A Associação de Artistas Cênicos do Amazonas – Arte & Fato acaba de concluir uma circulação em três teatros de São Paulo, por meio da programação da XIV edição do Circuito de Teatro em Português, que aconteceu no último mês de novembro. A companhia apresentou o espetáculo “A Maravilhosa História do Sapo Tarô Bequê”, escrito pelo dramaturgo amazonense Márcio Souza (em memória), no Teatro Arthur Azevedo, no Centro Cultural Olido e no Teatro Flávio Império.
O espetáculo presta homenagem ao povo Tucano, do Alto Rio Negro, e incita reflexões sobre a humanidade, tocando nos perigos da fragmentação e da perda da identidade étnica regional. A obra possui apoio do Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas.
De acordo com o ator Leonel Worton, a circulação revelou algo significativo: que estudantes de artes cênicas em São Paulo já estudaram a dramaturgia de Márcio Souza em disciplinas de direção e atuação, valorizando sua relevância como referência nacional. “Contudo, ver a obra interpretada por uma companhia amazônica, com a propriedade de quem vive e respira a cultura da região, foi um diferencial que emocionou e cativou o público. Eles destacaram que, embora outras versões tenham explorado a obra, nossa montagem trouxe um ganho artístico e cultural singular, ampliando ainda mais o legado popular e grandioso de Márcio Souza”, declara ele.
O ator Michel Guerrero, que integra o elenco do espetáculo, afirma que não costuma ficar nervoso ao entrar em cena – o que mudou um pouco na circulação. “Em São Paulo deu um certo friozinho na barriga por ser uma outra praça, um outro público em outro lugar. Entretanto, nós somos muito abraçados pelo trabalho em si e pela proposta do espetáculo. A minha personagem acredito que entrou no imaginário do público paulistano e muitos gostaram, abraçaram e até pensam em fazer futuras parcerias. Vamos ver no que isso pode dar”, comenta ele.
Trajetória
Segundo a atriz Acácia Mié, o espetáculo é um clássico infanto-juvenil encenado por várias gerações de artistas amazonenses. “Há mais de 20 anos atrás tive o privilégio de subir e descer os rios da Amazônia com este espetáculo, encenado por Nonato Tavares. Esta é quarta vez que apresentamos no Circuito de Teatro em Português, sempre a contar histórias dos povos indígenas”, conta ela, destacando alguns comentários que ouviu sobre a obra em São Paulo. “Obra fantástica com personagens maravilhosos. Elenco com ótimas interpretações e grande entrega. Trabalho de corpo e voz expressivos na composição da encenação [foram alguns dos comentários]”, aponta ela.
De acordo com Regina Santos, da direção musical do espetáculo, a receptividade do público em São Paulo foi incrível. “Todos que vieram falar conosco ressaltaram o trabalho de pesquisa da obra, e o cuidado que cada segmento artístico fez para que a história fosse contada, fazendo o espectador interagir com o espetáculo. Me sinto grata em fazer parte e poder contribuir de alguma maneira para essa página do teatro amazonense”, colocou ela.
O preparador corporal da companhia, Branco Souza, relata que cada uma das três apresentações foi impactante à sua maneira. “Falando deste Circuito de Teatro em Português através da idealizadora Creuza Borges, e especificamente com o público que nos prestigiou no Teatro Flávio Império, situado na Penha, tivemos uma interação bem interessante com risos, provocações e aplausos devido a dramaturgia instigante e atual de Márcio Souza, com encenação de Douglas Rodrigues, além da estética que encanta o olhar atento e sensível dos espectadores”, destacou ele.
Uma das áreas de apresentação da Associação Arte & Fato em São Paulo possui um circo com o nome Lona Miss Jujuba, em homenagem à artista venezuelana Julieta Hernández, assassinada em Presidente Figueiredo (AM), o que se tornou simbólico para o grupo. “A energia do público presente nas três apresentações foi a parte mais incrível da nossa turnê pelo Circuito de Teatro em São Paulo. Fico feliz em poder contribuir com o teatro amazonense”, completa o flautista do espetáculo Anderson Barreto.