A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada recentemente pelo Instituto Pró-Livro (IPL), revela que o número de leitores que identificam a escola como ambiente de leitura caiu de 23% para 19% nos últimos quatro anos. Essa redução acende um alerta sobre a necessidade de intensificar políticas e estratégias eficazes para estimular o hábito da leitura entre os estudantes, além de evidenciar a necessidade de formar professores leitores capazes de promover essa prática.
A pesquisa, realizada a cada quatro anos, revelou uma queda contínua no número de leitores que associam a escola ao hábito de leitura. Em 2007, 35% dos entrevistados mencionavam o espaço escolar como o local onde costumavam ler livros. Esse índice caiu para 33% em 2011, para 25% em 2015 e, em 2024, atingiu o pior registro da série histórica. A maioria dos leitores, 85%, aponta a própria casa como o principal local de leitura. O levantamento, conduzido pelo Instituto Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), ouviu 5.504 pessoas em visitas domiciliares realizadas em 208 municípios.
Os dados revelam ainda que a influência da escola na indicação de livros para leitura tem diminuído progressivamente. Apenas 4% dos entrevistados afirmaram estar lendo um livro recomendado pela escola, um índice que já foi de 25% em 2011 e caiu para 10% nas edições anteriores da pesquisa, realizadas em 2015 e 2019.
Docência x literatura
Para enfrentar o desafio de aumentar o número de leitores no Brasil — que teve uma redução de 6,7 milhões entre as edições de 2019 e 2024 da pesquisa — e fazer da escola uma referência novamente, é essencial investir em ações que estimulem a leitura entre os professores. “É preciso ações e políticas públicas que garantam aos docentes não apenas o acesso ao livro, mas também a formação continuada e o incentivo à leitura como atividade de lazer e entretenimento. É fundamental mostrar a esses profissionais que a literatura poderá impactar o modo de funcionamento da sua própria vida, ampliando seus horizontes e enriquecendo sua visão de mundo”, afirma Malu Carvalho, pedagoga e especialista em leitura do Grupo Eureka.
A especialista ressalta a importância das formações continuadas para os professores, destacando que a leitura literária vai além das disciplinas específicas, oferecendo uma abordagem interdisciplinar que amplia perspectivas e promove novas visões de mundo. Malu Carvalho também enfatiza a necessidade de disponibilizar materiais que orientem os docentes a incorporarem experiências literárias em sala de aula. “É fundamental fornecer ferramentas que permitam aos educadores expandir seu repertório de trabalho e diversificar suas estratégias de mediação e incentivo à leitura”, explica.
Atividades literárias
No Rio de Janeiro, o Grupo Eureka, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado (Seeduc-RJ), lançou o Guia de Experiências Literárias para estudantes da rede pública. A publicação detalha as obras literárias adotadas nas escolas e sua conexão com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Além disso, aborda conceitos fundamentais de mediação e incentivo à leitura, orientando como organizar itinerários literários, desenvolver fichas de atividades e promover experiências que estimulem o engajamento dos estudantes com a literatura.
Confira as principais experiências literárias para a sala de aula:
Mediação de leitura
Envolve a atuação de um mediador, responsável por potencializar o acesso ao texto, ampliar as possibilidades de interpretação e contextualizar a obra para os leitores. Esse mediador pode ser um professor, bibliotecário ou qualquer pessoa que desempenhe o papel de orientar o processo de leitura.
Mobilização de leitura
Refere-se a iniciativas e estratégias voltadas a estimular o hábito da leitura, criando ambientes favoráveis e motivadores que incentivem as pessoas a lerem mais. Trata-se de uma forma de promoção da leitura que busca tornar essa prática mais acessível e envolvente. Exemplos:
- Clubes de leitura: criação de grupos nos quais estudantes e adultos se reúnem para discutir livros selecionados, explorando temas complexos e contemporâneos, promovendo o diálogo e a troca de ideias;
- Leitura compartilhada em bibliotecas: atividades que incentivam membros da comunidade a se reunirem para ler e debater textos de interesse comum, fortalecendo a inclusão social e o engajamento coletivo;
- Slam Literário: Competições de poesia oral em que os participantes apresentam seus poemas de maneira intensa e expressiva, priorizando a performance e a conexão com o público;
- Sarau: Eventos que reúnem músicos, poetas e artistas para compartilhar suas obras e performances, criando um ambiente de celebração artística e intercâmbio cultural.