
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), elevou significativamente a pressão sobre a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF) e afirmou a aliados ter até 60 votos para rejeitar o nome escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As informações são da Folha de S.Paulo.
Segundo o próprio Alcolumbre, mesmo que o governo consiga mobilizar apoios de última hora, ele pretende encurtar o tempo da votação secreta para dificultar que Messias alcance o mínimo de 41 votos favoráveis exigidos pela Constituição. A estratégia, segundo congressistas, deixa explícito o desgaste entre o presidente do Senado e o Palácio do Planalto.
Sessão acelerada e disputa por quórum fazem parte do plano
Alcolumbre confidenciou a aliados que o governo terá de “correr” para garantir o registro dos votos antes do encerramento da sessão. A postura contrasta com votações recentes conduzidas por ele, como a aprovação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, quando esperou mais de 70 senadores votarem.
Para assumir uma cadeira no STF, o indicado precisa de pelo menos 41 votos entre os 81 senadores. Qualquer número inferior representa rejeição — algo que não ocorre desde o final do século 19, quando cinco indicações do então presidente Floriano Peixoto foram barradas.
Ambiente político tenso após votações apertadas
A aprovação de Paulo Gonet na semana anterior, que durou apenas 16 minutos e terminou por margem apertada (45 a 26), acendeu alertas no governo. Embora o Planalto atribua o placar à ausência de quatro senadores governistas, o episódio reforçou que Messias enfrentará um ambiente hostil.
A sabatina e a votação do indicado foram marcadas por Alcolumbre para 10 de dezembro, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com análise no mesmo dia — um prazo considerado curto pelos aliados de Lula.
Crise política reacende disputa entre poderes
Segundo a Folha, Alcolumbre tem repetido que, apesar de a indicação ao STF ser prerrogativa presidencial, cabe exclusivamente ao Senado validar ou rejeitar o nome. A frase tem sido interpretada como um recado direto ao governo, em meio a um clima de tensão crescente.
Nos bastidores, articuladores do Planalto avaliam que Lula deve abrir diálogo direto com Alcolumbre. Há possibilidades de negociação envolvendo cargos estratégicos, como presidências no Cade, na Agência Nacional de Águas (ANA) e na CVM. A equipe econômica, entretanto, tenta blindar essas nomeações e defende critérios técnicos.
A escolha para o STF, por sua vez, é tratada como inegociável, já que abrir mão dela significaria enfraquecer uma prerrogativa presidencial essencial.
Messias busca apoio e tenta retomar diálogo com o Senado
Jorge Messias tem intensificado a aproximação com parlamentares, por telefone e presencialmente. Ele ouviu de senadores que sua situação é “delicada” devido ao conflito político entre Alcolumbre e o governo federal.
Para amenizar resistências, Messias tem reforçado que não deve ser penalizado por uma crise que não protagoniza e lembra que no passado mantinha boa relação com Alcolumbre, quando atuava como assessor do Senado. A ruptura recente entre Alcolumbre e o senador Jaques Wagner (PT-BA) também contribuiu para o distanciamento.
Uma nota pública de Messias elogiando Alcolumbre, divulgada na segunda-feira (24), irritou o presidente do Senado, que respondeu com um texto frio, sem citar o nome do indicado — gesto que aumentou a percepção de desgaste.
Governo tenta ganhar tempo diante de resistência sólida
Governistas discutem recorrer ao regimento para tentar adiar a sabatina e contam com o apoio do presidente da CCJ, senador Otto Alencar (PSD-BA), para ampliar o prazo. Nos bastidores do Planalto, há o reconhecimento de que a indicação abriu uma crise institucional com o Senado.
O desfecho dependerá da capacidade do governo de garantir o quórum necessário e da velocidade com que os senadores registrarem seus votos. Enquanto Lula tenta consolidar apoios, Alcolumbre trabalha para manter a maioria contrária e acelerar o processo.










