Fachada do prédio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) — Foto: Antonio Cruz

A Polícia Federal (PF) realiza nesta sexta-feira uma operação para investigar o programa secreto que monitorou a localização de pessoas através do celular, o caso foi revelado em março. A ferramenta permitia, sem qualquer protocolo oficial, monitorar os passos de até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses. Para isso, bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e acompanhar num mapa a última localização conhecida do dono do aparelho.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o afastamento de cinco servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), entre eles dois diretores, pelo uso indevido de sistema de geolocalização. O magistrado também determinou a prisão de dois servidores e o cumprimento de 25 mandados de busca e apreensão, que foram realizados nesta sexta-feira pela Polícia Federal nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.

De acordo com as investigações, além do uso indevido do sistema, apura-se a atuação de dois desses servidores da Agência que, em razão da possibilidade de demissão em processo administrativo disciplinar, teriam utilizado o conhecimento sobre o uso indevido do sistema como meio de coerção indireta para evitar a demissão.

Conforme O GLOBO revelou em março, os dados são coletados por meio da troca de informações entre os celulares e antenas para conseguir identificar o último local conhecido da pessoa que porta o aparelho. O sistema foi utilizado durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando o diretor da agência era Alexandre Ramagem.

A PF pontua que o sistema de geolocalização utilizado pela Abin é um software intrusivo na infraestrutura crítica de telefonia brasileira. “A rede de telefonia teria sido invadida reiteradas vezes, com a utilização do serviço adquirido com recursos públicos”, informou, em nota.

Segundo a colunista Malu Gaspar, do GLOBO, jornalistas, advogados, políticos e adversários do governo de Jair Bolsonaro (PL) estão entre as pessoas que foram monitoradas ilegalmente por um grupo de agentes da Abin, na gestão do ex-diretor Alexandre Ramagem.

Os investigados podem responder, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.

Software comprado com dispensa de licitação

Como revelou o GLOBO, a ferramenta, chamada “FirstMile”, ofereceu à Abin a possibilidade de identificar a “localização da área aproximada de aparelhos que utilizam as redes 2G, 3G e 4G”. Desenvolvido pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint), o programa permitia rastrear o paradeiro de uma pessoa a partir de dados transferidos do celular para torres de telecomunicações instaladas em diferentes regiões. Com base no fluxo dessas informações, o sistema oferecia a possibilidade de acessar o histórico de deslocamentos e até criar “alertas em tempo real” de movimentações de um alvo em diferentes endereços.

A agência comprou o software por R$ 5,7 milhões, com dispensa de licitação, no fim de 2018, ainda na gestão de Michel Temer. A ferramenta foi utilizada ao longo do governo Bolsonaro até meados de 2021. Com informações de O Globo.

Artigo anteriorNova operação da PF mira mais policiais civis envolvidos com tráfico de drogas no RJ
Próximo artigoPrefeito acompanha distribuição de cestas básicas aos permissionários da Casa de Praia Zezinho Corrêa