
Aline Pereira Ghammachi, freira brasileira de 33 anos, foi destituída do cargo de madre-abadessa do Mosteiro San Giacomo di Veglia, na Itália, após ser alvo de uma denúncia anônima que a acusava de manipulação e maus-tratos às irmãs. As informações são da Folha de S.Paulo.
Natural do Amapá e formada em Administração de Empresas, irmã Aline dedicou sua vida à vida religiosa. Atuou como tradutora de documentos sigilosos e intérprete em eventos da Igreja até ser indicada, em fevereiro de 2018, para liderar o mosteiro.
A decisão de sua remoção ocorreu logo após a morte do papa Francisco e a eleição de seu sucessor, o papa Leão XIV. O episódio provocou a saída de outras 11 freiras da instituição. Aline contesta a medida e afirma que foi vítima de preconceito em razão de sua aparência e origem.
“Disseram que eu destratava e manipulava as irmãs”, declarou. A denúncia foi feita em 2023 por meio de uma carta enviada diretamente ao então papa Francisco. Após auditoria e uma nova investigação, Aline foi afastada do cargo sem direito de defesa, julgamento ou justificativa formal.

“Bonita demais”
Segundo a ex-abadessa, sua expulsão foi motivada por “pré-conceitos sobre ser mulher, jovem e brasileira”. Ela relatou que o abade-chefe, frei Mauro Giuseppe Lepori, fez comentários sexistas, afirmando que ela era “bonita demais para ser abadessa, ou mesmo para ser freira”, expondo-a ao constrangimento público.
A substituição de Aline foi oficializada no mesmo dia da morte de Francisco, com a nomeação de uma nova madre-abadessa de 81 anos. Sem ter sido informada oficialmente sobre os motivos da decisão, Aline inicialmente se recusou a deixar o cargo.
Após sua saída, 11 freiras também abandonaram o mosteiro, algumas sem levar sequer seus documentos pessoais. Uma delas, Maria Paola Dal Zotto, defendeu Aline: “Foi inaugurado um tratamento medieval, um clima de calúnias e acusações infundadas”.
Afastada da vida monástica, Aline recorreu ao Vaticano e afirma que foi injustiçada por razões machistas. “Porque uma pessoa jovem e bonita deve ser burra? Não pode ser inteligente, tem que ficar calada?”, questionou.
“Não tive direito de defesa. Fui colocada para fora do mosteiro sem nenhuma motivação. Estamos recorrendo ao Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica. Por que isso aconteceu? Porque sou mulher, jovem e, principalmente nesse contexto, brasileira”, declarou.
Apesar do afastamento, Aline segue com sua missão religiosa. Ela e as demais freiras que deixaram o mosteiro foram acolhidas em uma villa, onde pretendem continuar seu trabalho social.
“Infelizmente, haverá uma ruptura. Teremos que pedir a dispensa dos votos, como exige o direito canônico. Mas queremos continuar nossa vida de oração e trabalho. Amamos a Igreja. Vamos começar do zero, mas com esperança de recomeçar em outra congregação”, concluiu.







