
Embora seja bastante debatido, o elo entre alimentação e endometriose continua cercado de controvérsias. A ciência ainda tem muito a elucidar sobre a condição que, estima-se, acomete 10% das mulheres em idade fértil.
Para tais desconfortos, há quem procure soluções na dieta, sem respaldo científico, recorrendo a ingredientes milagrosos ou excluindo alimentos. “Restrições desnecessárias, sem o aval de profissional de saúde, podem causar prejuízos nutricionais”, observa a nutricionista Ana Beatriz Vallilo, também do Einstein.
Excluir glúten e lactose?
Um estudo publicado recentemente no periódico Jama Network, realizado por pesquisadores do Reino Unido e da Irlanda, mostra que modelos alimentares que incentivam a retirada de glúten e laticínios para melhorar a endometriose são os mais populares. A cafeína e as bebidas alcoólicas também apareceram como itens a serem eliminados do dia a dia.
Para chegar a esse panorama, os estudiosos montaram um questionário com 24 perguntas, respondidas por 2.599 participantes. O levantamento revela que as mídias sociais estão entre os principais meios que motivam essas mudanças na dieta.
Há algumas décadas, o glúten tem sido apontado como vilão em muitas situações, embora não existam comprovações científicas de seus efeitos nocivos, exceto para os casos de doença celíaca e intolerância.
O mesmo vale para os laticínios, que são ricos em proteína, vitaminas e sais minerais, e devem ser evitados apenas por quem tem intolerância ou alergia. A exclusão de alimentos fontes de glúten ou lactose só deve acontecer após diagnóstico médico, com a realização de exames.
No contexto da endometriose, não existe nenhuma recomendação de banimento baseada em ciência. Aliás, uma revisão de estudos recente aponta efeitos positivos dos laticínios contra a doença.
Realizado por pesquisadores da Itália, o trabalho foi publicado no periódico Food e traz dados de dezenas de artigos. Porém, os próprios autores sinalizam a fragilidade das pesquisas reunidas. “A literatura científica carece de pesquisas robustas sobre os impactos da dieta na endometriose”, comenta Podgaec.
Dieta equilibrada e estilo de vida
Além dos laticínios, na revisão italiana os vegetais aparecem como aliados. Nesse caso, não há dúvida sobre ganhos atrelados a um cardápio com espaço para frutas, hortaliças, grãos integrais, oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas etc.), leguminosas (feijões, lentilha, grão-de-bico…) e sementes. “Hoje a nutrição moderna não aponta bons ou maus alimentos, mas considera o equilíbrio alimentar”, observa Vallilo.
Priorizar vegetais no dia a dia colabora para não faltarem compostos protetores, caso de antioxidantes. Eles ajudam a neutralizar os radicais livres, moléculas que, em excesso, desencadeiam danos celulares. Também oferecem substâncias anti-inflamatórias, que colaboram para o funcionamento de todo o organismo, e ainda uma grande quantidade de fibras, as guardiãs do intestino. “Há indícios, vindos de diversas pesquisas, de que cuidar do equilíbrio da microbiota intestinal favorece tanto a saúde física quanto a mental”, diz a nutricionista.
Embora ainda haja muito a ser investigado, existem evidências de que inserir hábitos saudáveis no cotidiano é fundamental para ajudar no controle da endometriose. “O tratamento pode incluir medicações como as pílulas anticoncepcionais”, afirma Sérgio Podgaec. Em alguns casos, há ainda indicação de cirurgia.
Para evitar que o distúrbio atrapalhe a qualidade de vida, o ideal é que o diagnóstico seja feito o quanto antes, por meio de exames como o ultrassom e a ressonância da pelve, além de avaliação clínica. Gerenciar o estresse, cuidar do sono e incluir a atividade física são outras medidas essenciais para minimizar os desconfortos.
Com informações de Metrópoles.










