A 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima chegou e passou, mas o que permanece é o eco das vozes, das ideias e dos compromissos assumidos sob o céu amazônico. Mais do que um evento internacional, ela se revelou um espelho da humanidade, refletindo nossas esperanças, nossas contradições e a grande responsabilidade que temos diante da Terra. Belém se tornou palco de um encontro histórico, onde o mundo se olhou no espelho da floresta e, por um instante, pôde ver o futuro que ainda é possível construir.

Receber bem as pessoas foi o primeiro gesto de sabedoria. A hospitalidade paraense e brasileira mostrou que acolher é também um ato político e um exercício de paz. Ao abrir suas portas e corações, o povo amazônico ensinou que o respeito é a primeira forma de sustentabilidade. Cada sotaque, cada bandeira e cada olhar trouxeram consigo fragmentos da história humana e escutá-los foi o primeiro passo para um diálogo mais justo e solidário entre as nações.

Valorizar as culturas e os saberes locais mostrou-se essencial. Os povos da Amazônia, os ribeirinhos, os indígenas e as comunidades tradicionais lembraram ao mundo que a verdadeira sustentabilidade não é invenção recente, mas herança ancestral. Suas práticas, nascidas da convivência harmoniosa com a natureza, tornaram-se um modelo ético e espiritual para um planeta que precisa urgentemente reaprender a viver com equilíbrio.

Outra lição marcante foi à urgência das ações concretas. Mais do que discursos emocionados e declarações de intenções, o que se espera agora é coerência. As promessas só terão sentido se se transformarem em políticas públicas, tecnologias limpas, reflorestamento real e investimentos sociais sustentáveis. O tempo das palavras passou, o mundo clama por atitudes. E cada país, cada empresa e cada cidadão carregam sua parte dessa responsabilidade.

A educação ambiental e o diálogo entre gerações também se afirmaram como pilares indispensáveis. Crianças e jovens mostraram uma consciência admirável sobre o que está em jogo, enquanto os mais velhos ofereceram a sabedoria da experiência. Dessa troca nasceu a esperança: um compromisso renovado de cuidar da Terra com amor, conhecimento e ação. Pequenas atitudes, uma árvore plantada, um lixo recolhido, uma escolha responsável, foram reconhecidas como sementes de transformação.

Por outro lado, o incêndio na Zona Azul da COP-30, embora lamentável, serviu como alerta poderoso da urgência que enfrentamos: a crise climática não tolera descuidos. Esse evento escancarou a necessidade de uma governança mais firme, capaz de transformar simbolismos em ações efetivas e pactos genuínos entre governos, sociedade civil e gerações futuras. Como resposta, os líderes presentes reafirmaram compromissos concretos: reforçar a educação ambiental, garantir a participação ativa de crianças, jovens e comunidades tradicionais e acelerar a transição para uma economia sustentável baseada em energias renováveis, tecnologias limpas e consumo responsável.

Por fim, depois dos discursos, das promessas e das fotografias, resta o essencial: fazer florescer, nas cidades e nas pessoas, o que foi aprendido. A COP-30 termina, mas suas lições começam: nas escolas, nas comunidades, nas políticas e nos corações. Que a Amazônia continue sendo nossa mestra: com sua floresta que respira, seus rios que ensinam e seu povo que resiste. E que, das águas do Guamá às margens do Tapajós, ecoe a lição mais simples e mais urgente de todas: cuidar da Terra é cuidar da vida.

Luís Lemos é professor, filósofo, escritor, autor, entre outras obras de, “O primeiro olhar” (2011), “O homem religioso” (2016), “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas” (2019), “Filhos da quarentena” (2021), “Amores que transformam” (2024) e “Noite Santa” (2025). 

Instagram: @luislemosescrito

Artigo anteriorSuspeitos de envolvimento em morte de cabeleireiro estão foragidos
Próximo artigoPolícia prende dupla em flagrante por roubo de celular e constrangimento ilegal em Novo Aripuanã