Na manhã seguinte, entre os sons da escola acordando, senti algo diferente. Cada passo pelos corredores, cada livro aberto, cada sorriso silencioso era uma confirmação: o amor pelo conhecimento se espalha como vento suave, invisível, mas sentido por todos que se deixam tocar.
— Professor, você acha que a gente também pode inspirar outros a aprender? — perguntou Lucas, segurando um caderno cheio de perguntas e rabiscos.
— Sempre — respondi, com voz baixa e firme —. Cada pessoa que se apaixona pelo saber carrega uma faísca que pode acender muitos outros corações. Ensinar é contagiar curiosidade, e aprender é transformar o mundo aos poucos.
Sentei-me sozinho no final do corredor, olhando as salas agora vazias, imaginando cada semente de curiosidade lançada. Pensei na minha primeira professora, na carta antiga, nas perguntas e olhares que me marcaram para sempre. E percebi que o amor platônico que um dia guardava em segredo se transformou em algo muito maior: não é paixão efêmera, não é lembrança dolorida. É chama que atravessa gerações.
No quadro, invisível para os alunos que já haviam saído, escrevi mentalmente: “O amor que inspira a aprender não se limita ao tempo; ele atravessa a vida, se espalha em cada pergunta, cada descoberta, cada gesto de atenção. É o que faz do professor um jardineiro de futuros e do estudante um guardião do mundo”.
Ao sair pelo portão, percebi que a noite também aprendia comigo: as estrelas pareciam repetir em silêncio as lições do dia, como se o céu fosse um grande caderno onde a vida escreve suas verdades. E pensei que ensinar é isso — deixar que cada gesto se inscreva no mundo, para que outros possam ler, reler e reinventar a esperança.
Enquanto caminhava, lembrei-me de que a verdadeira escola não tem paredes nem muros; ela acontece no olhar que escuta, na palavra que acolhe, no abraço que fortalece. Ensinar e aprender são, afinal, dois nomes de um mesmo movimento: o da humanidade que se reconhece e se recria no encontro com o outro.
Antes de fechar a porta da escola, respirei fundo e sorri. A herança de um amor silencioso se revelava agora no brilho de tantos olhos atentos, nas mãos que escreviam, nas vozes que perguntavam, nos corações que se deixavam tocar pelo saber. Um amor antigo, transformado em luz, que nunca deixa de ensinar.
Deitei-me naquela noite com o coração leve, sabendo que tudo o que aprendi com o amor platônico, o silêncio, a admiração, a paciência, a reverência pelo conhecimento, continuaria a florescer em cada estudante que ousasse se apaixonar pelo saber. E então, finalmente, compreendi: ensinar é amar. Amar é ensinar. E o amor, silencioso e generoso, é o maior legado que se pode deixar no mundo.
Luís Lemos é professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar” (2011), “O homem religioso” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas” (2019), “Filhos da quarentena” (2021), “Amores que transformam” (2024) e “Noite Santa” (2025).
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