Dolphin Mini, o novo carro da BYD a ser vendido no Brasil — Foto: Autoesporte

Os montadoras instaladas no Brasil estão iniciando uma corrida para a produção de carros híbridos no país, inclusive com o uso do etanol (os chamados híbridos flex), combustível mais limpo, antes de partirem para a eletrificação pura. O movimento gera investimentos bilionários, que chegam a R$ 117 bilhões até 2030.

Trata-se de mudança de parâmetros global para reduzir as emissões de gás carbônico, e o Brasil embarca nesse movimento atraindo recursos com programas de incentivo ao setor, além de indicadores econômicos mais positivos.

Na quarta-feira, a Stellantis, dona das marcas Jeep, Fiat, Peugeot e Citroen, anunciou que vai desembolsar R$ 30 bilhões no período de 2025 a 2030 para lançar produtos, incluindo motores e carros, além de renovar o portfólio atual, incluindo a produção nacional de seus primeiros carros híbridos.

É o maior valor entre as montadoras que anunciaram investimentos recentes e o dobro do ciclo anterior da própria empresa.

Levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostra que os investimentos das montadoras no país somam R$ 117 bilhões. Trata-se do maior ciclo de aportes no país pelos fabricantes de veículos, incluindo as chinesas BYD e GWM.

Nessa conta, não estão incluídas as autopeças e grandes fornecedores, diz a Anfavea. A Stellantis classificou o montante como o maior investimento na história da indústria automotiva sul-americana.

Precisa da classe média

O anúncio foi feito em Brasília após encontro de executivos da empresa com o presidente Lula, incluindo Carlos Tavares, CEO global da montadora, que veio ao país especialmente para a divulgação do valor. Grande parte dos recursos será destinada aos modelos híbridos-flex (carros elétricos movidos também a gasolina e etanol), com o primeiro lançamento no segundo semestre deste ano.

A Stellantis produz em Betim (MG), Porto Real (RJ) e Goiana (PE) e o Polo Automotivo Stellantis de Betim é classificado como centro global da companhia no desenvolvimento da tecnologia Bio-Hybrid, de eletrificação combinada ao etanol.

A tecnologia é flexível e pode ser integrada a diversos modelos fabricados pela Stellantis, explicou a empresa. O ciclo anterior de investimentos da empresa, de R$ 16 bilhões, começou em 2018 e termina no fim deste ano.

Carlos Tavares destacou a importância de os produtos desenvolvidos serem acessíveis ao público brasileiro.

— Devemos entrar na mobilidade limpa pela janela da acessibilidade. Ou seja, se não for acessível, classe média não consegue comprar. Se a classe média não consegue comprar, não há volume, e sem volume, não há impacto no planeta. O plano prevê quatro novas plataformas, ou seja, bases de produção de diferentes modelos. Elas serão usadas para a produção de automóveis tanto híbridos, que combinam um motor elétrico com outro a combustão, como, no futuro, puramente elétricos.

O novo plano de investimentos prevê 40 lançamentos de 2025 a 2030 entre modelos renovados e totalmente novos, além de oito novos powertrains (conjunto que garante o movimento do veículo) e aplicações em eletrificação.

Os investimentos serão focados em carros híbridos, elétricos e movidos a hidrogênio verde, seguindo objetivo do Mobilidade Verde (Mover) do governo, que busca descarbonizar a frota.

Especialistas consultados pelo GLOBO apontam uma conjunção de fatores para esse ciclo recorde de aporte de recursos das montadoras no país, como os programas do governo para modernizar a indústria nacional e os incentivos tributários ao setor automotivo.

A pegada “limpa” do etanol brasileiro para veículos híbridos também ajuda, dizem os especialistas, assim como indicadores positivos da economia, como queda dos juros, câmbio estável e crescimento do país contribuem.

Para Milad Kalume Neto, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Jato do Brasil, consultoria especializada no setor automotivo, os programas do governo incentivaram os fabricantes.

O Mover concederá R$ 19,3 bilhões em créditos tributários ao setor até 2028 em troca de carros menos poluentes, além de induzir investimentos em pesquisa e desenvolvimento, tecnologias com foco ambiental e valorização da matriz energética de baixo carbono.

— Só dar desconto na venda de veículos, como fez o governo ano passado, para as montadoras desovarem estoques não deixa legado para a indústria. Esses programas de incentivo ajudam o país a desenvolver tecnologia aqui e mostrar o etanol, nesse cenário de descarbonização, como forma eficaz de reduzir emissões — analisa Kalume.

O professor Antonio Jorge Martins, coordenador dos cursos automotivos da FGV, diz que com veículos cada vez mais tecnológicos, as montadoras precisam fazer investimentos constantes para evitar a defasagem. E com incentivos tributários aproveitaram para anunciar ciclos mais longos de investimento (antes eram de dois anos e agora entre cinco e seis anos).

— Os chineses trouxeram ao país veículos cheios de tecnologia de ponta. E carros mais defasados, sem tanta conectividade ou recursos tecnológicos, tendem a não atrair o consumidor — diz Martins.

Força do etanol

O novo ciclo da indústria automotiva requer um investimento elevado, exatamente pela mudança drástica nos sistemas de propulsão, diz Murilo Briganti, sócio da consultoria Bright Consulting, especializada no setor automotivo:

— O futuro é inexoravelmente elétrico, mas o caminho até lá não. O Brasil tem um importante recurso que é o etanol, combustível limpo que promove descarbonização imediata da frota.

Para Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, os programas de incentivo do governo trazem previsibilidade para o investidor:

— Reformas como a Tributária e o Marco das Garantias são importantes, além do cenário econômico positivo, com crescimento do PIB, câmbio mais estável e queda dos juros, que proporcionam confiança aos investidores. Mas o Mover trouxe previsibilidade para que as empresas invistam em pesquisa, desenvolvimento e inovação local.

Ele observa que a volta gradual do Imposto de Importação para veículos elétricos e híbridos ajuda a atrair investimentos para a produção local desses veículos.

Outras empresas anunciaram volume bilionário de investimentos no país, como Volkswagen, General Motors, BYD, GWM, Toyota, Hyundai, Caoa, Renault e Nissan.

Veja a seguir os planos das principais montadoras no país

Ciclo de investimentos – Além da Stellantis, uma série de montadoras tem anunciado planos para colocar recursos no país. A maioria dos aportes é focada na produção de carros híbridos e na eletrificação. Veja os detalhes.

Toyota

  • Na terça-feira, a montadora japonesa anunciou R$ 11 bilhões em investimentos até 2030. Ela vai ampliar a produção em Sorocaba e fechar a unidade de Indaiatuba, em São Paulo.

Hyundai

  • A coreana anunciou R$ 5,5 bilhões até 2032 na sua fábrica de Piracicaba, em São Paulo, em tecnologia e hidrogênio verde.

Volkswagen

  • Montadora vai aplicar R$ 16 bilhões, dos quais R$ 9 bilhões em recursos novos até 2028. O foco é em eficiência energética com produção de carros híbridos no país. A previsão é que quatro novos modelos sejam fabricados no Brasil até 2028.

General Motors

  • Empresa anunciou R$ 7 bilhões em recursos no país até 2028. Investimentos serão usados na aceleração da mobilidade sustentável, com a renovação do portfólio de veículos e desenvolvimento de novas tecnologias, com foco em carros híbridos, elétricos e movidos a hidrogênio verde.

BYD

  • Montadora chinesa vai aplicar R$ 3 bilhões no país. Ela vai operar três fábricas no Complexo de Camaçari, na Bahia, que terá capacidade inicial de produzir 150 mil carros por ano e será a primeira fábrica de automóveis da empresa fora da Ásia.

GWM

  • A chinesa anunciou em meados do ano passado que vai investir R$ 10 bilhões em dez anos no país. Os recursos envolvem a compra da fábrica de Iracemápolis, no interior de São Paulo, e a criação de uma rede de concessionárias, além da contratação de profissionais especializados.

Caoa

  • A empresa divulgou investimentos de R$ 4,5 bilhões entre 2021 e 2027.

Renault

  • Empresa vai aplicar R$ 5,1 bilhões, entre 2021 e 2027.

Nissan

  • Empresa vai investir no país R$ 2,8 bilhões de 2023 até 2025.

Stellantis

  • Montadora vai investir R$ 30 bilhões até 2030. Serão lançados 40 produtos no período, como motores e carros, além de dar início à produção nacional de carros híbridos. É o maior valor já anunciado nesse ciclo de investimentos.

Com informações de O GLOBO

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