O debate sobre o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a ganhar força no Senado após a divulgação de uma denúncia envolvendo o ministro Alexandre de Moraes, que elevou de forma significativa o custo político para a contenção desses pedidos no Congresso Nacional. A análise foi publicada pelo Valor Econômico e se baseia em informações reveladas pela jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo.

De acordo com a reportagem, Moraes teria entrado em contato com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para interceder em favor do banqueiro Daniel Vorcaro durante a negociação frustrada de venda do Banco Master ao Banco Regional de Brasília (BRB). Vorcaro é cliente do escritório de advocacia de Viviane Barsi de Moraes, esposa do ministro do STF.

A gravidade do episódio, segundo a análise, reside no fato de que a suspeita afasta o debate do campo estritamente político-ideológico e o reposiciona no terreno da moralidade administrativa e do possível conflito de interesses. Diferentemente dos embates anteriores, em que Moraes era alvo de ataques do bolsonarismo em reação às investigações sobre tentativas de golpe de Estado entre 2021 e 2023, o novo episódio cria um flanco mais sensível para a defesa institucional do Supremo.

A reportagem ressalta que, caso confirmada, a conduta seria considerada imprópria independentemente do valor envolvido ou da natureza do contrato entre o escritório de advocacia e o banqueiro. Mesmo se o serviço fosse prestado de forma gratuita, a simples intercessão em favor de um cliente ligado à família do ministro levantaria questionamentos éticos relevantes. No entanto, conforme apuração anterior da própria Malu Gaspar, o contrato firmado teria valor de R$ 3,6 milhões, informação que não foi desmentida.

Esse novo contexto oferece à oposição a possibilidade de retomar pedidos de impeachment com um discurso centrado na moralidade pública, e não apenas na crítica às decisões do STF relacionadas aos atos golpistas. Trata-se de uma mudança relevante de enquadramento político, que amplia o alcance do debate para além da base bolsonarista e reduz a blindagem natural que o Supremo vinha obtendo a partir da forte polarização política no país.

Apesar disso, o Valor Econômico pondera que o impeachment de um ministro do STF continua sendo um cenário pouco provável no curto prazo. O banqueiro Daniel Vorcaro possui forte blindagem política, evidenciada pelo sigilo imposto às investigações pelo ministro Dias Toffoli em 3 de dezembro. Além disso, o fato de o Congresso Nacional estar em recesso contribui para arrefecer momentaneamente a temperatura do caso.

Ainda assim, a análise aponta que o episódio marca uma inflexão importante. Ao perder a polarização política como aliada automática, o Supremo passa a enfrentar um ambiente mais complexo no Congresso, no qual críticas e questionamentos tendem a ganhar maior ressonância institucional. Nesse cenário, a contenção de pedidos de impeachment contra ministros da Corte se torna politicamente mais custosa e menos previsível.

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