A 11 rodadas do fim de La Liga, o Barcelona lidera com 15 pontos de vantagem para o rival e vice-líder Real Madrid. Com a vitória por 4 a 0 sobre o Elche, ontem, ficou ainda mais perto do seu 27º título espanhol, resultado de um projeto de renovação comandado por um de seus maiores ídolos, Xavi. Ainda assim, o clima no Camp Nou pesa mais para o inferno do que para o céu: o clube se vê envolvido numa bola de neve que envolve problemas financeiros e um escândalo na arbitragem do país, que pode manchar sua história e colocar até títulos conquistados em risco.

A volta de Joan Laporta à presidência do clube, em 2021, fez vir à tona um cenário financeiro caótico. Só naquele ano, a dívida global chegava a € 1,35 bilhão de euros (R$ 7,4 bilhões).

— Se fôssemos uma sociedade anônima desportiva, O Barça estaria em processo de dissolução. Em março, a situação era de quebra contábil — explicou Laporta, em outubro daquele ano.

Dois meses antes, Lionel Messi não renovou seu contrato e deixou o clube catalão depois de 21 anos — um sinal de que uma nova realidade se avizinhava. Os problemas financeiros comprometiam a operação dos blaugrans em várias frentes. No futebol, freavam os investimentos e faziam (como ainda fazem) o clube espanhol travar no fair play financeiro de La Liga, que define os gastos máximos com base em um cálculo entre receitas e despesas — no caso do Barça, fortemente desequilibrado para o lado das despesas.

Joan Laporta, presidente do Barcelona — Foto:  LLUIS GENE / AFP
Joan Laporta, presidente do Barcelona — Foto: LLUIS GENE / AFP

A solução imediata foi buscar uma captação de receitas imediatas de forma emergencial, que foram chamadas de “alavancas” na Espanha. Laporta emitiu títulos de dívidas e vendeu 25% dos direitos de transmissão televisa pelos próximos 25 anos ao fundo de investimentos americano Sixth Street Partners, além de 49% do Barcelona Studios, braço de conteúdo digital e multimídia, à Socios.com. Operações que renderam US$ 870 milhões (R$ 4,4 bilhões) aos cofres no ano passado. Com o patrocínio do Spotify (por três anos), entraram mais € 280 milhões (R$ 1,54 bilhão).

— O risco é que, lá na frente, esse dinheiro vai faltar. Em algum momento, o Barcelona vai olhar para suas receitas, comparar com as de adversários diretos e perceber que não tem uma fatia importante do que teria a receber. Isso só faz sentido se a receita crescer muito — explica o colunista do GLOBO Rodrigo Capelo. Como exemplo, ele explica que o clube precisa arrecadar mais que arrecadaria normalmente com os 75% dos direitos de transmissão a ponto de compensar a perda dos 25% e as manobras funcionarem.

Caso Negreira

Enquanto segue com o caldeirão financeiro fervendo, uma nova crise esportiva atingiu em cheio o Camp Nou. Uma série de pagamentos à uma empresa do ex-vice-presidente da comissão de arbitragem da Espanha, José María Enríquez Negreira, divulgada em fevereiro, tem ganhado ares de escândalo no futebol do país.

Segundo o site Football Leaks, que se notabilizou por vazar informações sigilosas, os pagamentos aconteceram entre as temporadas 2001/02 e 2017/18 — passando por gestões anteriores de Laporta — em valores anuais entre € 135 mil e € 598 mil (de R$ 743 mil a R$ 3,3 milhões). O Barcelona alega que são relativos a serviços de consultoria sobre arbitragem, mas as justificativas não foram suficientes para amenizar a situação.

Repórter de programa espanhol tenta entrevistar Negreira (à esquerda) — Foto: Reprodução
Repórter de programa espanhol tenta entrevistar Negreira (à esquerda) — Foto: Reprodução

Repórter de programa espanhol tenta entrevistar Negreira (à esquerda) — Foto: Reprodução

No dia 23, a Uefa decidiu abrir uma investigação. Uma semana antes, o Ministério Público de Barcelona levou o caso à Justiça.

—Eles não têm nada e querem ferir nossa reputação e honra. Temos 123 anos de valores, compromisso, responsabilidade, honestidade e fair play — afirmou Laporta em evento neste sábado. O clube prepara uma entrevista coletiva de esclarecimentos para o dia 12.

Gavi: Barcelona tem problemas para renovar com o meia  — Foto: LLUIS GENE / AFP
Gavi: Barcelona tem problemas para renovar com o meia — Foto: LLUIS GENE / AFP

Em campo, o Barça ainda lida com a possibilidade de perder Gavi de graça ainda em 2023, após negativa de renovação de contrato pela liga por conta do fair play — o jovem voltou a ganhar o salário que recebia na base e pode acionar uma cláusula solicitando sua liberação, como consequência. Ao mesmo tempo, a diretoria fala em tentar repatriar Messi. A estabilidade segue longe da Catalunha.

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