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Por Carlos Santiago
Vidas cheias de alegria, de amor, de felicidade, de sonhos, de curiosidades e de inteligências que entraram em minha casa, na última semana. As gargalhadas brotavam nos dias e nas noites, muitas histórias foram contadas, muitas perguntas lançadas, várias brincadeiras e conversas sobre as descobertas da vida e uma interação saudável entre ser humano e a natureza. E os celulares foram esquecidos.
Nada de tristeza. Nada de ficar o dia todo gastando a saúde trabalhando e lendo notícias negativas envolvendo os poderes e os poderosos da República brasileira. Até abandonei as minhas crônicas, e toda a rotina foi desfeita, porque os dias ficaram mais lindos, o sol e a chuva eram saudados com a mesma esperança e alegria.
As minhas sobrinhas Vitória e Maria resolveram passar alguns dias de férias aqui em casa, comigo e com a tia delas, além da nossa cachorrinha Minie, das árvores e dos pássaros tão presentes em nosso quintal. Novidade, inclusive, para meninas que não se conheciam, pois moram em municípios diferentes, mas percebi que os gostos pela comida, pela leitura e a forma de olharem a vida são similares.
A Vitória Rafael tem 11 anos, evangélica, nasceu e mora em Manaus; a Maria Clara tem 10 anos, católica, nasceu em Parintins e mora em Boa Vista do Ramos/AM. Conversavam sobre os conteúdos de livros infantojuvenis, cada uma com sua interpretação; adoravam comprar cadernos, estojos escolares e canetas coloridas; comer peixes e tomar banho de rio eram suas preferências; e amavam estar com os animais.
Assuntos que a Vitória não sabia, a Maria ensinava ou explicava com sorriso no rosto; palavras em inglês que a Maria não dominava, a Vitória esclarecia com delicadeza.
Dividiam suas roupas, seus bottons e o amor do tio e da tia. Os celulares ficaram em segundo plano. Pareciam duas pessoas que já se conheciam e se respeitavam há séculos.
Com o passar dos dias, algumas perguntas eram feitas diariamente por elas. Depois de saber por mim o que é um sociólogo, a Vitória perguntou sobre a pobreza das crianças que pedem esmolas nas ruas de Manaus. Maria Clara queria saber do trabalho do professor, do advogado e do médico veterinário. Gostaria de na fase adulta estudar alguma coisa que cuidasse dos animais.
Não faltaram perguntas sobre a importância de estudar, da responsabilidade dos pais na criação dos filhos para o mundo, sobre as mães que criam seus filhos sozinhas e da influência da internet e da escola na formação das novas gerações Z e Beta. Eu aprendi muito com elas, porque prefiro um convívio verdadeiro e cheio de bondade, mas as crianças não decidem nada, o mundo é decidido pelos adultos. Que Pena!
Não gostaria de ter que explicar a elas sobre a pobreza, o abandono dos animais e nem informar das dificuldades sociais e profissionais da mulher em nossa sociedade. Porém, diante das indagações tivemos (eu e a tia delas) que responder. Um dia, talvez, não será mais necessário falar e responder perguntas sobre pobreza e outros temas nada gratificantes para o Brasil.
Isso leva também a uma reflexão: crianças perguntam mais sobre o sentido das coisas do mundo, enquanto os adultos movem o mundo sem perguntas.
Agora, peço humildemente permissão aos leitores para dizer às minhas sobrinhas Vitória e Maria: um grande abraço do titio e da titia, amamos vocês. Espero que cresçam num país bem melhor para viver. Até às próximas férias! Ah! A Minie mandou também um cheiro.
Sociólogo, Cientista Político e Advogado.