Enquanto o Brasil anda a passos lentos para imunizar a população contra a Covid-19, alguns países, como Israel, correm contra o tempo a fim de aplicar as doses necessárias da vacina o mais rapidamente possível. Por lá, pelo menos 4 milhões de pessoas (47,66% da população) receberam, até quarta-feira (17/2), a primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech, e 2,9 milhões (31,81%) já haviam tomado a segunda.
Nos Estados Unidos os números não estão tão avançados – a população americana é 35 vezes maior do que a de Israel –, mas o país está em primeiro lugar no ranking de imunizantes aplicados: até agora, foram 56,28 milhões, resultando em 12,04% dos americanos imunizados com uma dose e 4,63%, com duas.
As informações fazem parte do levantamento do (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, com base nos balanços divulgados pelo Our World in Data, plataforma da Universidade de Oxford que reúne informações de todo o mundo sobre o avanço da pandemia.
Apesar de especialistas afirmarem que ainda é cedo para analisar os impactos da vacina no mundo, resultados começaram a aparecer nesses países algumas semanas depois do início das campanhas de imunização.
Os dois exemplos são díspares. Enquanto ambas as nações tiveram diminuição de casos após terem dado início a campanhas de imunização, o país norte-americano, que tem dimensão continental, não adotou um lockdown nacional. Por outro lado, Israel reforçou o processo de vacinação mas também fechou o comércio do país em momentos críticos.
Em Israel, por exemplo, houve queda na quantidade de casos de Covid-19, especialmente entre pessoas mais velhas, os primeiros na fila da vacina. De acordo com dados do Instituto de Ciência Weizmann, da Universidade de Tel-Aviv, desde o pico da terceira onda, em janeiro, houve redução de 38% nos casos de pacientes em estado grave e de 40% nas mortes entre a população com mais de 60 anos. A porcentagem de idosos hospitalizados diminuiu 58% e o número de internações, em geral, é 44% menor.
“Aconteceu! Nossa projeção de queda no número relativo de pessoas com mais de 60 anos em situação grave aconteceu. Começou 10 dias depois do que projetamos, mas aconteceu e continua a cair”, escreveu, no Twitter, Eran Segal, um dos cientistas do instituto.
Também pelo Twitter, o doutor em virologia Atila Iamarino, que virou referência no assunto, comemorou o resultado. “Israel confirmando a queda crescente de casos graves entre pessoas com mais de 60 anos. Foi com spray milagroso? Não. Foi com tratamento precoce? Não. Foi ‘imunização natural’? Não. Foi com lockdown e vacinas. Isso é o que funciona”, disse.
E mais: um estudo da Organização de Manutenção da Saúde Clalit, principal seguradora de saúde de Israel, mostrou que o imunizante da Pfizer/BioNTech reduziu em 94% o número de infecções sintomáticas por Covid-19 entre 600 mil pessoas que receberam as duas doses.
Nos registros diários de novos infectados, também é possível acompanhar os efeitos positivos. Em 17 de janeiro, foram identificados 6 mil novos casos entre pessoas acima de 60 anos. Um mês depois, a taxa caiu para 1,7 mil. Levando em consideração toda a população israelense, a queda também foi acentuada, de 8,2 mil para 4,3 mil. Nos EUA, a tendência foi a mesma. Em 30 dias, o número de infectados caiu 63,2%, saindo de 217,7 mil para 80 mil.
O número de casos, no entanto, não deve ser o único indicador se a vacinação está, de fato, funcionando, já que são muitas as variáveis, como a quantidade de testes, lockdowns e faixa etária. Para um resultado mais preciso, é necessário um grupo de controle.
Na tentativa de avaliar a real eficácia da vacina, uma equipe de pesquisadores do Instituto Weizmann de Ciência e do Instituto de Tecnologia de Israel (Technion) estuda as novas taxas registradas no país do Oriente Médio.
Eles já identificaram números menores de infecções e hospitalizações tanto em pessoas com mais de 60 anos quanto nas cidades que vacinaram uma maior proporção de indivíduos mais cedo. A princípio, essas mudanças não foram tão intensas durante lockdowns anteriores, o que seria um sinal positivo da importância da vacina.
Para o diretor assistente da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, apesar do avanço das campanhas em alguns países, o impacto da vacina para conter a transmissão do vírus ainda “vai tardar”, já que há limitações na disponibilidade de vacinas.







