Fotos: Miguel Monteiro

Para aprofundar o conhecimento sobre a saúde, ecologia e deslocamento dos botos-vermelhos (Inia geoffrensis), uma equipe de pesquisadores do Instituto Mamirauá realizou, entre os dias 20 de setembro e 2 de outubro, uma captura científica no Lago Amanã, dentro da Reserva Amanã, no interior do Amazonas. A ação faz parte dos esforços de monitoramento populacional e conservação da espécie, considerada símbolo da fauna amazônica e ameaçada por mudanças climáticas, poluição e conflitos com a pesca.

Durante a expedição, foram capturados 17 botos, a maioria machos adultos e uma fêmea grávida, em uma operação que contou com a participação de moradores ribeirinhos e pescadores locais, cujos conhecimentos tradicionais foram fundamentais para o manejo dos animais.

A atividade foi conduzida por pesquisadores do Instituto Mamirauá, em parceria com especialistas da Associação R3 Animal, National Marine Mammal Foundation (EUA), Universidad de Las Palmas de Gran Canaria (Espanha) e Wildlife Conservation Trust (Índia).

Estudo da saúde e comportamento dos botos

Segundo os pesquisadores, a captura científica é fundamental para avaliar o panorama de saúde da população de botos e identificar possíveis ameaças infecciosas e ambientais.

Durante o procedimento, foram coletadas amostras de sangue e secreções para análises hematológicas completas e detecção de agentes infecciosos, contaminantes e biotoxinas.

Além disso, 12 transmissores satelitais foram instalados nos animais para registrar dados de localização, profundidade e temperatura da água, permitindo o acompanhamento da movimentação e dos padrões de comportamento da espécie em seu habitat natural.

“Capturar esses animais é de extrema importância para compreendermos o panorama de saúde dessa população de botos de forma abrangente, definindo parâmetros de saúde como uma preparação para o que pode acontecer em anos futuros”, explicou Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá.

Mudanças climáticas e vulnerabilidade

A pesquisa ganha ainda mais relevância após as secas severas de 2023 e 2024, quando mais de 200 botos-vermelhos e tucuxis (Sotalia fluviatilis) foram encontrados mortos na região do Lago Tefé — considerada a pior mortandade já registrada na Amazônia.

Estudos preliminares indicam que o evento pode ter reduzido em até 15% a população local de botos, uma espécie de ciclo reprodutivo lento e altamente vulnerável.
Segundo Miriam Marmontel, embora em 2025 a seca tenha sido menos intensa, as projeções climáticas indicam aumento da frequência de eventos extremos na região.

“Neste ano, felizmente, a seca não tem sido tão intensa como nos dois últimos anos, portanto não esperamos uma mortandade. Contudo, os impactos das mudanças climáticas mostram que precisamos estar preparados”, complementou a pesquisadora.

Dados que ajudam a prevenir novas perdas

Os dados coletados durante a captura científica permitirão avaliar a resiliência dos botos diante de novas variações climáticas e responder rapidamente em caso de novos episódios de mortandade.

A integração entre ciência, tecnologia e saberes tradicionais tem sido o diferencial dos projetos conduzidos pelo Instituto Mamirauá, que mantém monitoramento permanente das populações de mamíferos aquáticos na Amazônia Central.

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