Foto: © Chris J Ratcliffe / Greenpeace

A Justiça Federal realizou nesta quinta-feira (16), em Tabatinga (AM), a audiência de instrução e julgamento do processo que apura a atuação de uma organização criminosa ligada à pesca ilegal no Vale do Javari, investigada pelo envolvimento nas mortes do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, ocorridas em 2022.

Entre os réus estão Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como “Colômbia”, apontado como líder do grupo criminoso, e Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, além de outros oito acusados. A audiência teve início às 9h30, no fórum da Justiça Federal em Tabatinga, e deve continuar nesta sexta-feira (17) com novos depoimentos.

Testemunhas confirmam atuação criminosa e ameaças a servidores

Durante a manhã, foram ouvidas testemunhas de acusação apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF).
Uma delas relatou ter participado de reuniões entre pescadores em que o nome de Colômbia era citado como financiador da pesca e caça ilegal dentro da Terra Indígena Vale do Javari.

Um representante da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) também prestou depoimento e afirmou que o peixe retirado ilegalmente da região era vendido para Colômbia, na cidade de Islândia, no Peru.

A última testemunha de acusação foi uma servidora da Funai, que contou ter sido ameaçada por pescadores em Atalaia do Norte após participar de uma ação de fiscalização que destruiu redes utilizadas pelo grupo criminoso.

Réus e testemunhas de defesa são ouvidos

No período da tarde, começaram os depoimentos das testemunhas de defesa e de alguns réus, entre eles Amarildo da Costa de Oliveira, Amarílio de Freitas de Oliveira, Eliclei Costa de Oliveira, Janio Freitas de Souza, Otávio da Costa de Oliveira e Laurimar Lopes Alves.

Nesta sexta-feira (17), devem depor Manoel Raimundo Corrêa, Francisco Lima Corrêa, Paulo Ribeiro dos Santos e Rubén Dario Villar (Colômbia).

Segundo o MPF, Colômbia liderava uma rede criminosa envolvida em pesca e caça ilegal, tráfico de munições e lavagem de dinheiro, com base nos municípios de Benjamin Constant e Atalaia do Norte.

Mandante do crime e histórico de prisões

Apontado como mandante das mortes de Dom e Bruno, Colômbia foi indiciado pela Polícia Federal (PF) em novembro de 2024. As investigações indicam que ele forneceu cartuchos usados no crime, financiou a quadrilha e coordenou a ocultação dos corpos das vítimas.

Apesar do apelido, Colômbia é de nacionalidade peruana. Ele foi preso em flagrante em junho de 2022 por uso de documento falso, quando compareceu à sede da PF em Tabatinga. Desde então, acumula um histórico de prisões e descumprimentos judiciais, chegando a ser libertado provisoriamente antes de ser recolhido novamente a um presídio de segurança máxima.

A PF afirma que o criminoso pagava despesas de pescadores ilegais e escondia cocaína em carregamentos de pescado para facilitar o tráfico na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia.

O caso Dom e Bruno

O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips desapareceram em 5 de junho de 2022, durante uma expedição no Vale do Javari, entre os municípios de Guajará e Atalaia do Norte. Eles foram assassinados a tiros, e seus corpos foram esquartejados e queimados, sendo localizados dez dias depois, em 15 de junho.

Dom, colaborador do jornal The Guardian, escrevia o livro “How to Save the Amazon?” sobre como os povos indígenas protegem a floresta e enfrentam invasores.

Além de Colômbia e Pelado, também respondem ao processo Oseney da Costa de Oliveira (“Dos Santos”) e Jefferson da Silva Lima (“Pelado da Dinha”), entre outros envolvidos.

  • Amarildo (Pelado) e Jefferson estão presos e serão julgados por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
  • Oseney cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.
  • Outros réus foram denunciados por envolvimento na ocultação dos corpos e pelo uso de um menor de idade durante o crime.

A audiência de instrução deve seguir ao longo desta sexta-feira (17), com expectativa de novas oitivas e encaminhamento à fase final do julgamento.

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