Não existe vida humana sem problemas, sem dificuldades, seja aqui na Amazônia ou em qualquer parte do mundo. A vida humana é marcada essencialmente pelos problemas, sejam eles físicos, espirituais, morais, econômicos ou sociais. Os problemas fazem parte da vida. O que não deve fazer parte da vida é deixar-se levar por eles! Dessa forma, perguntamos: o que seria da nossa vida sem os problemas? Certamente não seríamos humanos, não é mesmo?
Desde o nascimento até a nossa morte passamos por muitos e diferentes problemas. Para alguns, o problema pode ser à aceitação do próprio corpo, o cabelo, a pele, a religião, a situação econômica e social em que vive. Ninguém está livre dos problemas. O que não pode acontecer e deixarmo-nos aprisionar pelos problemas. Diante de tantas dificuldades, como viver à vida e ser feliz?
Tomás de Aquino, filósofo cristão da Idade Média, homem de inteligência admirável, ensinava: “Concentra teu pensamento nos preceitos de Deus, sê assíduo à meditação de seus mandamentos. Ele próprio te dará um coração e ser-te-á concedida a sabedoria que desejas”. Dessa forma, para Tomás de Aquino, bastava o ser humano seguir os mandamentos da Lei de Deus que ele alcançaria a salvação e seria feliz.
A vida humana é marcada definitivamente pelos problemas. Quando nascemos já enfrentamos uma porção deles: em primeiro lugar, não queremos largar o porto seguro do ventre materno; depois, temos dificuldades para respirar, para abrir os olhos, e uma série de problemas. A adaptação do bebê ao mundo é uma questão de vida ou de morte, uma questão de sobrevivência.
A essência da vida é a superação dos problemas existenciais. Ninguém é feliz nessa vida se não desenvolver a capacidade de resolver os problemas sem se desesperar. A esperança é a virtude dos nobres. A esperança conduz o ser humano à felicidade. Ou seja, à diferença essencial entre o ser humano vitorioso e o fracassado é que esse último deixa-se emergir nos problemas. O homem comum, diante das dificuldades da vida, perde a esperança.
Devemos pensar que os problemas que aparecem em nossa vida são oportunidades para o nosso crescimento. Muitas vezes eles nos machucam sim, mas eles também nos ensinam. As pessoas que aprendem com os próprios erros constroem a verdadeira felicidade, e é diante das dificuldades da vida que se forma o caráter de um homem. O homem nobre aprende com os próprios erros!
Por isso pensamos que, mais do que matemática, regras gramáticas, a escola de hoje precisa ensinar a criança, o adolescente, o jovem, a viver, como cantou Roberto Carlos: “Quem espera que a vida. Seja feita de ilusão. Pode até ficar maluco. Ou morrer na solidão. É preciso ter cuidado. Pra mais tarde não sofrer. É preciso saber viver”.
Portanto, os problemas pessoais, profissionais, econômicos, sociais não podem ser mais importantes do que a própria vida.
Em suma, se me fosse dada a oportunidade de resumir à vida humana numa frase eu diria que ela é “uma jornada de resolver problemas”. Quando o ser humano aprende a resolver os seus problemas pessoais ele passa a ver o mundo com outros olhos, distanciando-se dos outros animais e tornando-se feliz.
É na resolução dos problemas que as crianças, os adolescentes e os jovens decidem sobre que caminho seguir na vida, se serão pessoas vitoriosas, honradas ou se serão pessoas inescrupulosas, sem caráter. Pais, professores, educadores, devem ensinar as crianças, os adolescentes, os jovens a viver e não apenas a fazer. O mundo contemporâneo é marcado pelo verbo fazer.
Assim, a sociedade atual faz muito. Vivemos o imperativo da ação. Estamos sempre ocupados, fazendo alguma coisa. Quase não temos tempo para uma boa ação, para visitar um amigo hospitalizado ou aquele parente que há anos não vejo. Ao contrário, precisamos fazer menos e pensar mais. Precisamos pensar mais sobre nossas ações, precisamos fazer menos e viver mais. É possível resolver tal equação?
Por fim, e não menos importante, pensamos que à saída para a maioria dos problemas encontra-se na alma humana. O autoconhecimento é uma fonte de luz, uma imagem positiva de si mesmo, amor próprio. Enfim, somente quando equilibrarmos o nosso pensamento com nossas ações estaremos preparados para viver à vida plena, autêntica e feliz.
Por Luís Carlos Lemos da Silva
Professor universitário, filósofo e palestrante. Autor dos livros: “O primeiro olhar – A filosofia em lendas amazônicas” e “Jesus e Ajuricaba na terra das amazonas – Histórias do universo amazônico”. E-mail: [email protected]