O deputado estadual Dermilson Chagas, em entrevista ao Fato Amazônico, fez revelações surpreendentes a respeito de sua ida para o Partido Democrático Trabalhista (PDT). O parlamentar disse, que foi para o partido porque tinha como referência o senador Jefferson Peres, em quem via a ética, educação e o trabalho. Mas, enquanto no senador que morreu, em maio de 2008, ele via tudo, com a entrada de Amazonino Mendes, ele disse que PDT perdeu sua identidade. Afirmou que o ex-governador tinha um alto índice de rejeição e o PDT sequer conseguiu fortalecer a bancada de vereadores na Câmara Municipal de Manaus. O único representante do PDT na Assembleia Legislativa do Estado, também disparou contra o contra o presidente regional do PDT, Stones Machado, que foi quem o levou para a sigla. Disse ainda, que o problema começou quando recebeu na Superintendência denúncias trabalhistas contra a empresa de Stones Machado. "Como não fiscalizar só porque o dono era presidente do meu partido? A função pública correta não permite decisões pautadas pelas relações de amizade e sim pelas exigências do dever a ser cumprido", disparou.

Veja a entrevista completa a baixo.

Fato Amazônico – O senhor sempre foi filiado ao PDT?

Dermilson – Foi o único partido que eu me filiei foi o PDT.

Fato Amazônico – Por que o senhor escolheu o PDT?

Dermilson – Na época, a referência era o senador Jefferson Peres. Havia em torno dele toda uma pauta e inspiração para os mais jovens sobre ética, educação e trabalhismo. Nós acompanhávamos ele em tudo, nas reuniões do partido, nas matérias dos jornais. A conduta e os exemplos dele ainda são uma referência muito forte. O senador sempre foi muito acessível à juventude do PDT.

Fato Amazônico – Há algum episódio, em especial, da convivência com o senador que o senhor lembre?

Dermilson – Ele veio do PSDB para o PDT. Na época, teve uma eleição para diretoria. E foi uma confusão com o Filizola, que queria se manter no partido. Para garantir que o resultado da eleição interna fosse assegurado, tive que levar escondido o livro de assinatura para a minha casa. Naquele momento, foi a opção que tivemos para evitar a fraude na representação que queríamos no partido, que era a do senador Jefferson Peres.

Fato Amazônico – Como foi seu crescimento dentro do partido?

Dermilson – No Diretório Estadual houve uma convivência com o atual presidente da sigla Stones Machado. Ele me apresentou para as pessoas do comando nacional e fui melhorando o relacionamento. Desde 2007, estou no Diretório Nacional.

Fato Amazônico – Depois da morte do Jefferson Peres, teve uma mudança muito grande no PDT?

Dermilson – A mudança foi significativa. Não perdemos apenas uma representatividade nacional, tivemos uma perda de linha de política, da conduta, da ética e moralidade também nas decisões políticas e de alianças. De lá para cá, o partido apenas sobrevive. Você vê isso pelo número de filiados no interior. O PDT está deixando de fazer política para fazer acordos duvidosos, o partido só atrofiou no Amazonas.

Fato Amazônico – Quantos filiados no interior?

Dermilson – Muito poucos. Há municípios com 50 pessoas para se ter uma ideia. Isso é vergonhoso e incompreensível, para um partido que é o sexto maior da república. O PDT se comporta como se fosse um nanico. Tanto é que passamos 16 anos sem deputado estadual. O partido, na realidade, aqui, com o Stones, nunca teve habilidade para sentar e fazer uma participação política eficiente. Nunca teve uma articulação forte para poder ver a situação do antes e depois de uma eleição. E esse sempre foi o meu questionamento de direção política do PDT com o Stones.

Fato Amazônico – A entrada de Amazonino Mendes na sigla foi uma tentativa de criar uma nova identidade?

Dermilson – O PDT perdeu sua identidade. Essa filiação foi uma fuga do Amazonino que estava sem espaço no PTB.

Fato Amazônico – Foi bom para o PDT? Como o senhor avalia essa passagem?

Dermilson – Com o Amazonino doente e com alto índice de rejeição, o PDT sequer conseguiu fortalecer a bancada de vereadores na Câmara Municipal de Manaus. O PDT não teve chance de nenhuma participação na gestão Amazonino na Prefeitura.

Fato Amazônico – Por que o senhor decidiu se lançar candidato, em 2010?

Dermilson – A categoria da Pesca sofria muito e havia um trabalho na Superintendência do Trabalho sério, que fez com que eles me procurassem e pedissem a minha candidatura. Observei que a vontade deles, em cada município era verdadeira. Essa observação me encorajou a formar um projeto político por essa parcela da população, que é enganada e mal representada. Só que, na época, infelizmente o partido não apoiou. Se tivesse recebido um pouquinho de apoio teria entrado. Recebi 11.100 votos.

Fato Amazônico – Foi nesse momento que iniciou essa dificuldade de relação do senhor com a atual direção regional da sigla?

Dermilson – Não. O problema começou quando eu recebi na Superintendência denúncias trabalhistas da empresa do presidente do PDT no Amazonas, Stones Machado. Fomos fazer fiscalização lá porque haviam muitos acidentes. Os trabalhadores chegavam lá na superintendência e eu tinha o dever de mandar fiscalizar. Como não fiscalizar, só porque o dono era presidente do meu partido? A função pública correta não permite decisões pautadas pelas relações de amizade e sim pelas exigências do dever a ser cumprido.

Fato Amazônico – Nas eleições de 2014, o senhor sentiu no partido o reflexo dessa postura?

Dermilson – Os pescadores reuniram de novo e pediram que eu saísse candidato. Mas o partido aqui no Amazonas não só ficou alheio à minha candidatura como criou barreiras. Meu primo conhecia uma funcionária da produtora da propaganda partidária e me mostrou um recado anotado de não rodar nenhum material meu que chegasse para TV. Eu fui ao ar uma única vez porque esse mesmo primo e amiga trocaram de propósito o meu nome na capa do CD pelo do Gilmar Nascimento (vereador pelo PDT em Manaus). Foi assim que eu apareci, por engano, uma única vez. Entrei na justiça pra garantir meu direito, mas não foi julgado antes do fim da eleição. No entanto, a vontade da população que queria me ver no parlamento representando-os, foi mais forte.

Fato Amazônico – Na época em que o senhor foi superintendente, o então Ministro do Trabalho e atual presidente do PDT, Carlos Lupi, chegou a dizer que o senhor era o melhor superintendente que ele tinha?

Dermilson – Na época, ele me elogiava em todo Brasil, nas reuniões dos superintendentes. Até na reunião do partido, ele comentava que gostava das reclamações que chegavam e dizia, que o resultado do nosso trabalho era visto por ele lá por meio dessas ações. No Amazonas, por meio da Superintendência, conseguimos comprovar e combater o trabalho escravo nas comunidades rurais do interior. A primeira ação foi em Barreirinha e vieram várias depois dessa porque com o trabalho aparecendo, as denúncias aumentaram. As pessoas passaram a acreditar no trabalho. Foi uma época muito intensa de trabalho, mas muito gratificante, porque conseguimos tirar as pessoas dessa condição de escravidão.

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