Pamella Herpio

Um piano dentro de um barco nas águas amazônicas pode parecer algo distante da realidade, mas a artista Carla Ruaro concretizou este feito em 2017 e está prestes a realizar de novo. No dia 23 de Setembro inicia a segunda edição do “Piano na Amazônia”, pelo Rio Amazonas, projeto idealizado com o intuito de estabelecer conexões e trocas culturais com comunidades indígenas remotas. O trajeto, que terá início em Santarém, passará por 15 cidades ribeirinhas que receberão a embarcação com o imponente instrumento – além das apresentações, o público local poderá participar de oficinas e sentir na prática o som de compositores da região amazônica. Ao final, no dia 18 de outubro, a expedição encerra de forma majestosa com um grande concerto no Teatro Amazonas, em Manaus.

O projeto parte de um sonho audacioso de Carla de levar um piano para comunidades remotas – muitas das quais nunca viram um piano antes. A artista espera que, indo à fonte dos compositores e dos sons que inspiram seu trabalho, ela possa encontrar um novo sentido de realização criativa e conexão. E, ao fazer isso, talvez ela também possa se tornar uma fonte de inspiração para artistas ao redor do mundo perseguirem seus sonhos mais ousados.

“Desta vez seguimos viagem pelo rio Amazonas, levando novamente o piano para mais comunidades ribeirinhas, apresentando músicas de grande valor cultural de compositores dos estados do Pará e Amazonas, por onde o barco vai passar. Quero que o piano seja não só um instrumento musical, mas que também tenha um impacto de transformação na vida das pessoas, assim como foi com a minha. Acho relevante levar a arte produzida na Amazônia para comunidades remotas, tão importante fonte de inspiração para muitos compositores amazônidas.”

A embarcação de dois andares, chamado Barco Regional, abrigará o piano, que será içado por uma grua, no convés superior.  Apesar de já existir um roteiro pré-definido, é esperado que possa haver alterações no decorrer da viagem. A expedição depende de algumas situações, como quando ocorrem chuvas, por exemplo, e precisam ser feitas adaptações de acordo com as condições climáticas.

Primeira Edição

Em 2017, de forma independente, a pianista Carla Ruaro reuniu uma equipe de profissionais que aceitou a parceria e, juntos, partiram para seu primeiro desafio: içar o piano ao interior de um barco e percorrer o rio Arapiuns, no estado do Pará, dentro da reserva extrativista Tapajós-Arapiuns. Da aquisição e transporte do instrumento às oficinas e apresentações para as comunidades ribeirinhas, o projeto articulou ainda uma enorme gama de ações que fortalecem os laços locais e a autovalorização de comunidades e artistas, ao se verem sinceramente representadas pelo interesse e esforço da intérprete e sua equipe. 

No interior da

embarcação foram realizadas entre duas e quatro oficinas de piano por dia, quando mais de 1000 crianças tiveram a oportunidade de assisti-las. Concertos foram realizados à noite, na beira do rio nas comunidades de Vila Franca, Tucumã, São Pedro, Mentai, Curi, Bom Futuro, São Francisco, Atodi, Vila Gorete, Vila Brasil, Lago da Praia, Urucureá e Alter do Chão.

O projeto piloto Um Pi

ano na Amazônia iniciou com uma extensa pesquisa sobre os compositores contemporâneos e a cultura da região amazônica. Aproximando-se dos ambientes nos quais se inspiram, vivem ou viveram os compositores, o projeto afirma o propósito de imersão, propondo-se à investigação in loco das raízes dessa música.

O curta “Raízes – Um Piano na Am

azônia” foi lançado em 2018 e conquistou diversos prêmios no Brasil, Europa, USA e Marrocos.

Carla Ruaro

Carla Ruaro começou a estudar

piano aos seis anos. Não demorou muito para que ela conseguisse tocar algumas das composições mais importantes da música clássica. No entanto, Carla começou a se sentir limitada. A música clássica, especialmente ao tocar repertórios tradicionais, muitas vezes envolve recriar versões do passado – e cada apresentação subsequente é sempre comparada às versões anteriores. A insatisfação de Carla com os confinamentos sufocantes do mundo da música clássica a levou a abandonar tudo o que havia trabalhado até então, inclusive seu prestigioso programa de doutorado, em

busca de respostas na Amazôni

a

A mente de Carla saltou para

uma ideia encantadora – tirar o seu piano dos espaços seguros das salas de concerto e das grandes cidades e fazer uma peregrinação musical – levar um piano de barco – o instrumento tão enraizado em prestigiosos teatros,

com tanta história e import

ância – pelos rios da Amazônia. Assim nasceu “Raízes” e a odisseia de piano de Carla, que levou três pianos, três barcos e 40 dias para ser

realizada.

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