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Algumas crianças encaram o início do ano letivo com entusiasmo para reencontrar amigos e professores. Para as que precisam mudar de escola, o período pode ser desafiador e desconfortável. Além de todas as novidades que vêm com a nova série, elas também precisam se adaptar a um ambiente desconhecido.

Especialistas ouvidas pelo Metrópoles explicam que mudanças em geral fazem parte do processo de amadurecimento dos indivíduos e precisam ser experimentadas pelas crianças. Contudo, os pais devem estar atentos aos comportamentos dos filhos para entender até onde o desconforto com a troca de escola faz parte do processo natural de adaptação e quando ele passa a causar sofrimento.

“O ser humano não gosta de mudanças porque elas geram insegurança. O novo pode ser assustador para muita gente. De modo geral, buscamos a zona de conforto”, afirma a psicóloga Penélope Ximenes, especializada em análise comportamental e professora universitária em Brasília.

A psicóloga clínica e de saúde Deyse Sobral, que atende em Brasília, destaca que a troca de escola pode impactar a saúde mental das crianças e adolescentes, especialmente pela dimensão que o ambiente tem nessa fase da vida de um indivíduo.

“As transições para algo novo podem ser desafiadoras, além de acarretarem em apreensão, insegurança e dificuldades emocionais, mesmo se a mudança for potencialmente positiva”, explica Deyse.

A psicóloga destaca que o processo de mudança de escola pode ser mais complicado para crianças com dificuldade de aprendizado, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), ou transtorno do espectro autista (TEA).

“A dificuldade está associada tanto ao nível da condição de cada caso, quanto às circunstâncias da escola que irá receber o aluno”, afirma.

Vínculos sociais e desempenho escolar

Mudanças constantes podem prejudicar a criação de vínculos sociais, principalmente a partir da pré-adolescência. Nesta fase, em que as turmas já estão formadas, é mais difícil fazer novos vínculos de amizade.

“Quando a experiência é muito traumática, a criança pode se sentir isolada ou ter dificuldades para formar novas amizades, o que tende a levar a comportamentos mais introspectivos ou, ao contrário, desafiadores”, explica a psicopedagoga Andrea Nasciutti, assessora escolar de São Paulo.

De acordo com a especialista, a insegurança emocional muitas vezes compromete a capacidade de concentração e aprendizado. A adaptação às novas metodologias de ensino e expectativas podem gerar queda nas notas ou desinteresse do estudante.

Além disso, Deyse destaca que o estresse gerado pode impactar situações de diferentes naturezas — tanto pelas mudanças, quanto pela iminente quebra de laços sociais, podendo prejudicar a criança e repercutir em aspectos como:

  • Bem-estar;
  • Autoestima;
  • Sentimento de solidão:
  • Sentimento de impotência;
  • Fragilidade dos vínculos afetivos;
  • Dificuldades na criação de um núcleo de interação social sólido;
  • Capacidade de adaptação;
  • Repercussões no desempenho acadêmico, social e emocional;
  • Tristeza ou irritabilidade sem motivo aparente;
  • Diminuição na disponibilidade e interesse em ir às aulas com frequência;
  • Dificuldade na realização das tarefas escolares;
  • Eventuais distúrbio do sono;
  • Reclamações frequentes dos colegas de turma.

“Em casos mais graves, baixos níveis de autoestima podem estar associados à depressão e pensamentos de desistência em relação à vida”, considera Deyse.

Penélope aponta que pessoas que sofrem bullying e passam por situações difíceis tendem a dizer “não” à troca de escola no primeiro momento. Isso acontece porque, por mais que elas estejam em sofrimento naquele ambiente, sabem como lidar com a situação.

“A mente dessa criança vai colocar muitos empecilhos. Ela pode pensar ‘e se no outro lugar for pior?’. Então, de um modo geral, a resposta é sempre negativa, mesmo diante de uma situação de sofrimento”, conta a psicóloga.

Sinais de alerta

Sinais de estresse e insegurança são normais e esperados no início. Segundo a psicopedagoga Andrea Nasciutti, o estudante pode demonstrar apatia ou desânimo para ir à escola, irritabilidade ou maior sensibilidade emocional e diminuição no desempenho escolar.

Entretanto, é importante estar atento caso os comportamentos se prolonguem por muitos meses e a criança apresente isolamento social ou dificuldades em fazer amigos e/ou até mesmo queixas físicas frequentes, como dores de cabeça ou de estômago.

Nem toda mudança é negativa

As psicólogas esclarecem que tudo depende do contexto em que a troca de escola ocorre. A mudança pode ser uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento, elevando o nível de autoestima.

Quando a transição ocorre de maneira cuidadosa, ela pode levar ao estabelecimento de novos vínculos de amizade, aumento da autoestima, manutenção ou melhora do desempenho acadêmico e melhor controle emocional, segundo Deyse.

Como preparar a criança para a mudança

Os responsáveis devem seguir algumas estratégias como:

  • Dar um aviso prévio para a criança para que ela possa se preparar;
  • Ir até a escola nova antes do início das aulas para o reconhecimento do local;
  • Dar acolhimento e inclusão com diálogo e apoio para explicar o motivo da mudança.
  • Ter cuidado em relação à manutenção mínima dos vínculos de amizades, para que não haja o rompimento deles;
  • Promover um ambiente favorável ao diálogo, acolhimento, expressão e legitimação de sentimentos;
  • Explicar as razões da mudança e contemplar os aspectos positivos;
  • Procurar auxílio profissional quando necessário.

“Se esses cuidados forem tomados, não há o menor problema em trocar de escola. As mudanças fazem parte da vida e as crianças precisam aprender a lidar com isso”, pontua Penélope.

Com informações de Metrópoles

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