Um autônomo de 32 anos que precisou deixar a profissão e mesmo o Estado onde morava há mais de 10 anos por causa da pandemia foi humilhado, na noite de terça-feira (23), após atrasar a entrega de salgados – sua nova atividade. José Rafael Marciano nasceu sem a mão esquerda e passou a comercializar quitutes para driblar a Covid-19 em Marília, sua cidade natal no interior de São Paulo.

Rafael vivia com sua esposa e seus três filhos em Monte Carmelo, cidade mineira do Alto Paranaíba. “Fiquei em Minas por 12 anos, mas precisei voltar para Marília há dois meses. Vim sem nada. Vendi toda a minha mudança, viemos só com a roupa do corpo e o carro. A casa ainda está sem móveis, mas vamos nos ajeitando com o tempo”, explica ao BHAZ.

A deficiência nunca foi motivo para se deixar abater. “Eu nasci sem a mão esquerda, sem o tórax na parte esquerda e sem algumas costelas. É uma má-formação que ocorreu comigo. Como vim de uma origem humilde, sempre precisei trabalhar. Desde os meus 9 anos que ajudo os meus pais, vendendo coisas na rua ou fazendo algum outro tipo de trabalho”, explica.

Infarto e pandemia

O Rafael é pintor profissional, mas a pandemia mudou esse cenário. “Os trabalhos pararam de aparecer por conta da pandemia, ficamos sem renda. No início, até fazia uns bicos, mas agora não tem mais. Por isso, resolvi começar a vender salgados, isso não tem nem duas semanas”, continua.

Além das dificuldades por conta da pandemia, Rafael também começou a sentir dores e teve um infarto recentemente. “Fiquei internado um bom tempo. O médico disse que precisava parar de vez com a pintura, pois requer muito esforço”.

Xingamentos

A venda dos salgados começou a ser divulgada pelo Facebook. “Coloquei fotos, meu celular e as pessoas começaram a fazer pedidos. Vendo cada salgado por R$ 2, e já tinha algumas encomendas. Eu, minha esposa e meus filhos ajudam na produção”, relata.

Como ainda é algo inicial, ele conta que teve um problema com uma encomenda de 54 salgados, e o cliente foi muito desrespeitoso. “O pedido foi feito às 9h dessa terça, e era para eu ter entregue os salgados às 11h. Só que eu não consegui. Liguei para explicar a situação, disse que entregaria às 13h, mas ele não quis me ouvir e começou a me xingar muito. Disse que não sou profissional, que ele estava querendo me ajudar, mas que eu era muito folgado”, desabafa.

Rafael conta que chorou muito, e resolveu fazer a postagem contando o ocorrido no Facebook. “Eu pensei em parar, sou muito pequeno, um grão de areia no mar. Chorei demais, fiquei muito triste. E não posso passar por isso, tenho problema de coração, então preciso me controlar”, relata.

Publicação viralizou (Reprodução/Facebook)

Volta por cima

A postagem acumulou milhares de curtidas em poucas horas. “Muitas pessoas mandaram mensagens de apoio, fiquei surpreso com tanta repercussão. Já tenho muitas encomendas. Só para hoje já são mais de 90 salgados. Os salgados que o cliente não quis, outro já apareceu e disse que vai vir buscar hoje”, continua.

O empreendedor diz que não guarda mágoas do cliente grosseiro. “Peço só que Deus o abençoe, pois foi graças a ele que Deus está me abençoando agora. Peço que ele siga seu caminho em paz”, completa.

Quem for de Marília e quiser comprar os salgados ou ajudar Rafael, pode entrar em contato com ele pelo Facebook, ou por WhatsApp, pelo telefone (14) 98130-6768. (BHAZ)

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