
Nas últimas semanas, o caso de duas irmãs gêmeas que teriam atuado juntas em homicídios nas regiões de São Paulo e Rio de Janeiro ganhou repercussão. Juntas, Ana Paula e Roberta Veloso Fernandes envenenaram quatro pessoas durante os períodos de janeiro e maio de 2025.
No entanto, a investigação começou apenas depois do dia 16 de abril, após um bolo ser suspostamente envenenado e deixado em uma sala de aula na Universidade de Guarulhos. O caso foi inicialmente tratado como uma ameaça isolada, porém ao longo da apuração foi revelado uma sequência de crimes marcados por manipulação e falsificação de provas por parte das irmãs.
Neste mesmo dia, a própria Ana Paula acionou a polícia, alegando ter encontrado um bolo acompanhado de um bilhete. Entretanto, a perícia, constatou que não havia substância tóxica no alimento.
Na sequência, uma mulher, identificada como Gislene Aparecida, relatou ter recebido, no dia 13 de abril, ameaças de morte de uma pessoa chamada “Mara”, que traziam o nome de Diego Sakaguchi Ferreira, identificando Cristiane Sakaguchi (sua esposa) como a autora do crime.
Ao serem ouvidos, Cristiane negou conhecer Gislene. A polícia também descobriu que o número usado para enviar ameaças estava cadastrado em nome de Maria Aparecida Rodrigues, mas operava nos mesmos aparelhos (IMEIs) de Ana Paula.
Diego Sakaguchi Ferreira confirmou que havia conhecido Ana Paula em março de 2025, por meio de aplicativo de relacionamento, e que o vínculo se limitou a encontros ocasionais.
No curso da apuração, Ana Paula Veloso Fernandes foi ouvida em interrogatório, com acompanhamento de advogado. Em seu depoimento, admitiu integralmente a autoria do episódio do bolo. Relatou que o preparou em sua residência, colocando no interior um produto químico de limpeza com odor forte, justamente para causar alarme de contaminação, embora afirmasse não ter colocado substância letal.
Ana Paula também confessou ter sido a autora das mensagens ameaçadoras enviadas a Gislene, utilizando o nome e a imagem de Cristiane, afirmando, inclusive, que iria matá-la com “chumbinho”, do mesmo modo que teria sido feito com “Mara”, e citando o nome do policial Diego Sakaguchi Ferreira.
Com relação ao episódio do bolo, Ana Paula será indiciada por denunciação caluniosa, bem como por ameaça e perseguição.
As quatro mortes
Marcelo Hari Fonseca foi a primeira vítima. Ele foi morto em janeiro de 2025, em Guarulhos. As irmãs passaram a morar com a ele e planejaram o assassinato para ficar com o imóvel. Ana Paula colocou drogas e venenos nos alimentos de Marcelo, enquanto Roberta dava suporte.
Ana Paula Veloso Fernandes fingiu ter “descoberto” o corpo, que, segundo consignado no chamado de emergência 190, acionou a Polícia Militar após perceber odor forte vindo do imóvel.
O relatório final aponta que os filhos de Roberta e Ana permaneceram por dias na residência onde o corpo de Marcelo se decompunha, sendo retirados apenas quando o odor já era insuportável.
Em reforço, a polícia localizou uma mídia gravada pela própria Ana Paula na qual ela ateia fogo ao sofá da sala. Com isso, a polícia concluiu que, pela conformação do imóvel e pelo odor perceptível externamente, é impossível a permanência de moradores nos fundos sem percepção imediata do quadro.
Durante o interrogatório, Roberta apresentou versões incongruentes sobre o caso. Além disso, no dia subsequente ao encontro do corpo, a casa foi vista trancada com cadeado e, dias depois, familiares presenciaram Ana Paula queimando pertences do falecido em via pública, inclusive o sofá onde o corpo fora localizado.
Maria Aparecida Rodrigues foi a segunda morte por envenenamento, ocorrida em 11 de abril. Ana Paula envenenou a vítima como forma de vingança contra um policial, tentando incriminá-lo pelo crime. Roberta esteve presente durante o último contato alimentar da mulher.
Inicialmente, a morte foi registrada como natural. Com as investigações, a partir de mensagens e da oitiva de Roberta Cristina Veloso Fernandes, irmã gêmea de Ana Paula, a polícia soube que Maria esteve na casa que dividia com Ana Paula e ingeriu bolo e café na presença das duas e de Renata.
Com o conjunto probatório, concluiu-se que a morte não ocorreu por causas naturais.
Em relação a Neil Corrêa da Silva, morto em 26 de abril, Ana Paula colocou o mesmo veneno nos alimentos do idoso sob a promessa de uma recompensa, provocando sua morte. Roberta participou do planejamento do crime, discutiu detalhes da execução e orientou a irmã sobre como agir para evitar rastros que pudessem incriminá-las.
Neil foi morto após ingerir uma feijoada envenenada.
A investigação policial apontou que Michele Paiva da Silva, filha de Neil, financiou a viagem de Ana Paula de Guarulhos para o Rio de Janeiro com o objetivo de executar o pai.
Ana Paula confessou ter usado o alimento para administrar o veneno, mencionando que a vítima comeu apenas “duas colheres” do prato.
A última morte foi a de Hayder Mhazres, que ocorreu em maio de 2025. Ana Paula conheceu a vítima e afirmou estar grávida dele. Por conta disso, manifestou desejo de se casar, o que foi recusado inicialmente. Sendo assim, com o objetivo de conseguir recursos financeiros, envenenou também os alimentos de seu novo namorado.
De acordo com o relatório da polícia, o caso apresenta marcadores fáticos que se alinham ao padrão já observado nos demais casos: aproximação dirigida, manipulação da narrativa, prestação de informações falsas às autoridades e morte súbita em contexto de convivência direta com Ana Paula Veloso Fernandes.
Com informações de CNN Brasil.









