acusações contra os alvos da operação forem comprovadas, a Carbonext também figurará como vítima e tomará oportunamente as medidas judiciais cabíveis.”

Entenda o Caso

O esquema investigado envolveu a grilagem de áreas da União totalizando 538 mil hectares. Uma perícia da PF confirmou que as áreas são terras públicas, avaliadas em R$ 800 milhões. Parte das terras griladas está na Floresta Nacional do Iquiri e em glebas públicas não destinadas.

As fraudes para viabilizar a grilagem ocorreram ao longo de mais de dez anos. Segundo a PF, títulos de propriedade foram duplicados e falsificados, dados falsos foram inseridos em sistemas públicos com a participação de servidores e responsáveis técnicos. As atividades se expandiram para as regiões de Apuí (AM) e Novo Aripuanã (AM), também no sul do Amazonas, nos últimos três anos.

A organização criminosa supostamente cooptava agentes em cartórios para transformar terras públicas em “privadas”. Em seguida, planos de manejo eram utilizados para legalizar a madeira extraída de áreas protegidas, como terras indígenas. Com a área original preservada, surgiam projetos de créditos de carbono em terras griladas.

Os créditos eram gerados em projetos desenvolvidos em parceria com a Carbonext, certificados pela empresa internacional Verra e vendidos a multinacionais interessadas em compensar suas emissões de gases de efeito estufa. Entre as empresas que compraram créditos do grupo Ituxi estão Boeing, Gol, iFood, Toshiba, Itaú, Ecopetrol, Nestlé, Spotify e PwC. A PF trata essas empresas como vítimas. (Informações da Folha de S. Paulo)

Segundo avião apreendido durante a Operação Greenwashing em Birigui (SP) — Foto: Polícia Federal/Divulgação
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