Os banqueiros não conseguem esconder sua consciência de categoria pertencente à elite econômica em uma sociedade de classes, visceral e profundamente injusta. Para eles, os mecanismos de relacionamento social haveriam de ser, sempre, caminhos de mão única, de tal maneira que nenhum óbice pudesse ser oposto à permanente e insaciável sede de lucros.
Têm obtido êxito nesse desiderato. As notícias, mesmo na imprensa não especializada, dão conta de números fabulosos e astronômicos, contabilizados semestralmente como lucro, nos balanços dos bancos, sejam eles oficiais ou privados.
A prestação de serviços está longe, cosmicamente longe, de corresponder, como contrapartida, a esses ganhos que nem o mais temerário e inventivo adepto do mensalão seria capaz de imaginar.
Lembro-me de que houve dia em que o gerente do meu escritório enviou um funcionário à agência Educandos, do Banco do Brasil, para sacar o cheque de um cliente. Eram dez horas da manhã e o moço voltou de mãos abanando porque foi informado de que o saque só poderia ser feito depois das treze horas, quando a agência teria (pasmem) dinheiro para honrar sua obrigação.
Fosse uma quantia astronômica, dessas que só entram nas contas de Bolsonaro, ainda haveria uma justificativa plausível. Que nada. Era algo em torno de cinco mil reais e, convenhamos, um banco que não possui essa quantia em caixa deve estar para ser rebaixado a tamborete.
Outro exemplo: já ocorreu de eu ir à agência Adrianópolis do mesmo Banco do Brasil. Eram 14,30 horas e dos quatro terminais destinados a saques, somente um estava funcionando, enquanto dos dois terminais para obtenção de cheques, um estava “em manutenção”.
Dei ciência desse desrespeito à ouvidoria do Banco, através da Internet, e a explicação que me foi dada, por telefone (pelo menos nisso o serviço funcionou), foi a de que tinha sido cancelado o contrato com a empresa terceirizada, incumbida de abastecer os terminais, estando os funcionários do próprio banco ainda em treinamento para a execução da tarefa.
Nenhuma queixa contra os empregados do banco. Deles fui colega por longos vinte e sete e anos e, conquanto a maior parte desse tempo, tenha eu exercido as funções técnicas de advogado, tenho ampla e perfeita ciência de quanto é árdua e penosa a vida do bancário, principalmente depois que o neoliberalismo lhe aviltou o salário e que a informática o coloca em permanente tensão na luta pela simples manutenção do emprego, haja vista a quantidade de demissões que ocorreram nas últimas décadas.
A culpa pelos desmandos e deboches é mesmo, única e exclusivamente, dos banqueiros. Basta lembrar que, no exercício de seu complexo de superioridade, eles já chegaram a demandar, junto ao Supremo Tribunal Federal, no sentido que as relações banco-cliente fiquem fora da proteção outorgada pelo Código do Consumidor.
Na nossa cidade existe uma lei sobre o tempo de espera em filas nas agências bancárias. Se não estou em equívoco, fixa-se o período de quinze minutos com o prazo máximo. Norma absolutamente inútil pela total desconsideração que os estabelecimentos lhe votam. Tenho experiência própria disso. No Bradesco, em uma agência da Sete de Setembro, esperei em pé por mais de duas horas. Pior: não consegui resolver o problema que me levara até ali e foi marcada outra sessão de tortura para quinze dias depois. Aliás, em determinados dias as agências bancárias não ficam nada a dever a um mercado persa, tal é a aglomeração de pessoas e a balbúrdia imperante. Se já não houvesse tanta repressão (a maior parte inútil), eu chegaria a pensar que se trata de um caso de polícia.
Nada mais é preciso para comprovar que os banqueiros, tal como alguns juízes, superaram definitivamente a angústia da dúvida e, agora, cuidam apenas de manter intocados e inatingíveis seus lugares no Olimpo.
Qual seria o nome da operação para acabar com essa molecagem?