Nesta sexta-feira, 14 de abril, acontece o Dia Mundial da Doença de Chagas, data que busca chamar atenção para um diagnóstico que afeta entre 6 e 7 milhões no mundo, a maioria na América Latina. Segundo dados compilados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), com base nos indicadores do Sistema Único de Saúde (SUS), a estimativa é de que mais de 1,2 milhões de brasileiros vivam com a doença (mais de 17% do total global), e que 70% destas pessoas não saibam do diagnóstico.
“Cerca de 30 mil novos casos e 10 mil mortes são relatados na América Latina a cada ano. E devido ao aumento da mobilidade da população, a doença é cada vez mais detectada em outros países e continentes”, destaca nota da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), braço regional da OMS, em alerta divulgado também nesta sexta.
Ambas as entidades ressaltam que se trata de uma doença historicamente negligenciada, com uma quantidade de políticas públicas e investimentos direcionados à identificação precoce da doença e ao acesso a medicamentos para curar os pacientes insuficiente.
“O diagnóstico precoce é fundamental, pois a chance de cura se ele for feito nos primeiros dias de transmissão é de até 100%, e diminui progressivamente com o passar dos anos. O tratamento já quando os sintomas são graves é, em geral, mais custoso e doloroso”, explica a cardiologista Gláucia Maria Moraes de Oliveira, diretora da SBC e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo a Opas, sem tratamento a longo prazo, até 30% dos pacientes podem desenvolver complicações irreversíveis para o sistema nervoso, sistema digestivo e para o coração. Arritmias e insuficiência cardíaca são as principais doenças cardíacas observadas, acrescenta a sociedade brasileira.
A identificação do quadro cedo, porém, é um desafio, já que na maioria dos casos a infecção é assintomática no início. “Com as taxas de detecção de Chagas tão baixas, o tratamento está chegando tarde demais”, diz Massimo Ghidinelli, diretor interino do Departamento de Prevenção, Controle e Eliminação de Doenças Transmissíveis da OPAS, em nota
“Precisamos envolver a comunidade e apoiar os profissionais de cuidados primários com treinamento e suprimentos críticos para administrar a doença”, complementa.
Quais os sintomas da doença de Chagas?
A doença de Chagas é provocada pelo parasita Trypanosoma cruzi, transmitido principalmente aos seres humanos pelas fezes contaminadas de insetos conhecidos como barbeiros. O percevejo, ao picar o homem, elimina o parasita nas fezes, levando à contaminação.
No entanto, de acordo com a Opas, a transmissão pode ocorrer também por transfusão de sangue ou transplante de órgãos, consumo de alimentos contaminados, durante a gravidez e o parto.
A SBC aponta que essas outras formas de contaminação têm crescido e que, no Brasil, os casos de Chagas congênita (passada de mãe para filho), afeta um bebê a cada mil mães com a doença.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cerca de 70% daqueles que carregam o parasita permanecem de duas a três décadas na forma chamada de assintomática ou indeterminada da doença. Ainda assim, é importante estar atento aos sinais, que são:
- Febre;
- Aparecimento de gânglios;
- Crescimento do baço e do fígado;
- Alterações elétricas do coração;
- Inchaço na face ou nos membros;
- Manchas vermelhas na pele;
- Inflamação das meninges nos casos graves.
Segundo a fundação, na fase aguda, os sintomas duram de três a oito semanas. Na crônica, os sintomas estão relacionados aos distúrbios no coração, no esôfago e/ou no intestino consequentes de complicações da doença.
Erradicação até 2030
As entidades apontam que a incidência da doença diminuiu nos últimos 40 anos, principalmente por melhorias nas condições de habitação e pelo controle do vetor. Porém, atingir um cenário de erradicação nas Américas até 2030, e no mundo até 2050, como esperam a Opas e a OMS, ainda é um desafio. Isso porque Chagas continua sendo endêmica em 21 países dos continentes americanos, como o Brasil.
“Apelo aos governos, pessoal de saúde e trabalhadores comunitários para que façam esforços adicionais para trabalhar em conjunto e concentrar a atenção nas populações mais vulneráveis, de modo que possamos em breve eliminar Chagas como um problema de saúde pública”, diz o brasileiro e diretor da Opas, Jarbas Barbosa.