
A Polícia Civil de São Paulo realiza a varredura de ao menos seis celulares pertencentes a vigilantes de duas empresas que faziam a segurança no Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, no dia em que o empresário Adalberto dos Santos Júnior desapareceu, após sair do local, em 30 de maio.
Ele foi encontrado morto em um buraco, quatro dias depois, numa área em obras, perto do autódromo. O caso é investigado como homicídio pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Até o momento, o suposto autor o assassinato ainda é desconhecido, como consta em relatórios policiais, obtidos pela reportagem.
Celulares apreendidos
O DHPP solicitou a relação de seguranças para três empresas que atuaram no autódromo, no dia em que a vítima participou de um evento motociclístico, do qual saiu de noite. Funcionários de duas delas foram alvo de apreensões.
Da empresa Malbork, os seguranças Alisson Silva e Leandro Silva tiveram seus aparelhos apreendidos, no último dia 30. Foi quando também os celulares de Edmilson Barbosa, Paulo Júnior e dois aparelhos de Paulo Neves, da ESC Segurança, também foram alvo de um auto de apreensão.
Antes do recolhimento formalizado dos aparelhos, que foram submetidos a perícia, a Polícia Civil analisou de forma superficial, em 10 de junho, os equipamentos de Edmilson, Paulo Júnior e Paulos Neves, com a autorização deles.
Os laudos estão anexados ao processo do caso, que segue em sigilo de Justiça.
Depoimentos e prisão
Supervisor de segurança, Paulo Júnior afirmou, em depoimento, não ter presenciado qualquer briga ou acontecimento “atípico” que pudessem ajudar no esclarecimento da autoria do homicídio do empresário.
O coordenador de segurança Edmilson Barbosa relatou não ter ciência de “qualquer intercorrência relevante”, acrescentando que soube do caso por meio do noticiário.
O depoimento de Paulo Neves, coordenador e supervisor, foi na mesma linha dos outros dois colegas de trabalho. Todos atuam na ESC Segurança que, como o Metrópoles mostrou, omitiu o nome de dois funcionários em uma lista, com 184 nomes, enviada à Polícia Civil.
A informação foi confirmada pelo DHPP em uma entrevista coletiva, no último doa 18. Um dos nomes omitidos foi o de Leandro de Thallis Pinheiro, lutador de jiu-jitsu preso em flagrante por porte ilegal de arma durante o cumprimento de cinco mandados de busca e apreensão, no mesmo dia da coletiva. Leandro foi solto após pagamento de fiança. Além dele, outras três pessoas foram levadas ao DHPP.
Irmãos seguranças
Outros dois seguranças, os irmãos Alisson e Leandro Silva, prestavam serviço para a empresa Malbork, no dia em que o empresário desapareceu. Eles também prestaram depoimento à Polícia Civil, mas o teor do que falaram está sob sigilo.
O Metrópoles apurou que Alisson, de 27 anos, fazia segurança armada no autódromo e atirou na perna de um suspeito de furto, em maio de 2023.
Em uma denúncia, o Ministério Público de São Paulo afirmou que o criminoso foi flagrado por Alisson jogando uma mochila no chão, da qual caíram três facas e ferramentas.
Ele e o segurança discutiram e o suspeito teria se armado com uma das facas e partido para cima do vigilante, que sacou sua arma e atirou na perna do potencial agressor.
Entenda a cronologia do desaparecimento de empresário em Interlagos
Adalberto não voltou para casa após ter passado o dia com um amigo no evento de motocicletas no Autódromo de Interlagos. Em depoimento à polícia, o amigo descreveu como foi o dia em que o empresário desapareceu.
Amigos há cerca de oito anos, de acordo com o relato, os dois mantinham o mesmo interesse por motocicletas e participavam de um grupo de WhatsApp chamado “Renatinha Motoqueirinha”, no qual organizavam passeios de moto e conversavam diariamente.
Adalberto e o amigo participaram de test drives de motocicletas, das 14h30 às 17h. Em seguida, foram tomar um café em um dos quiosques e passear pelo evento. O empresário, então, teria sugerido que os dois tomassem uma cerveja.
Às 17h15, compareceram a uma ativação de motocross dentro do evento e, às 19h45, foram assistir ao show do cantor Matuê. Durante a apresentação, Adalberto e o amigo teriam usado maconha, adquirida de estranhos, no local, pelo próprio empresário. Eles beberam cerca de oito cervejas.
Segundo o depoimento do amigo, Adalberto estava alcoolizado e alterado. A combinação da maconha com a cerveja o deixou “mais agitado que o normal”, de acordo com o relato. Não houve brigas, desentendimentos ou qualquer outra situação que pudesse trazer problemas, contou o amigo.
O show acabou às 21h e os amigos se despediram às 21h15. Adalberto alegou que precisava ir embora para jantar com a esposa. O amigo permaneceu no evento, comeu um hambúrguer e tomou refrigerante. Ele disse que deixou o Autódromo de Interlagos às 22h30. No depoimento, ele disse que chegou em casa às 23h e adormeceu.
Por volta das 2h de sábado (31/5), recebeu uma mensagem da esposa do empresário perguntando sobre o paradeiro do marido.
No dia seguinte ao desaparecimento de Adalberto, no domingo (1º/6), o amigo que prestou depoimento teve uma motocicleta roubada. Ele contou que foi abordado por quatro indivíduos armados, que estavam em duas motos. Celular e capacete também foram levados.
Corpo encontrado em buraco
O corpo de Adalberto foi encontrado na Avenida Jacinto Júlio em um buraco de 2 metros de profundidade e 40 centímetros de diâmetro. De acordo com a diretora do DHPP, Ivalda Aleixo, o cadáver não tinha lesões aparentes, vestígios de sangue, ferimentos ou fraturas.
O empresário estava no buraco com um capacete “colocado” na cabeça e as mãos para cima, vestindo nada além de uma jaqueta e a cueca (entenda abaixo). O cadáver ainda tinha muita terra no rosto e nas mãos, em razão de o empresário ter ficado dentro de um vão de uma obra, realizada perto do Kartódromo de Interlagos, onde o carro estava estacionado.
A diretora do DHPP acredita que Adalberto foi colocado no buraco já morto ou desacordado, pois, segundo ela, não havia sinais de que o empresário tenha reagido ou tentado escalar o local. Ivalda ainda mencionou que a vítima estava a cerca de um metro de profundidade na terra, e que só não estava mais abaixo porque os braços impediram que o corpo descesse.
Como Adalberto foi encontrado
- Adalberto Júnior foi encontrado no buraco de uma obra na região do kartódromo.
- Ele usava um capacete preto e estava com as mãos para cima. Uma delas tinha a aliança de casamento, o que ajudou na identificação do corpo.
- A vítima não apresentava ferimentos, estava com o celular (sem bateria), carteira com dinheiro e alguns documentos no bolso.
- O empresário usava apenas jaqueta e cueca. O restante das roupas não foi localizado.
- A jaqueta tem valor aproximado de R$ 2.500 a R$ 3.000.
- O capacete que ele usava não estava bem preso, apenas “colocado”, como explicou a diretora do DHPP, Ivalda Aleixo.
- Um médico legista que acompanhou as equipes policiais contou que o empresário aparentava estar no buraco de 36 a 40 horas. No entanto, o tempo não condiz com o tempo do desaparecimento de Adalberto – desde a noite de 30 de maio.
- De acordo o DHPP, o corpo apresentava pouco inchaço e, considerando que a vítima desapareceu em 30 de maio, deveria estar em um estágio de decomposição mais avançado do que o observado no momento da descoberta, em 3 de junho.
O corpo foi encontrado por um dos funcionários da construção, na manhã do dia 3/6. Inicialmente, o trabalhador acreditou se tratar de um boneco, já que só conseguia ver o capacete de Adalberto, mas acionou as autoridades mesmo assim. Um inquérito foi instaurado no DHPP, que investiga o caso como homicídio. Com Metrópoles.







