Foto: Cadu Gomes/VPR

Após enfrentar uma seca histórica no Rio Negro em 2023, a população de Manaus e a indústria da Zona Franca de Manaus (ZFM) estão tomando medidas para mitigar os impactos de uma possível nova estiagem extrema no segundo semestre deste ano. A seca anterior resultou em um sobrecusto de R$ 1,4 bilhão nas operações logísticas da indústria do Amazonas.

De acordo com dados do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), os gastos com transportes hidroviários no estado representam atualmente entre 3% e 7% do Produto Interno Bruto (PIB) local, ou seja, cerca de R$ 4,8 a R$ 11,2 bilhões por ano. Augusto Rocha, presidente da comissão de logística do CIEAM, defende que o ideal seria que esses custos fossem reduzidos pela metade, para manter a competitividade da ZFM. Segundo Rocha, o repasse mínimo necessário para corrigir os gargalos logísticos e garantir a segurança das operações industriais deveria ser de aproximadamente R$ 4 bilhões por ano, correspondendo a 2,5% do PIB amazonense. Atualmente, o investimento anual em infraestrutura local é de quase 0,22% do PIB, cerca de R$ 352 milhões.

Marcelo Thomé, vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirmou que a Amazônia já enfrenta uma nova seca e ressaltou a necessidade urgente de investir em infraestrutura, melhorar hidrovias e ampliar a oferta de modais logísticos de forma sustentável.

Ações do Governo

Em resposta à situação, o governo federal, por meio do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), anunciou um investimento de R$ 500 milhões para mitigar os efeitos da estiagem. Este valor é quase quatro vezes maior do que o investido no ano passado em medidas emergenciais. Os editais assinados pelo governo contemplam a dragagem em quatro trechos dos rios Amazonas e Solimões, garantindo a realização dos trabalhos pelos próximos cinco anos. Além disso, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) apresentou medidas focadas na construção, operação e restauração de infraestrutura aquaviária no Amazonas.

Críticas e Propostas

Marcos Castro de Lima, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), critica as medidas atuais dos governos estadual, municipal e federal, classificando-as como paliativas. Para Lima, é necessário um plano estrutural que preveja o abastecimento das cidades e a construção de portos sazonais para evitar o isolamento das comunidades ribeirinhas durante períodos de seca extrema.

Impacto Socioambiental e Econômico

O professor Rogério Ribeiro Marinho, também da Ufam, alerta para a gravidade dos impactos socioambientais e econômicos de uma eventual nova seca. A estiagem pode comprometer a capacidade de transporte de insumos vitais para as indústrias da ZFM e afetar o abastecimento de insumos essenciais como água, alimentos e medicamentos nas cidades em semi-isolamento. A seca histórica de 2023, agravada pelo fenômeno climático El Niño, trouxe à tona a necessidade de medidas mais eficazes para prevenir e mitigar esses impactos no futuro.

A preparação para uma possível nova estiagem extrema em Manaus e na região do Amazonas envolve um esforço conjunto entre governo, indústria e comunidade para garantir a resiliência e a sustentabilidade das operações e da vida cotidiana na região.

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