Em obras de restauro para se tornar o futuro “Mercado de Origem de Manaus”, o maior do Brasil em uma área de 30 mil metros quadrados, o antigo complexo Boothline abre as portas, a partir da segunda-feira, 28/10, para a comercialização de produtos regionais, todos os dias, das 8h às 17h. A iniciativa é graças à parceria da Fundação Doimo com a Prefeitura de Manaus, na gestão atual, que estão em cooperação técnica desde 2021.

A primeira parte da obra de restauração do complexo Boothline vai fomentar o comércio no local e também resgatar uma parte da história do centro de Manaus. A obra teve a autorização e fiscalização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e tem acompanhamento do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), que entra em cooperação com a fundação e o órgão federal, formando uma trinca de sucesso.

Os primeiros passos contemplam serviços como a realização de limpeza das fachadas e porões, retirada de entulho, instalação de cobertura provisória para proteger as alvenarias remanescentes e colaborar com o travamento das estruturas, avaliação estrutural elaborada por responsável técnico, bem como o acompanhamento arqueológico. O diálogo entre as entidades e o apoio empreendedor da prefeitura foram fundamentais para que o projeto se tornasse realidade, já a partir de segunda, estando aberto ao público, com o funcionamento de uma feira de produtos regionais, sustentáveis, e de agricultura familiar da capital e do entorno.

“O Boothline é um exemplo de que é possível haver projetos bem-sucedidos dentro dos critérios de tombamento do centro histórico. É possível preservar, conservar, mas também garantir um desenvolvimento que gere renda para a população”, disse a superintendente do Iphan-AM, Beatriz Calheiro.

Para o diretor-presidente do Implurb, Carlos Valente, trata-se de um projeto simbólico e de grande importância histórica e patrimonial. “Relembro de um momento da minha vida como servidor público onde fiz estágio neste local, na Divisão de Controle Urbanístico, era 1978. Em 2021, celebramos o termo de cooperação técnica entre prefeitura, Doimo e o Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM), que terá uma sala muito simbólica para resgatar parte da história da corte de contas estadual. E, hoje, podemos ver este trabalho dando seus primeiros resultados. Começa a se formar uma feira que terá quase 800 permissionários cadastrados, que vão expor seus produtos à venda”, comentou Valente.

As amplas portas com pé direito alto estarão abertas dando acesso aos salões com os produtores, que vão trazer seus itens e matérias-primas direto da fonte, diariamente, das 8h às 17h, com frutas, legumes, gastronomia, artesanato e tudo o que a Amazônia tem de oferta, junto com extrativismo e agricultura.

Na frente do Boothline, há 120 vagas de estacionamento e no entorno, em um raio de 200 metros, somam-se 600 vagas para veículos, oferecendo comodidade, tranquilidade e segurança aos frequentadores.

“Isto é a prefeitura incentivando o empreendedor, novos e grandes negócios, que vão transformar este local, antes abandonado, em um Mercado de Origens. Aqui, o produtor agrega valor ao seu produto, que ele mesmo comercializa e é beneficiário. Apresentando a Amazônia, disseminando nossos sabores, como tucumã, jambu, tucupi, pupunha, açaí, graviola, cupuaçu, farinha, tudo fresquinho e dentro das normas sanitárias. É um novo paradigma para a capital e sua história, neste prédio belíssimo. Tenho certeza absoluta que a Prefeitura de Manaus, incentivando este projeto, mostra que é possível investir no Centro”, disse o diretor do Implurb.

Proprietário

O imóvel que vai abrigar a feira e está sendo revitalizado foi adquirido há 14 anos pelo proprietário, Elias Tergilene, que está atuando diretamente na cidade para inaugurar a ação e coordenar as obras de restauro do empreendimento.

“O pessoal está pronto para a abertura e estaremos esperando o público. Segunda é dia de feira. Resolvemos lançar, inicialmente, esta operação, porque é uma obra imensa, que será inaugurada em etapas. Será o maior Mercado de Origens do país, hoje. O de São Paulo tem 12 mil metros, o de Minas Gerais tem 20 mil, e aqui teremos 30 mil.

Compramos o imóvel há 14 anos e só retomamos o projeto agora, nesta gestão, que assinou cooperação e trouxe o Iphan para fechar a parceria para colocar este patrimônio histórico de pé, novamente. É uma obra imensa e desconheço outro restauro tão grande acontecendo no Brasil neste momento”, frisou Elias.

Os investimentos da fundação e empresa serão da ordem de R$ 150 milhões, com prazo de construção em 24 meses. “A ideia é realizar ainda uma troca de experiências, trazer fóruns de gastronomia, de bebidas, como a cachaça, do café, do queijo, sendo realizados aqui. Têm produtores mineiros muito interessados em vir para o Amazonas, com seus produtos, e outros com interesse nos queijos regionais, inclusive produtos premiados nacionalmente”, ressaltou Elias, ao garantir que a fachada do complexo será preservada.

Para Carlos Valente, ter a primeira operação em funcionamento é o reflexo do que é uma gestão de compromisso com a cidade. “Manaus fez 355 anos e este empreendimento é mais um presente para a cidade. E que a gente possa trabalhar ainda mais pela reabilitação do ‘Nosso Centro’, e isso a gestão está fazendo ao inaugurar o mirante Lúcia Almeida, o largo de São Vicente, o casarão Thiago de Mello, o píer turístico Manaus 355 e o Skyglass do mirante. São todas obras da prefeitura”.

História

O denominado complexo Boothline trata-se das ruínas de um conjunto arquitetônico eclético de edificações comerciais e institucionais construídas na virada do século 19 para o século 20, durante o apogeu do ciclo econômico da borracha no Amazonas. O conjunto abrigou a sede de companhias de transporte (navegação e bondes), dentre elas a empresa Boothline, sede do Tribunal de Contas do Estado, além de lojas, bares e restaurantes.

Os serviços de limpeza e retirada de entulho recuperam os antigos porões das edificações, áreas conectadas com usos a serem identificados a partir do aprofundamento da pesquisa histórica e levantamento arquitetônico. O local funcionou ativamente até a década de 1980 e ficou abandonado desde então, se transformando em ruínas.

“É importante a requalificação dessa área, é um lugar da história, da memória, da identidade, da formação da nossa cidade, um lugar onde a nossa população se organiza, seja para acessar outros municípios, seja para acessar os seus lugares de compra, onde ela consegue também vir aos seus serviços, antes era tudo concentrado aqui. E principalmente as pessoas conhecerem para ver que aquilo que a gente tem na nossa cidade tem valor”, afirmou a superintendente do Iphan.

Artigo anteriorBois-bumbás Brilhante e Garanhão e itens oficiais do Garantido agitam segunda e última noite do ‘Boi Manaus 2024’ no sambódromo