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Conhecida por décadas como um poderoso aliado na hipertrofia muscular, a creatina vem ganhando um novo status nos últimos anos: o de potencial “turbinador” do cérebro. Contudo, a ciência ainda divide opiniões sobre a real capacidade da substância de aprimorar o desempenho mental, apesar do entusiasmo crescente nas redes sociais e em alguns portais de saúde.

A mudança de foco surgiu da observação de que o cérebro, assim como os músculos, demanda energia rápida para funções como memória e raciocínio. “Se a creatina melhora a disponibilidade energética muscular, poderia ter impacto positivo também em situações de estresse cerebral, fadiga mental ou doenças neurológicas”, explica o nutrólogo Diogo Toledo, do Einstein Hospital Israelita.

Um estudo alemão de 2024, publicado na revista Scientific Reports, que mostrou uma modesta melhora cognitiva em voluntários privados de sono após uma dose única de creatina, acendeu o debate. No entanto, especialistas alertam que o estudo era pequeno, de curto prazo e realizado em condição extrema, sendo frequentemente supervalorizado.

Hype vs. Evidências

O nutricionista Igor Eckert, cofundador da Reviews, plataforma que analisa estudos científicos, ressalta que, embora existam receptores que permitem a chegada da creatina ao sistema nervoso central, transformá-la em uma “promessa de mente turbinada” é um exagero. Ele aponta que a discussão sobre o benefício cognitivo da creatina tem sido marcada por “viés de confirmação e relaxamento dos critérios de evidência”.

A creatina é produzida naturalmente pelo corpo e encontrada em alimentos como carnes e peixes. Ela atua como um “tampão energético”, liberando adenosina trifosfato (ATP) para repor a energia celular, especialmente em momentos de esforço intenso. Enquanto sua eficácia em aumentar força e resistência em exercícios físicos é amplamente comprovada – com ganhos médios de 5% a 15% em força muscular –, o efeito no cérebro ainda carece de evidências robustas.

Inconsistência nos Estudos Cerebrais

Pesquisas sobre o impacto da creatina na cognição têm mostrado resultados inconsistentes. Alguns estudos indicam pequenos ganhos em tarefas cognitivas de curta duração, principalmente em idosos e pessoas com privação de sono. Contudo, revisões críticas, como a de Eckert, apontam para a falta de uniformidade nos resultados e a dificuldade em interpretar o significado prático dessas melhorias.

Para doenças neurológicas como Parkinson, Huntington, ELA e esclerose múltipla, o cenário é ainda menos promissor. Grandes ensaios clínicos não demonstraram benefícios clínicos relevantes, e a comunidade científica já não discute seriamente seu uso para essas condições.

Segurança e Alertas

Em termos de segurança, a creatina é um dos suplementos mais estudados e considerados seguros, dentro das doses recomendadas. “Os estudos mais longos não mostraram efeitos tóxicos relevantes nos rins ou no fígado de pessoas saudáveis”, destaca Toledo. No entanto, indivíduos com doenças renais ou hepáticas devem ter avaliação médica.

Apesar da segurança, há incertezas sobre o uso contínuo por décadas e doses muito acima do padrão. Especialistas alertam para o risco de o entusiasmo exagerado levar pessoas com dificuldades cognitivas a buscar soluções rápidas e não comprovadas, em vez de investigar as causas reais de seus problemas.

Em suma, a creatina mantém seu status como suplemento esportivo de eficácia comprovada, mas como aliada do cérebro, ainda precisa de muito mais pesquisa para confirmar as promessas que circulam por aí.

Com informações de Metrópoles

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