A deputada Silvia Waiãpi fez críticas e confrontou a ministra Marina Silva durante sessão da CPI das Ongs

Eleita deputada federal pelo Amapá nas eleições de 2022, a indígena Silvia Waiãpi, filiada ao PL, partido de Jair Bolsonaro, bombardeou, sem pena nem dó, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante sessão da CPI das ONGs, presidida pelo senador Plínio Valério.

A primeira mulher indígena a entrar para o Exército Brasileiro e ocupar o cargo de secretária de Saúde Indígena no governo do presidente Jair Bolsonaro, instigou Marina Silva, que participa da COP-28, na Árabes, a avisar à Europa e a todos os países do Mundo que ela faz cocô na água porque na comunidade Waiãpi não tem saneamento.

Com contundente aspereza, Silvia Waiãpi assevera que a falta de saneamento ocorre porque foi incutido aos indígenas a ideia de que eles têm que manter suas respectivas culturas, enquanto a ministra tem banheiro para as suas necessidades.

“Lá na minha terra nós fazemos cocô na natureza porque somos obrigados a manter a nossa cultura. Nós fazemos cocô na água e eu espero que a senhora conte isso pra eles. Tem que falar a verdade, que nós, povos, do norte queremos crescimento econômico, que nós queremos nos desenvolver”.

Segundo a deputada, Marina Silva os abandonou em nome de uma política de preservação de uma natureza enquanto o povo indígena morres de fome. 

“Sabe por quê? Por causa dos interesses internacionais”, acusa.

Natural da aldeia da etnia Wajãpi, no Amapá, Silvia foi adotada e registrada em Macapá quando era bem pequena. Kayne era seu nome de origem. A indígena se tornou mãe aos 13 anos, decidiu abandonar a aldeia e se mudar para o Rio de Janeiro, onde estudou e ingressou para o Exército.

Íntegra do discurso de Silvia Waiãpi

Avise à Europa e a todos os países do Mundo que eu faço cocô na água porque eu não tenho saneamento.

Sabe por que eu não tenho saneamento? Porque nos foi imputado de que nós temos que manter a nossa cultura enquanto a senhora vai no banheiro.

A senhora vai ao banheiro. Eu tive a oportunidade de ir ao banheiro aqui. E a melhor coisa ter dignidade para fazer suas necessidades.

E sabe o porquê? Lá na minha terra nos povos do Waiãpi. Nós fazemos cocô na natureza. Como eu já disse somos obrigados a manter a nossa cultura. Nós fazemos cocô na água. Nós fazemos cocô na água e eu espero que a senhora conte isso pra eles. A verdade.

E sabe por que nós não podemos fazer no chão ou cavar um buraquinho pra poder colocar as das fezes? Por que senão a onça sente o cheiro e ela vem nos comer. Mas sabe por que ela vem nos comer? Porque nós temos que viver em mil e quinhentos.

Nós não podemos Senador ter sequer uma arma pra nos defender. Porque nós somos obrigados a com arco e flecha. Domina quem domina.

Esta nação, este país começou a ser formado por pessoas que chegaram aqui dominando ciência e tecnologia. Dominavam a bússola, dominavam a arma de fogo, dominavam a navegação e com essa ciência e essa tecnologia nos subjugaram. Nos dominaram, nos mataram e nos segregaram.

Mas eu não posso viver no passado porque eu não posso mudar fatos históricos.

Realmente eu não posso.

Agora condenaram o povo a continuar em mil e quinhentos enquanto toda sociedade avança com o seu potencial tecnológico não seria nos manter alvo de uma nova colonização?

Então eu acho que tem que ser falado a verdade mesmo na COP 28 que nós povos do norte queremos crescimento econômico que nós queremos nos desenvolver.

Quer ver um exemplo?

Amazônia está entre os piores territórios no ranking de falta de saneamento. A Amazônia ela tem essa o norte brasileiro catorze por cento de saneamento contra o Sudeste, São Paulo, por exemplo, que a senhora representa oitenta e dois por cento.

Então, a senhora está fazendo suas necessidades fisiológicas melhor do que do norte.

Ah, mas a senhora é uma filha do norte.

Esses homens foram eleitos no norte brasileiro. Como a senhora também um dia foi eleita. Eu também fui.

Mas sabe o que que dói? Quando a um entendimento talvez jocoso sobre o fato da mão do senador estar bem nutrida. Em dizer pra ele que pela sua mão nota-se está gravado como a senhora mesmo disse a senhora virou as costas pra nós.

A senhora nos abandonou em nome de uma política de preservação de uma natureza enquanto nós morremos de fome.

Nós falamos em estrada, nós falamos em acesso, nós falamos em desenvolvimento econômico e é isso que vocês estão deixando pra absolutamente nada. Em nome de quem?

Ah! o aquecimento global. Nós precisamos controlar o aquecimento global.

Senhora ministra Marina Silva, nós queremos que o nosso povo coma de verdade. Que tenha dignidade, que possa tentar quando nós falamos sobre norte, sobre Roraima, Rondônia, sobre povos desenvolvidos.

Eu duvido, eu duvido que a senhora não goste de água gelada. Eu duvido que a senhora não goste de um bom arroz feijão mandioca também. Hoje no meu estado nem isso nós podemos ter.

Nem mandioca nós temos. Sabe por quê? Setenta e sete por cento do estado do Amapá está bloqueado em reservas. E aqueles lugares que não estão em reserva podem pesquisar por favor que nos assiste um promotor público um texto chamado cante que o Amapá te prende.

Sabe por quê? É em nome dos interesses internacionais o meu estado foi condenado.

E hoje por falar nisso nós não podemos requer explorar petróleo na Foz do Amazonas.

Ah! essa política não pode permitir que os povos do norte possam crescer economicamente.

Pra quê? Para ser independente? Por quê? Porque nós não podemos porque os povos do norte não podem se desenvolver economicamente como São Paulo que a senhora representa. Porque até para eu concorrer eu também tive que voltar para a minha terra porque não seria digno.

Com todo o conhecimento que eu tive eu aprendi no sul, no sudeste, maravilha, eu virar as costas para o meu povo e deixá-los à míngua ainda fazendo cocô no meio d’água ainda sem poder sequer ter luz elétrica.

Ah! porque eu sou obrigada a manter a minha cultura e a minha identidade. É tudo que nós temos. Sabe por quê? Porque é tudo que nos resta. Porque vocês não nos dão a oportunidade do desenvolvimento econômico. Mas tudo aquilo eu tenho eu que quero que o meu povo tenha: dignidade!

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