Luís Roberto Barroso, presidente do STF Foto: Wilton Junior/Estadão

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, disse que o debate sobre a descriminalização do aborto no Brasil ainda não atingiu um ponto de maturidade suficiente para que a Corte tome uma decisão definitiva.

“Eu ainda não tenho certeza se vou pautar esse tema para o próximo ano, porque acho que o debate não está amadurecido e as pessoas ainda não têm a exata consciência do que está sendo discutido”, afirmou Barroso, em encontro com jornalistas em Brasília nesta segunda-feira, 9. Para ele, a questão precisa ser amplamente debatida pela sociedade antes que uma decisão seja tomada.

Barroso destacou que, embora ninguém considere o aborto uma prática positiva, a criminalização dele afeta de maneira desproporcional mulheres pobres. Segundo o ministro, o Estado deve oferecer condições para que a prática seja evitada, mas não impor a penalização da mulher como solução. “A criminalização impacta de forma perversa as mulheres pobres, que não tem acesso ao sistema público de saúde”, disse.

Atualmente, o aborto é permitido no Brasil apenas em três situações: gravidez resultante de estupro, risco de morte para a gestante e casos de anencefalia fetal. Nos demais casos, a interrupção da gravidez é considerada crime, com penas que podem chegar a dez anos de prisão, dependendo das circunstâncias.

Barroso também reforçou que respeita as convicções contrárias ao aborto e acredita que as pessoas têm o direito de viver conforme suas crenças. “O Estado não tem direito de mandar uma mulher manter a gravidez”, afirmou.

Apesar de reconhecer a sensibilidade do tema, o ministro destacou que a criminalização é uma política “inútil e perversa”. Ele argumentou que, em vez de resolver o problema, a penalização do aborto perpetua desigualdades e impede que mulheres pobres tenham acesso a cuidados de saúde adequados.

Relação entre os Poderes

Ao abordar as tensões entre os Poderes, Barroso explicou que a Constituição brasileira frequentemente leva questões polêmicas ao STF, que em outros países seriam resolvidas politicamente. Ele enfatizou que, embora o Judiciário cometa erros e acertos, a Corte tem cumprido um papel crucial ao lidar com temas de alta complexidade social e política.

O ministro também defendeu que a questão da descriminalização do aborto não deve ser imposta sem a compreensão e o apoio da maioria da população. “Não adianta o STF querer decidir a questão se 80% da população não entende”, disse Barroso, reforçando a necessidade de um diálogo amplo e democrático.

Barroso ainda afirmou que o papel do Estado não é apenas evitar a prática do aborto, mas garantir que as políticas públicas sejam justas e inclusivas. Ele ressaltou que a solução para a questão deve ir além da criminalização, buscando alternativas que respeitem os direitos das mulheres e promovam a saúde pública de forma mais eficiente.

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